O fim anunciado do Vestibular
O Ministério da Educação (MEC) anunciou há algumas semanas atrás uma nova proposta para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que substituiria o vestibular. Cada universidade, pública ou privada é que vai decidir sobre a manutenção do tradicional processo de seleção ou a adoção do novo modelo. Mas a tendência é de mudança geral.
Por esta nova proposta, a nova seleção ficaria a meio caminho do vestibular, onde é cobrado um excesso de conteúdo dos candidatos e o atual ENEM, que, de forma contrária, cobra pouco conhecimento dos interessados em uma vaga no curso superior. O exame seria mais exuto do que o atual vestibular e menos voltado para a memorização, testando mais a capacidade de solucionar problemas da vida real do que o conhecimento acumulado. Por outro lado, o exame passaria a ter 200 questões de múltipla escolha e uma redação e seria aplicado em dois dias, ao contrário do ENEM atual, que tem 63 questões e uma redação e é aplicado em apenas um dia.
No novo formato, as questões seriam divididas em quatro grupos: linguagens (incluindo português, inglês e a redação), matemática, ciências humanas e ciências da natureza. No entanto, como a maior parte das universidades aplica vestibular duas vezes por ano, não se descarta a possibilidade de o “novo ENEM”, como vem sendo chamado, também ser aplicado mais de uma vez no ano.
Outra mudança importante é que a prova será unificada. Isso significa que, com uma única nota, os alunos poderão tentar o ingresso em mais de uma faculdade. O modelo seria usado como uma espécie de “pesca” por parte do estudante, que poderia escolher a universidade onde deseja estudar, de acordo com a nota que obtiver na prova.
Estamos às vésperas de uma verdadeira revolução. A angústia daqueles que se preparam aumenta pelas dúvidas com relação ao próximo processo seletivo. Muitos comemoram a mudança, pois alegam que o atual modelo coloca em jogo em apenas um dia toda uma preparação de, no mínimo, três anos de estudo. A carga de conteúdo e o estress dos candidatos é altíssimo. Olhando por este prisma, a mudança é benéfica.
Entretanto, estatísticas mostram que, na grande maioria dos casos, conseguem as melhores vagas aqueles candidatos mais capacitados e mais bem preparados. E isto, muito provavelmente, não vai mudar.
Este Blog foi concebido para que sejam publicadas as colunas mensais de nome "Filosofia & Cia", escritas para o Jornal Cultural "Conhece-te a ti mesmo", as colunas mensais "Gestão e Liderança" escritas para a Revista Ideia e a coluna semanal "Falando de Educação", do Jornal Expressão Regional, todas publicações veiculadas na cidade de Conselheiro Lafaiete - MG.
sábado, 25 de abril de 2009
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Coluna "Falando de Educação" do Jornal Expressão Regional
No Sábado, 25 de Abril de 2009, será publicada a primeira coluna denominada "Falando de Educação" no Jornal semanal "Expressão Regional", que circula todo sábado em Conselheiro Lafaiete e em toda a região do Alto do Paraopeba.
Todos estão convidados a acompanhar, semanalmente, as publicações e interagir com o autor através deste blog.
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quarta-feira, 22 de abril de 2009
Filosofia & Cia - Número 4 - Abril de 2009
Aristóteles e a ciência no Brasil
Um pouco de história: De todos os grandes pensadores da Grécia antiga, Aristóteles (384-322 a.C) foi o que mais influenciou a civilização ocidental. Até hoje, o modo de pensar e produzir conhecimento deve muito ao filósofo, que foi o fundador da ciência que ficaria conhecida como lógica. Aristóteles toma sempre o fato como ponto de partida de suas teorias, buscando na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas especulações. Depois de estudar as leis do pensamento, aplica o processo dedutivo e indutivo com rara habilidade, criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode-se considerar como o autor da metodologia e tecnologia científicas, o que lhe dá o título de verdadeiro fundador da ciência moderna.
