sábado, 25 de julho de 2009

Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 14 – 25 de Julho de 2009

Confira quais universidades utilizarão o novo ENEM

Dentre as 55 universidades federais do país, 26 optaram por utilizar a prova do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), como parte do processo de seleção para ingresso no curso superior em 2010. Outras 7 descartaram o uso da nota do exame e 22 ainda estão em fase final de decisão. O próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, considerou o resultado como “surpreendente", se mostrando satisfeito com a adesão das universidades federais ao novo modelo.

Das universidades que já confirmaram o uso do novo Enem, 14 decidiram abolir a prova do vestibular e trocá-la pelo novo exame. Outras 6 instituições de ensino optaram por eliminar apenas a primeira fase do vestibular. Nesses casos, o vestibulando será classificado para a segunda fase do processo seletivo de cada universidade a partir de seu desempenho na prova do MEC. Há ainda 3 federais que decidiram usar o Enem como um percentual da nota de sua seleção. Outras 3 confirmaram o uso do ENEM, mas ainda não divulgaram a maneira de aplicá-lo.

De acordo com a proposta do MEC, a prova do novo Enem será realizada em dois dias e terá 200 testes de múltipla escolha, quando serão avaliadas as áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias (incluindo redação), ciências humanas e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, além de matemática e suas tecnologias.

As inscrições para participar do ENEM 2010 terminaram no último domingo, dia 19 de julho, e teve algo em torno de 4 milhões de candidatos inscritos. No momento em que se inscreveu, o estudante teve o direito de optar por cinco cursos e instituições e, de acordo com a nota, simular a posição no curso pretendido, em comparação com as notas dos demais concorrentes. No sistema unificado, os pesos das provas podem ser diferentes, caso a instituição queira.
A proposta do MEC prevê a aplicação do novo Enem nos dias 3 e 4 outubro e a divulgação das provas em 4 de dezembro. O resultado final, com a correção das redações, está sendo esperado para 8 de janeiro do próximo ano.

Resumindo a situação das principais universidades próximas a Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco, temos:

1) UFV (Universidade Federal de Viçosa): Vai combinar o ENEM com a nota do vestibular tradicional e vai adotá-lo também para as vagas remanescentes.

2) UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rey): Parte das vagas serão usadas no sistema unificado. O ENEM poderá ser usado no primeiro dia de provas e servirá também para as vagas ociosas.

3) UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora): Quem fizer o ENEM poderá utilizar a nota na primeira fase. As outras duas fases continuam obrigatórias.

4) UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto): Vai substituir a primeira fase do Vestibular pelo ENEM.

5) UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais): não vai usar o novo ENEM. O Vestibular continua em sua forma tradicional.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 13 – 18 de Julho de 2009

O vexame brasileiro na formação de seus professores

Vimos sempre falando em nossa coluna sobre os problemas que envolvem a educação do nosso país, trazendo fatos e números que constatam que o Brasil precisa de medidas fortes e eficazes para o setor. Vimos apontando também possíveis caminhos para uma melhoria nos rumos da educação, sendo que alguns deles passam, sem dúvida, por uma maior qualidade na formação dos professores e por uma maior valorização da classe docente. Hoje trago mais uma má notícia que causa perplexidade e tristeza a quem vive e trabalha no ambiente educacional.

O Ministério da Educação (MEC) está supervisionando 49 cursos superiores de pedagogia e 11 cursos da modalidade Normal que apresentaram conceitos insatisfatórios no último Exame Nacional de Avaliação do Desempenho de Estudante (Enade). Uma comissão de supervisão visitou as instituições para verificar aspectos como o projeto pedagógico, a infra-estrutura e a composição do corpo docente. Foi divulgado recentemente que, destes 60 cursos sob sua supervisão, 17 deles estão em fase de extinção da oferta, o que dá um percentual de quase 30 %. Isto mesmo, mais de um quarto destas entidades de ensino, não poderão realizar vestibulares e receber novos alunos para os cursos da área da Educação !

