domingo, 21 de março de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 44 – 20 de Março de 2010

Seria a ansiedade um mal dos tempos modernos ?

Jerome Kagan é considerado um dos grandes psicólogos do século XX, sendo bastante conhecido pelas suas pesquisas envolvendo o desenvolvimento infantil, principalmente sobre o tema da ansiedade. Segundo ele, a incidência da ansiedade, ao contrário do que muitos pensam, não é maior nos dias de hoje do que em épocas passadas. No século XVI, a ansiedade “vinha do risco de morrer antes dos 35 anos de uma doença infecciosa, ser assaltado na beira da estrada entre uma cidade e outra, ofender Deus e ir para o purgatório. Hoje estamos ansiosos em relação a coisas diferentes, como status social, sucesso profissional, relação com os amigos, cônjuges, professores, alunos, entre outros”.

Segundo sua teoria, o que determina a freqüência e a intensidade da ansiedade são os genes, e eles não mudaram do século XVI para cá, mas o que determina o alvo da ansiedade é a cultura, e isso mudou. Jerome diz que tomos os seres humanos são ansiosos, que “faz parte da condição humana, como ficar cansado, errar, sentir-se culpado, frustrado ou envergonhado. Não existe civilização em que ninguém fica ansioso”.

O psicólogo também afirma que a ansiedade tem suas vantagens. “As pessoas ansiosas são muito responsáveis e conscientes. Jovens ansiosos, tímidos e introvertidos trabalham com afinco e erram menos. Há pessoas ansiosas simplesmente brilhantes. Uma pessoa pode ser intensamente ansiosa, mas se consegue cumprir seu papel nos estudos, na família e no trabalho, por exemplo, não há problema. A ansiedade só será um problema se atingir um estágio clínico, no qual vira doença, a superansiedade”.

Sobre a origem da superansiedade, ele afirma existirem dois argumentos. O primeiro deles destaca a evolução humana. Biólogos evolucionários dizem que a existência de hipervigilantes entre membros de nossa espécie foi decisiva na luta contra os predadores. Sob esse ponto de vista, a ansiedade foi uma vantagem adaptativa desenvolvida pelos seres humanos. O outro argumento afirma que nem todas as mutações que aconteceram em nossa espécie são úteis e positivas. Desta forma, a ansiedade seria um subproduto da evolução, uma sobra de algum outro arranjo genético positivo. Ainda não se sabe qual dos argumentos é o mais correto, mas segundo Jerome, ambos fazem sentido.

Finalmente, sobre a relevância da hereditariedade sobre a ansiedade, o psicólogo afirma que nem sempre filhos de pais ansiosos serão igualmente ansiosos. Se a ansiedade dos pais decorre de uma característica de sua natureza, a probabilidade de que seus filhos sejam ansiosos é um pouco mais alta. Mas se, por outro lado, a ansiedade dos pais tiver origem no ambiente, no meio em que vivem, a possibilidade de passar a ansiedade para os filhos será menor.

Analisando as afirmações do Dr. Kagan, podemos concluir acerca da importância de se conhecer mais profundamente o assunto. Para os professores então, que lidam com jovens cada vez mais ansiosos e impacientes, que não conseguem esperar pela conclusão de uma tarefa ou querem sempre resultados imediatos, saber lidar com tudo esse assunto é uma questão de sobrevivência na profissão e sucesso em seus objetivos de aprendizagem.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 43 – 13 de Março de 2010

Ser professor: nem pensar !

Voltamos na coluna desta semana a um assunto que já foi tema de outros textos aqui mesmo neste cantinho: o desestímulo dos jovens em seguir a carreira de professor. Baseio-me em uma pesquisa que mostra que os bons alunos não se interessam em seguir o magistério e também revela que aqueles que vão por este caminho são poucos e normalmente estão mal preparados.

A Fundação Carlos Chagas divulgou uma pesquisa, que foi solicitada pela Fundação Victor Civita, que mostra que apenas 2% (dois por cento) dos estudantes brasileiros que se preparavam para o vestibular de final do ano passado tinham a intenção de cursar Pedagogia, Normal Superior ou similares. Pedagogia figurou na 36ª. colocação entre 60 carreiras citadas, no levantamento que foi realizado em escolas públicas e privadas de ensino médio em todo o país. Medicina, Direito e Engenharia, mais uma vez, figuraram entre aqueles que mais exercem fascínio entre os jovens.

