sábado, 30 de janeiro de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 38 – 30 de Janeiro de 2010

Sobre o sistema escolar de ciclos

Os ciclos escolares são períodos de escolarização que ultrapassam as tradicionais séries anuais, organizados em blocos cuja duração é variável, podendo atingir até mesmo a totalidade de anos prevista para um determinado nível de ensino. A ordenação do tempo escolar se faz em torno de unidades maiores e mais flexíveis, de forma a favorecer o trabalho com clientelas de diferentes procedências e estilos de aprendizagem, procurando assegurar que o professor e a escola não percam de vista as exigências de educação postas para o período.

Interessante notar que, no século passado, as iniciativas de introdução desse regime poderiam ser consideradas como mais apropriadas a países em desenvolvimento. Atualmente, as propostas de ciclos passam também a ser utilizadas por muitos países de primeiro mundo, em que os problemas educacionais aparentemente são menos graves do que os nossos.

Pode-se dizer que os ciclos representam uma tentativa de superar a excessiva fragmentação do currículo que decorre do regime seriado durante o processo de escolarização. As experiências brasileiras são bastante variadas e numerosas e há no país uma expressiva quantidade de iniciativas ainda muito recentes, de sorte que os ciclos ainda não conseguiram se consolidar enquanto estruturas e práticas inovadoras. Apenas em relação aos ciclos de alfabetização parece haver um relativo consenso de que eles são irreversíveis nas redes em que estão instalados há mais tempo, embora estejam ainda longe de ter concretizado um modelo verdadeiramente novo de operar da escola.

Na realidade, ainda existem grandes dúvidas e controvérsias sobre as medidas que devem acompanhar os ciclos, principalmente porque elas abalam o modo de funcionar da escola, forjado há séculos, sem que tenham delineado com relativa clareza como será a nova maneira de se trabalhar a relação ensino-aprendizagem.

Percebe-se, porém, que o grau de satisfação dos atores envolvidos é um elemento determinante no que diz respeito à probabilidade de sucesso de sua implementação. No caso dos ciclos, a adesão apenas parcial ao regime e os questionamentos que se fazem às políticas que buscam implementá-los são compreensíveis e até mesmo esperados, uma vez que trata-se de uma mudança muito mais cultural do que nas formalidades da estrutura da escola.

O grande desafio é exatamente o de fazer surgir o novo em meio a um aparato escolar que tem grande poder de regulação e que funciona a partir de princípios muitas vezes contraditórios. Tudo indica que os ciclos demandarão muito tempo ainda para serem consolidados, já que o tempo de mudar as coisas no papel é, na prática, muito diferente do tempo de transformar corações e mentes e moldar uma nova realidade para a escola.

Recente pesquisa divulgada sobre o sistema escolar de ciclos indica que ele tem desempenho equivalente ao de séries. A conclusão foi tirada a partir da tese de doutorado “Análise do desempenho do ensino fundamental de escolas cicladas e não-cicladas”, da educadora Ivanete Bellucci Pires de Almeida, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre a qual falaremos com mais detalhes na semana que vem. Um abraço a todos e até lá.

Filosofia & Cia - Ano II - Número 13 - Janeiro de 2010

Issac Newton estava certo: o mundo ainda não acabou !

Um pouco de história: Isaac Newton (1643-1727) foi um brilhante astrônomo, físico e matemático, tendo também deixado seu nome na história pelas muitas contribuições importantes na alquimia, filosofia natural e teologia. Em uma pesquisa promovida pela renomada instituição Royal Society, Newton foi considerado o cientista que causou maior impacto na história da ciência. O que pouco se conhecia era o seu lado religioso, que foi exposto com mais intensidade há poucos anos atrás, depois da divulgação de alguns manuscritos atribuídos ao cientista inglês. Em um deles, datado do começo do século XVIII, por meio dos textos bíblicos do Livro de Daniel, Newton calcula a data aproximada do apocalipse, chegando à conclusão de que o mundo deve acabar por volta do ano de 2060. "Ele pode acabar além desta data, mas não há razão para acabar antes", escreveu.

De volta ao século XXI: Novembro de 2009 - aconteceu a estréia mundial do filme 2012, uma superprodução de Hollywood que conta a saga dos que tentam desesperadamente sobreviver à catástrofe final. O ano de 2012 tornou-se o número mágico, sinônimo do fim do mundo devido a uma confluência de alguns achados proféticos. Primeiro, surgiu a tese de que a Terra será destruída com a volta do planeta Nibiru neste ano. Depois, veio à tona que o calendário dos maias (uma das esplêndidas civilizações da América Central pré-colombiana) acaba exatamente em 21 dezembro de 2012, sugerindo que se esse povo, que era tão entendido em astronomia, encerrara as contas dos dias e das noites nesta data é porque depois dela não haveria mais o que contar. E isto sem falar nos adeptos das teorias de Nostradamus e os muitos astrônomos, geólogos e cientistas de plantão que sempre descobrem um “alinhamento fatal” de planetas e outros seres estelares que, indubitavelmente, culminaria no fim de nosso pobre planeta Terra.

Dezembro de 2009 – Os países fazem as contas, reveem seus números e índices e concluem que o pior parece já ter passado. Falo de uma das piores crises econômicas mundiais que já surgiram desde o crash da bolsa de NY em 1929, que se iniciou ao final de 2008 e se arrastou durante todo o ano de 2009. As empresas passaram por um período difícil e os trabalhadores mais ainda, com os níveis de desemprego atingindo índices alarmantes em todo o mundo, com algumas instituições até então consideradas sólidas deixando de existir ou sendo amparadas financeiramente pelos governos, fato que deu ânimo aos adeptos do comunismo a ponto de fazê-los declarar o tão esperado fim da era capitalista.