Segundo o MEC, eles não atenderam às condições mínimas exigidas pela comissão de especialistas que avaliou as instituições. De acordo com o ministério, em 12 destes 17 cursos, o pedido de encerramento da oferta foi solicitado pelas próprias instituições, possivelmente, em minha opinião, porque eles não estavam tendo a procura esperada e/ou não estavam dando o retorno financeiro desejado, pois grande parte delas são de caráter particular. Os outros 5 cursos do grupo dos 17 estão sob processo administrativo pelo não cumprimento de antigas determinações do MEC ou porque apresentaram condições insatisfatórias de qualidade do ensino oferecido.

As demais instituições, que não tiveram que encerrar a oferta, assinarão um termo de saneamento de deficiências pelo qual se comprometem a melhorar os aspectos que foram mal avaliados pela comissão, cumprindo as recomendações determinadas pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, necessárias para que continuem em funcionamento.
A primeira conclusão a que podemos chegar é realmente a falta de qualidade dos cursos Normal e Pedagogia em todo o país, formando profissionais que estão aquém das necessidades básicas do setor, o que certamente faz com que nossos índices piorem, ao invés de melhorarem. Neste ponto realmente é necessária uma maior rigidez no controle destes cursos, fechando-os se necessário, de forma a privilegiar os que permanecem e buscam a qualidade de seu ensino.

A segunda conclusão é que é necessária uma urgente revisão da política de remuneração da classe dos docentes, de forma a incentivar nossos jovens a se interessarem novamente pelo ofício de professor. O que vemos atualmente é uma possível vocação ser prejudicada e deixada de lado pelo aspecto financeiro não compensador da profissão. Antigamente, a pessoa sentia orgulho em ser professor, pois além de ter reconhecimento e grande credibilidade, os profissionais gozavam de melhores condições de trabalho e de vida. Hoje em dia, os salários são, em muitos casos, tão baixos que os docentes são obrigados a ter vários empregos em várias escolas diferentes, para chegar a um patamar satisfatório de remuneração. Trabalhando tento, muitas vezes falta tempo para planejar e preparar boas aulas, o que pode refletir na qualidade do ensino oferecido aos alunos.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Filosofia & Cia - Ano I - Número 7 - Julho de 2009

São Tomás de Aquino e as idéias de Charles Darwin

Um pouco de história: Numa época em que a Igreja ainda buscava em Santo Agostinho grande parte de sua sustentação doutrinária, São Tomás de Aquino (1224-1274) formulou um amplo sistema filosófico que conciliava a fé cristã com o pensamento grego de Aristóteles. Não se tratava apenas de adotar princípios opostos aos dos agostinianos, que se inspiravam no idealismo de Platão (corrente chamada, por este motivo, de neoplatonismo), mas cultivar o princípio aristotélico de que cabe à razão ordenar e classificar o mundo para entendê-lo. O pensamento de Aristóteles respondia melhor aos “novos tempos” do que o neoplatonismo e a ideia do tomismo (como é chamada a filosofia inaugurada por Tomás de Aquino) era de levar para dentro da Igreja um pensamento que não concebia um Deus criador nem a vida após a morte.

De volta ao século XXI: Estamo comemorando em 2009 o bicentenário de nascimento de Charles Darwin, o pai da teoria da evolução das espécies. As ideias revolucionárias do naturalista inglês são os pilares da biologia e da genética e estão presentes em muitas áreas da ciência moderna. Sem a teoria da evolução, a moderna biologia, incluindo a medicina e a biotecnologia, simplesmente não faria sentido. Os cinco pilares do Darwinismo são a evolução dos seres vivos (o mundo não foi criado por ninguém, nem é imutável, e que os organismos estão em um lento e constante processo de mutação); o ancestral comum (cada grupo de organismos descende de um ancestral comum e todos os grupos remetem a uma única origem da vida na Terra, a ameba original); a multiplicação das espécies (elas tendem a se diferenciar, criando novas espécies); o gradualismo (as populações se diferenciam gradualmente, de geração em geração) e a seleção natural (os seres vivos sofrem mutações genéticas e podem passá-las a seus descendentes, que têm sua herança genética posta à prova pelas condições ambientais em que vivem).