Talvez a mais grave conclusão acerca desta pesquisa seja o fato de que, os poucos que optam pela docência se concentram justamente no grupo dos 30% dos alunos com as piores notas na escola. Como é pouco concorrido e fácil de passar, muitas vezes significa a mais fácil porta de entrada para um curso superior. Assim, a Pedagogia recebe estudantes com pouca vocação, cuja opção não se dá por gosto, vocação ou pelo desejo de construção de uma carreira profissional.

Símbolo de status há algumas décadas atrás, a carreira de professor goza de baixo prestígio dentre os jovens do Brasil moderno. Baixos salários, falta de estrutura física e planejamento parecem ser as principais causas da profissão estar tão em baixa. Entretanto, devemos nos lembrar que a situação atual nada mais é do que o final (?) de um processo que teve início na década de 70, quando se iniciou no país uma acelerada massificação do ensino público, sem o correspondente aumento do número de profissionais preparados e em número suficiente para atender à demanda. A partir desta época, as faculdades de pedagogia e as licenciaturas se proliferaram, sem um padrão que pudesse garantir qualidade na mesma proporção do que quantidade.

A remuneração dos profissionais do ensino também é muito citada como um dos fatores primordiais para a falta de interesse dos jovens. Há casos inclusive de estudantes que são desencorajados pelos próprios pais de fazerem a opção pelo magistério. Alguns confessam que a família nunca aceitaria esta sua opção profissional, caso ela fosse realizada.

Importante destacar que o simples aumento de salário da classe docente parece não ser a melhor, ou a única, saída. Olhando para países que outrora estiveram em situação muito semelhante à do Brasil e hoje são referência em educação de qualidade (como Coréia do Sul, por exemplo), vê-se alguns caminhos eficientes para atrair alunos talentosos e brilhantes para o curso de Pedagogia. A possibilidade de uma carreira promissora, de verem seu talento reconhecido e terem sua capacidade intelectual estimulada, constam como boas estratégias para esta empreitada. Bons salários, neste caso, fazem parte do contexto e ajudam bastante nesta estratégia.

domingo, 7 de março de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 42 – 06 de Março de 2010

Convém ensinar cidadania nas escolas ?

Li uma reportagem uma vez que mostrava alguns exemplos de países que colocavam o ensino de cidadania para crianças e adolescentes como matéria obrigatória nas escolas. Me lembro que a matéria falava da Grã-Bretanha, onde crianças acima de 5 anos aprendiam na escola, por exemplo, que não se deve bater em mulheres e meninas. A Grã-Bretanha sofre, assim como o Brasil, e talvez menos do que nós, do problema da violência doméstica onde, em grande parte das vezes, crianças são testemunhas de trágicos acontecimentos entre seus próprios pais.

Logicamente que a atitude do governo britânico não foi aprovada por unaminidade. Famílias reagiram contra a obrigatoriedade destas aulas e muitos pais afirmaram que o dever da escola era ensinar a ler e escrever e não interferir na vida familiar e na forma como os pais criam seus filhos. É um assunto complicado, em que temos que colocar na balança a interferência do Estado para tentar medir se ela é mais benéfica ou mais prejudicial. Se trata de uma ajuda ou intromissão ?

Se você, leitor desta coluna, foi jovem ou adolescente nas décadas de 60 ou 70, deve-se lembrar que isso não é uma grande novidade aqui em nosso país. Nestes tempos idos, as crianças assistiam nas escolas públicas aulas de “Educação Moral e Cívica” e “OSPB”, sigla que queria dizer “Organização Social e Política do Brasil”. É lógico que os tempos eram outros pois vivíamos (me incluo nesta lista !) o período da ditadura militar e o lema do governo federal era “Brasil: Ame ou Deixe-o !”.

Agora o cenário é muito diferente e a ideia das aulas de cidadania ganham força pelas circunstâncias sociais que vivemos na atualidade. O objetivo seria formar os valores do indivíduo, dar noções de cidadania, estimular o convívio pacífico, não discriminação racial ou sexual, respeito ao meio ambiente, ao vizinho e aos idosos, alertar para o uso de drogas, armas, álcool e também emitir um basta contra a violência em casa, nas ruas, no trânsito e na sala de aula.