De volta ao século XXI: Trago agora para você, leitor, alguns números interessantes que vão servir de base para a nossa reflexão. Enquanto nos EUA há 800 mil cientistas e engenheiros fazendo pesquisa e desenvolvimento em empresas, na Coreia do Sul há 75 mil, e no Brasil há menos de 10 mil. O resultado é que os EUA registram algo em torno de 50.000 patentes ao ano, sendo uma boa parte delas registrada pela iniciativa privada. A Coréia registra algo em torno de 1.500 patentes e o Brasil apenas 56. Além disso, em nosso país, algo em torno de 25% dos mestres e doutores trabalha em áreas produtivas como prestação de serviços, comércio e indústrias, sendo que o restante, ou seja, 75% destas cabeças, está alocada nas universidades, em sua grande maioria nas entidades públicas. Vocês sabiam que em países mais avançados de primeiro mundo, este índice é exatamente o oposto do brasileiro? É verdade. Apenas 25% dos engenheiros e cientistas, mestres, doutores e Phd’s daqueles países continuam dentro das universidades transmitindo o saber às novas gerações. A grande parte, os tais outros 75%, trabalha em setores produtivos da economia, principalmente nas indústrias.
Reflexão: Como vocês já devem estar imaginando, o fato de existir um grande número de cabeças privilegiadas trabalhando em setores produtivos proporciona aos países mais desenvolvidos a criatividade e a inovação necessárias à criação de novos produtos e novos processos de produção. Isto faz com que estes países evoluam e se tornem cada vez mais ricos, vendendo suas invenções e inovações a países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo. Este processo está sendo chamado mundialmente de “Economia do Conhecimento”, e vem mudando a forma de vida de uma sociedade agora chamada “Sociedade da Informação e do Conhecimento”, que já foi comentada em uma de nossas colunas anteriores. Como grande parte de nossas empresas quase não empregam mão de obra mais especializada, por serem consideradas “caras“ demais, seria importante uma política pública de incentivo à contratação de cientistas, talvez através da diminuição de impostos trabalhistas ou através de uma política de subsídios e premiações.
Conseguimos explicar os fracos números brasileiros através da história. Neste país tropical, cujo nome deriva de uma árvore, a exportação de pau-brasil para extrair o corante não foi acompanhada pelo desenvolvimento da compreensão dos corantes ou da conservação das árvores que o produziam. Hoje em dia, somos um grande exportador de minérios, por exemplo, mas somos também grandes consumidores de produtos industrializados importados que têm por base estas mesmas matérias-primas. A produção organizada de ciência no Brasil começou há muito pouco tempo. Mas como podíamos organizar a ciência se a Coroa portuguesa evitou a todo custo a organização de universidades em sua colônia? Onde os cientistas poderiam conversar se a Academia Brasileira de Ciências foi fundada há menos de 80 anos?
Apesar de nosso país reconhecer que o desenvolvimento da ciência moderna depende cada vez mais do papel do Estado e que a crescente aplicação dos novos conhecimentos adquiridos através da pesquisa científica justifica largamente os investimentos realizados, o investimento público em ciência vem caindo drasticamente ao longo dos anos. Equipamentos estão se deteriorando pela absoluta falta de uma infra-estrutura de manutenção. Faltam, em número e qualidade, técnicos especializados. As bibliotecas públicas não se mantêm atualizadas e, como consequência, a quantidade, a eficiência e a qualidade da produção científica caem drasticamente.
Desde a revolução industrial, a evolução da ciência é inseparável da sua aplicação no mundo desenvolvido. Nos tempos modernos, a ciência é a responsável pelo desenvolvimento social, político, econômico e tecnológico de uma nação. Se não tratarmos com a devida atenção a educação, se a pesquisa científica não passar a fazer parte de nossa cultura, se não tivermos condições para gerar conhecimento científico e, sobretudo, se não aprendermos a utilizá-lo, então o desejo de modernização e de competitividade para a nação ficará simplesmente no discurso, na retórica
Mal sabia Aristóteles que, mais de dois mil anos após sua morte, a ciência fundada por ele seria o diferencial do mundo, o ponto crucial que separa e marginaliza nações e povos e também que divide águas entre pobres e ricos do planeta Terra. Gosto sempre de imaginar qual seria a reação do filósofo se voltasse a viver nos dias de hoje. Imagine você também. Nos vemos em Maio. Um abraço a todos e até lá.
Um pouco de história: De todos os grandes pensadores da Grécia antiga, Aristóteles (384-322 a.C) foi o que mais influenciou a civilização ocidental. Até hoje, o modo de pensar e produzir conhecimento deve muito ao filósofo, que foi o fundador da ciência que ficaria conhecida como lógica. Aristóteles toma sempre o fato como ponto de partida de suas teorias, buscando na realidade um apoio sólido às suas mais elevadas especulações. Depois de estudar as leis do pensamento, aplica o processo dedutivo e indutivo com rara habilidade, criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode-se considerar como o autor da metodologia e tecnologia científicas, o que lhe dá o título de verdadeiro fundador da ciência moderna.