Apesar de plenamente aceito e celebrado como um ponto de partida para um grau de conhecimento sem precedência sobre os seres vivos, o evolucionismo de Darwin vem sendo deixado de lado em algumas escolas, que preferem ensinar às crianças e aos jovens, nas aulas de ciências, a teoria do criacionismo. Trata-se da explicação bíblica para a origem da vida, cuja ideia básica é a de que Deus criou tudo, desde o homem, a mulher, os animais, as plantas, há 6.000 anos. Como explicar esta atitude, caro leitor, principalmente se destacarmos que este fato não vem acontecendo apenas em países pobres, ignorantes e subdesenvolvidos, mas nos EUA, na Inglaterra e em outros países campeões na produção científica ? Como entender que apenas um em cada dois americanos ou um em cada quatro ingleses acreditam que o homem é produto de milhões de anos de evolução ?

Reflexão: A explicação certamente tem conotação religiosa e passa pelo fato de que a descoberta dos mecanismos da evolução enfraqueceu o único bom argumento disponível para a existência de Deus. A biologia desmentiu a natureza especial do homem e o relegou à posição de um “mero descendente do mundo animal”. Impacto semelhante só é comparável com a descoberta por Copérnico que a Terra não era o centro do universo. Talvez estes tenham sido os dois mais fortes golpes contra a auto-estima da humanidade. Infelizmente, a teoria da evolução é percebida por alguns como uma arma projetada para destruir a religião, a moral e o potencial dos seres humanos. Ciência e religião já andaram de mãos dadas pela maior parte da história humana, mas Darwin foi, seguramente, um dos responsável por esta separação. Tudo bem que suas teorias causam mal-estar em muita gente, mas difícil de aceitar são os casos em que o darwinismo é considerado um inimigo a ser combatido.

Manda o bom senso que não se misturem ciência e religião. A primeira se preocupa com os mistérios do mundo físico, enquanto a segunda, os mistérios do mundo espiritual. Porém, elas não necessariamente se eliminam, vide o fato de que Darwin era religioso e chegou a se preparar para ser pastor da Igreja Anglicana. Elaborar uma teoria que ia contra os dogmas da Bíblia era para ele motivo de enorme angústia. Darwin nunca declarou que a Bíblia estava errada e manteve sua fé religiosa até os últimos anos de sua vida.

É claro que em sua fé, os criacionistas têm o pleno direito de acreditar que Deus criou o mundo e tudo o que existe nele, mas coisa bem diferente é impor esta maneira de enxergar a natureza às crianças em idade escolar, renegando fatos já plenamente comprovados pela ciência. Esta atitude nega às crianças os fundamentos da razão, substituindo-os pelo pensamento sobrenatural. Não há problemas também no fato de que o criacionismo seja dado nas aulas de religião, mas ensiná-lo na aula de ciências é um ato que pode trazer graves consequências, pois ele não é adequado para ser ensinado em aulas de biologia para explicar a origem das espécies, pois faz com que os jovens desde cedo confundam crença e superstição com razão e ciência.

P.S: A coluna deste mês se valeu de informações publicadas na Revista Veja do mês de Fevereiro de 2009

sábado, 11 de julho de 2009

Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 12 – 11 de Julho de 2009

A morte de Michael Jackson e nossas aulas desinteressantes

Existe uma parábola que conta a história de um sujeito que dormiu por 30 anos, ainda no século XX, e acordou no século XXI. Estranhou tantas novidades e ficou impressionado com o mundo de hoje: muita tecnologia, construções, equipamentos, carros. Tudo para ele era novidade, após o seu duradouro sono. Apenas se sentiu confortável quando entrou numa escola, ao reparar que lá, nada havia mudado, tudo continuava como 30 anos atrás.

Como se pode reparar, não sou bom contador de histórias ou parábolas, mas tomei coragem de narrar esta para concluir que trata-se de uma grande verdade. A escola foi uma das entidades que menos mudou ao longo do tempo, não acompanhando, nem de longe, a evolução da sociedade em que vivemos. Como conseqüência, os alunos reclamam cada vez mais de falta de vontade em ir à escola e falta de interesse em assistir as aulas. Aí surge a inevitável pergunta: o que podemos fazer para mudar este quadro? Como tornar nossas aulas mais atraentes e passar o conteúdo necessário de maneira agradável aos estudantes?