Para finalizar, cabem nesta reflexão as seguintes questões: este seria um papel reservado para a escola ou responsabilidade exclusiva das famílias ? Não seria este, exatamente o papel dos pais ? Ao atribuir à escola parte da responsabilidade pela formação do cidadão, não estaríamos passando atestado de falência da família ? Não seriam os pais que deveriam ensinar o certo e o errado, de acordo com seus princípios morais e éticos ?

Teoricamente sim, mas no mundo moderno (onde mães e pais trabalham fora e dedicam pouco tempo aos filhos e se divorciam numa velocidade maior do que se casam), a família não está sendo auto-suficiente para formar cidadãos responsáveis. E, neste contexto, uma parceria saudável entre família e escola talvez seja o melhor dentre os possíveis caminhos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 41 – 20 de Fevereiro de 2010

Duas possíveis soluções para o problema da violência nas escolas

Novamente vamos nos valer de notícias recentemente publicadas sobre a educação em nosso país para discutir, na coluna de hoje, sobre um dos mais graves problemas que afligem alunos, professores, funcionários e as escolas, de um modo geral, a violência.

O município de Vila Velha, na região metropolitana de Vitória (ES), está usando a tecnologia para tentar conter a violência escolar. Já começou a funcionar em 50 das 92 unidades da rede pública municipal um novo sistema de segurança chamado de Botão de Pânico. Similar a um pequeno controle remoto, o aparelho será usado para acionar uma central de segurança em caso de emergência. O alarme funcionará integrado a uma central de vídeo-monitoramento em dez unidades. Segundo a prefeitura, dentro de 90 dias, o sistema será levado a todas as escolas da rede municipal

O sistema funciona interligado a uma empresa de segurança privada, contratada pela prefeitura. Ao ser acionado, o dispositivo, que vai ficar em poder do diretor de cada unidade, emite um alerta para a central de monitoramento, que envia uma patrulha escolar até o local. Em casos mais graves, os agentes que trabalham na patrulha podem pedir ajuda à Guarda Municipal ou à Polícia Militar.

O investimento para implantação do sistema fica entre R$ 8 mil e R$ 13 mil, dependendo do tamanho de cada unidade escolar. As câmeras, além de gravarem toda a movimentação no interior da escola, também registram o que acontece nas redondezas da unidade. O objetivo, segundo o secretário de Educação, é coibir a violência escolar e o tráfico de drogas. Testado em uma unidade durante o ano de 2009, o sistema teria reduzido de vinte para zero o número mensal de ocorrências.

Já no centro-oeste do país, uma iniciativa da escola Escola-Classe 203, na cidade-satélite de Santa Maria, a 35 quilômetros de Brasília, teve grande sucesso na redução da violência entre estudantes. Com a promoção de gincanas para os alunos da educação infantil e um campeonato com diversas modalidades esportivas para os estudantes das séries iniciais do ensino fundamental, a escola pôde observar a redução dos casos em que alunos submetiam colegas a humilhações públicas e intimidações, o chamado bullying.

Segundo matéria publicada no site do Ministério da Educação (MEC), a orientadora educacional da instituição, afirmou que excelentes resultados foram alcançados com a iniciativa. Segundo ela, os alunos que brigavam passaram a organizar equipes esportivas, estratégias de jogo e torcidas organizadas. A prática esportiva e as gincanas ajudaram também a melhorar a relação dos alunos e professores. O trabalho foi tão positivo que será realizado novamente no início deste ano letivo e o modelo deverá ser exportado para outras escolas da rede pública do Distrito Federal.

Repressão, vigilância e força de um lado. Esporte, orientação e acompanhamento do outro. Qual será a melhor forma de combater a violência na escola ? Acredito que não podemos condenar e nem criticar práticas similares ao primeiro exemplo relatado, pois em alguns casos a situação já se encontra fora do controle e a repressão acaba por se a melhor (senão a única) saída possível para a eliminação ou minimização do problema. Mas não há dúvidas de que a prevenção ainda é o melhor remédio. Por isto, acho que o segundo exemplo é que deve ser tomado como balizamento para as ações dos educadores, pois, não há nenhuma dúvida de que esporte combina bem mais com educação do que polícia.