De volta ao século XXI: Trago agora para você, leitor, alguns números interessantes que vão servir de base para a nossa reflexão. Enquanto nos EUA há 800 mil cientistas e engenheiros fazendo pesquisa e desenvolvimento em empresas, na Coreia do Sul há 75 mil, e no Brasil há menos de 10 mil. O resultado é que os EUA registram algo em torno de 50.000 patentes ao ano, sendo uma boa parte delas registrada pela iniciativa privada. A Coréia registra algo em torno de 1.500 patentes e o Brasil apenas 56. Além disso, em nosso país, algo em torno de 25% dos mestres e doutores trabalha em áreas produtivas como prestação de serviços, comércio e indústrias, sendo que o restante, ou seja, 75% destas cabeças, está alocada nas universidades, em sua grande maioria nas entidades públicas. Vocês sabiam que em países mais avançados de primeiro mundo, este índice é exatamente o oposto do brasileiro? É verdade. Apenas 25% dos engenheiros e cientistas, mestres, doutores e Phd’s daqueles países continuam dentro das universidades transmitindo o saber às novas gerações. A grande parte, os tais outros 75%, trabalha em setores produtivos da economia, principalmente nas indústrias.
Reflexão: Como vocês já devem estar imaginando, o fato de existir um grande número de cabeças privilegiadas trabalhando em setores produtivos proporciona aos países mais desenvolvidos a criatividade e a inovação necessárias à criação de novos produtos e novos processos de produção. Isto faz com que estes países evoluam e se tornem cada vez mais ricos, vendendo suas invenções e inovações a países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo. Este processo está sendo chamado mundialmente de “Economia do Conhecimento”, e vem mudando a forma de vida de uma sociedade agora chamada “Sociedade da Informação e do Conhecimento”, que já foi comentada em uma de nossas colunas anteriores. Como grande parte de nossas empresas quase não empregam mão de obra mais especializada, por serem consideradas “caras“ demais, seria importante uma política pública de incentivo à contratação de cientistas, talvez através da diminuição de impostos trabalhistas ou através de uma política de subsídios e premiações.
Conseguimos explicar os fracos números brasileiros através da história. Neste país tropical, cujo nome deriva de uma árvore, a exportação de pau-brasil para extrair o corante não foi acompanhada pelo desenvolvimento da compreensão dos corantes ou da conservação das árvores que o produziam. Hoje em dia, somos um grande exportador de minérios, por exemplo, mas somos também grandes consumidores de produtos industrializados importados que têm por base estas mesmas matérias-primas. A produção organizada de ciência no Brasil começou há muito pouco tempo. Mas como podíamos organizar a ciência se a Coroa portuguesa evitou a todo custo a organização de universidades em sua colônia? Onde os cientistas poderiam conversar se a Academia Brasileira de Ciências foi fundada há menos de 80 anos?
Apesar de nosso país reconhecer que o desenvolvimento da ciência moderna depende cada vez mais do papel do Estado e que a crescente aplicação dos novos conhecimentos adquiridos através da pesquisa científica justifica largamente os investimentos realizados, o investimento público em ciência vem caindo drasticamente ao longo dos anos. Equipamentos estão se deteriorando pela absoluta falta de uma infra-estrutura de manutenção. Faltam, em número e qualidade, técnicos especializados. As bibliotecas públicas não se mantêm atualizadas e, como consequência, a quantidade, a eficiência e a qualidade da produção científica caem drasticamente.
Desde a revolução industrial, a evolução da ciência é inseparável da sua aplicação no mundo desenvolvido. Nos tempos modernos, a ciência é a responsável pelo desenvolvimento social, político, econômico e tecnológico de uma nação. Se não tratarmos com a devida atenção a educação, se a pesquisa científica não passar a fazer parte de nossa cultura, se não tivermos condições para gerar conhecimento científico e, sobretudo, se não aprendermos a utilizá-lo, então o desejo de modernização e de competitividade para a nação ficará simplesmente no discurso, na retórica
Mal sabia Aristóteles que, mais de dois mil anos após sua morte, a ciência fundada por ele seria o diferencial do mundo, o ponto crucial que separa e marginaliza nações e povos e também que divide águas entre pobres e ricos do planeta Terra. Gosto sempre de imaginar qual seria a reação do filósofo se voltasse a viver nos dias de hoje. Imagine você também. Nos vemos em Maio. Um abraço a todos e até lá.
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