Talvez uma das respostas a esta questão seja a contextualização das nossas aulas. Trazer assuntos do cotidiano para dentro da sala de aula tem-se mostrado uma boa estratégia para prender a atenção dos jovens e fazê-los se interessar pela aula, ou pelo menos, permanecer dentro da sala e prestar atenção nas palavras do professor e naquilo que está acontecendo dentro do ambiente da classe.

Tomemos como exemplo a grande notícia do momento: a morte do rei do pop, Michael Jackson. Desde semana passada, quando veio a público que o cantor norte-americano partiu para outro palco, não se fala em outra coisa. De manhã, de tarde e de noite, todos os programas, de fim noticioso ou não, falam sobre este assunto, que ainda vai render muito mais. Primeiro, a morte, depois o enterro e o show. A partir de agora vamos assistir a briga pela herança, a guarda dos filhos e outras tantas notícias e fofocas que virão a respeito do mais genial, misterioso e bizarro artista dos últimos tempos.

E a mídia já notou que todos, quase sem exceção, se interessam pelo assunto: os fãs, os apenas admiradores e até mesmo os mais jovens, que o conheciam pouco ou mesmo não o conheciam, agora tomam contato com o criador do passo mais criativo da dança pop, o “moon-walk”.

Será que podemos “aproveitar” este interesse dos nossos pelo assunto para diversificarmos nossas aulas ? Vejamos: para os professores de inglês, as letras originais e para os de português, as traduções de suas mais belas canções são ótimas ideias para se trabalhar dentro da classe. Professores de história, filosofia e sociologia têm um rico filão de discussão a respeito da história recente americana, com o papel do negro na sociedade daquele país e também a questão do negro, do preconceito e do racismo na história e na sociedade brasileira. Ciências, química e biologia, entre outras, podem ser trabalhadas tocando em assuntos como o corpo humano, pigmentação e doenças da pele (como o vitiligo, que o cantor dizia ter), cirurgias plásticas, remédios, dependência química, etc. Até a física talvez tenha lugar quando passamos a analisar os movimentos do dançarino no palco, seus malabarismos, rodopios e os passos que o tornaram famoso.

A adoção de novas metodologias do processo de ensino é, sem dúvida, uma questão que envolve criatividade e inovação por parte de escolas e professores. Assim com este, outros fatos e acontecimentos podem ser trabalhados em sala, de forma a tornar as aulas mais atraentes e agradáveis para os nossos alunos.

sábado, 4 de julho de 2009

Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 11 – 04 de Julho de 2009

Ainda tem muita criança fora da escola

Semana passada falamos aqui em nossa coluna sobre um artigo publicado pela revista britânica “The Economist”, que traçava um panorama da situação da educação no Brasil e afirmava que a má qualidade das escolas é o que freia o desenvolvimento do país. Hoje trazemos mais alguns números sobre a educação brasileira, obtidos desta vez a partir de um relatório da UNICEF, fundo das Nações Unidas para a Infância.

Segundo o estudo chamado “Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 - O Direito de Aprender”, o Brasil registrou avanços importantes na educação nos últimos 15 anos, apontando que os grandes investimentos feitos na área desde a década de 90 permitiram ampliar o número de matrículas nas escolas do país. Cerca de 27 milhões de estudantes estão nas salas de aula, o que corresponde a 97,6% das crianças entre 7 e 14 anos. Houve também uma grande redução do analfabetismo, em consequência do aumento da taxa de escolarização, sendo que a menor taxa de analfabetismo ficou com o grupo de 15 a 17 anos, apenas 1,7%.

Mas o Unicef também chama a atenção para o fato de que a parcela ainda fora da escola (2,4%) representa 680 mil brasileiros nessa faixa etária, o que ainda é muita gente. Segundo o documento, as desigualdades presentes na sociedade ainda têm um importante reflexo no ensino brasileiro, alertando ainda que são os grupos mais vulneráveis da população que enfrentam dificuldades para ter acesso à educação e concluir os estudos. Segundo os dados divulgados, do total de crianças que não frequentam a escola, 450 mil são negras e pardas e a maioria vive nas regiões Norte e Nordeste.

Com o acesso à escola quase universalizado, o desafio para o país, de acordo com o fundo, é garantir educação de qualidade e, principalmente, reduzir as desigualdades. Mesmo dentro da sala de aula, o aluno pode estar privado do direito à educação, pois a questão do direito de aprender não é só acesso, mas a permanência, a aprendizagem e a conclusão dos estudos na idade certa.

Os altos índices de repetência e abandono escolar são um aspecto importante que precisa ser enfrentado. A reprovação tem forte impacto na adequação idade-série, ou seja, o aluno cursar a série indicada para a sua idade. Segundo o relatório, apesar de passar em média dez anos na escola, os estudantes brasileiros completam com sucesso pouco mais de sete séries. Segundo o Censo Escolar de 2006, a quantidade de concluintes do ensino fundamental corresponde a 53,7% das matrículas na 1ª série deste nível no mesmo ano. No ensino médio, a proporção entre matriculados na 1ª série e os concluintes é ainda menor: 50,9%.

O Unicef destaca que a ampliação da obrigatoriedade do ensino é fundamental para garantir a todos o acesso à educação. Hoje apenas o ensino fundamental (dos 7 aos 14 anos) é obrigatório. O fundo recomenda que a educação infantil (para crianças de 4 e 5 anos) e o ensino médio (dos 15 aos 17 anos) também sejam incluídos. Nas nações desenvolvidas, a escolaridade obrigatória varia de 10 a 12 anos e engloba o ensino médio. Em países como a Alemanha, a Bélgica e a Holanda, a escolarização obrigatória chega a 13 anos.

"Em conjunto com uma educação de qualidade, cujo pilar é a valorização do trabalho do professor, a permanência na escola por mais tempo garante aos estudantes uma aprendizagem mais ampla e consciente, o que coloca esses países nos lugares mais altos dos rankings dos exames internacionais", diz o documento.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 10 – 27 de Junho de 2009

Nossos problemas educacionais ganhando o mundo

Há algumas semanas atrás, assistimos a um encontro histórico dos representantes do “BRIC”. Trata-se de uma sigla “inventada” por um economista americano para designar países emergentes (no caso, Brasil, Rússia, Índia e China) que despontam, na opinião dos especialistas, como potências do século XXI e passarão a ter um papel fundamental no mundo pós-crise financeira que estamos vivenciando.

Não há dúvidas de que o Brasil passa por grandes avanços, devido a grandes investimentos e progressos em setores como política e economia, mas em termos de educação, o país está bem abaixo de muitos outros países em desenvolvimento e de todos os demais países emergentes que compõem a sigla. Embora os índices brasileiros apresentem alguma melhoria no setor, são ainda sofríveis e a evolução se dá de forma bastante vagarosa, inadmissível para um país que deseja um melhor lugar no cenário internacional.

Um artigo mais recente da revista britânica “The Economist” traça um panorama da situação da educação no Brasil e afirma que a má qualidade das escolas, talvez mais do que qualquer outra coisa, é o que freia o desenvolvimento do país. A publicação baseia seus argumentos citando os maus resultados do Brasil no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), órgão da ONU.

A revista compara a situação do Brasil à da Coreia do Sul, que vem apresentando bons resultados no PISA, afirmando que até a década de 1970 o país era praticamente tão próspero quanto o nosso, mas, ajudada por seu sistema escolar superior, saltou à frente e agora tem uma renda per capita cerca de quatro vezes maior que a brasileira. Para a revista, entre os principais motivos para a má qualidade da educação no país está o fato de muitos professores faltarem por diversas vezes às aulas e os altos índices de repetência, que estimulam a evasão escolar.

Na opinião da Economist, o governo precisa investir mais na educação básica. Assim como a Índia, afirma a revista, o Brasil gasta muito com suas universidades ao invés de se preocupar mais com a alfabetização das crianças. A publicação afirma ainda que o Brasil precisa de professores mais qualificados, pois muitos têm três ou quatro empregos diferentes e reclamam que as condições de trabalho são intimidadoras e os salários muito baixos.

Finalmente, a publicação defende que a receita para melhorar a educação no país seria continuar reformando o sistema escolar, enfrentar os sindicatos dos professores e gastar mais em educação básica. Termina a matéria dizendo que: "A conquista do mundo - mesmo a amigável e sem confrontos que o Brasil busca - não virá para um País onde 45% dos chefes de famílias pobres têm menos de um ano de escolaridade".