Dezembro de 2009 – aconteceu a Conferência do Clima, chamada COP 15, em Copenhagem, na Dinamarca. Os grandes líderes mundiais não foram capazes de chegar a um satisfatório acordo mínimo, com metas claras e obrigatórias, que obrigasse os países desenvolvidos e em desenvolvimento a limitarem as emissões de gases que causam o efeito estufa e que têm como conseqüências o derretimento da camada de gelo dos pólos e o aumento do nível de nossos oceanos.

Reflexão: Das passagens citadas acima pode-se tirar algumas análises interessantes. Primeiramente, estamos diante de mais um fato importante que comprova não ser a ciência exatamente oposta à religião. Os referidos manuscritos de Newton mostram, conforme também atestam alguns especialistas, ter sido ele um cientista guiado por um grande fervor religioso e por um desejo de ver as ações de Deus guiando o mundo, a ponto de se engajar em cálculos mirabolantes, cujo objetivo seria elucidar o grande mistério que é a vida humana no planeta Terra e determinar, através da razão, o possível fim desta jornada. Depois, vemos algumas tentativas mais recentes de se antever o fim do mundo. Apesar de o índice de falhas destes prognósticos ser de exatos 100%, eles resistem ao tempo, à razão e à ciência.

As tentativas de explicar esse fenômeno são uma viagem fascinante pela AaAaaaa alma e pelo cérebro humano. Uma das teorias atualmente mais aceitas explica que o nosso cérebro é uma máquina programada para extrair sentido do mundo. Assim, somos levados a atribuir ordem e significado às coisas, mesmo onde tudo é aleatório, casual e fortuito. As constelações de estrelas no céu, por exemplo, são uma criação mental humana através da qual tentamos organizamos o caos estelar. Que venha 2012 !

Finalmente, a crise econômica mundial, gerada principalmente pela ganância e pela especulação, próprias do capitalismo selvagem, e o problema do aquecimento global nos mostram o que realmente se tornou a vida humana em uma sociedade globalizada e o que estamos fazendo com nosso planeta. Países pobres não têm dinheiro para pagar a conta, países em desenvolvimento não acham justo pagar a conta e países ricos não querem pagar a conta. Como nós, humanos, seres racionais, não estamos sendo capazes de nos articular em prol de nossa própria sobrevivência? Como interesses econômicos e financeiros podem se sobrepor ao interesse maior da preservação da vida na Terra, que estamos destruindo a uma velocidade assustadora? Opa ! Então não seria este o fim do mundo? Eu falei “seres racionais”?

sábado, 23 de janeiro de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 37 – 23 de Janeiro de 2010

As escolas não sabem usar a tecnologia que têm disponível !

Há tempos atrás, as pesquisas que eram realizadas nas escolas públicas apontavam para a infra-estrutura como um dos principais problemas vivenciados na educação nacional. Faltavam desde cadeiras, carteiras e quadros até os materiais de consumo para os trabalhos administrativos e pedagógicos. Não havia na maioria das escolas quadras de esportes e bibliotecas bem montadas e laboratório de informática era coisa para poucos.

Com o passar do tempo, o cenário melhorou bastante com relação ao quesito infra-estrutura e pudemos constatar uma grande evolução em praticamente todo o território nacional. Não digo que a questão dos equipamentos, prédios e instalações já esteja completamente resolvido de norte a sul do país, pois existem escolas sem o mínimo necessário a uma educação de qualidade e até mesmo para as escolas que já dispõem de razoável infra-estrutura, principalmente computacional, ela precisa ser constantemente revista e ampliada.

Porém, é fato que boa parte das escolas públicas estão recebendo verba para reformas e realização de novas obras, além de insumos, livros e computadores. Isto fez com que uma pesquisa realizada no segundo semestre do ano passado indicasse ainda a existência do problema de infra-estrutura das escolas, mas em uma posição inferior a outros problemas, no momento mais preocupantes, como a falta de motivação, falta de atenção e indisciplina por parte dos alunos e falta de participação dos pais na vida escolar de seus filhos.

Quanto à questão da tecnologia, gostaria de apresentar uma outra pesquisa realizada em 400 escolas públicas em 13 capitais brasileiras, que mostrou que o tradicional problema de falta de infra-estrutura está sendo superado pela falta de preparo das pessoas para lidar com as novas tecnologias. As escolas possuem máquinas e equipamentos, mas os recursos não estão sendo utilizados de forma eficiente, pois falta, principalmente, treinamento de funcionários, gestores e professores de forma a melhorar o seu uso e tornar o computador um aliado na tarefa de ensinar.

A pesquisa apontou que 98% das instituições públicas de ensino têm computador e 83% têm acesso à internet com conexão banda larga. As máquinas se concentram em áreas administrativas ou no laboratório de informática e em apenas 4% delas há máquinas nas salas de aula. O que mais impressiona é que 74% dos professores entrevistados declararam ter recebido pouco ou nenhum treinamento para o uso da tecnologia.

Isto nos remete a novos problemas que são a formação inicial deficiente recebida pela maioria dos novos professores e a falta de formação continuada. Poucas faculdades ou universidades se preocupam em preparar os futuros educadores para usar tecnologia na sala de aula como ferramenta pedagógica. Já nas escolas, poucas são aquelas que oferecem algum tipo de curso de atualização em relação às novas tecnologias. É certo que as escolas têm muito a ganhar explorando o potencial do computador e da Internet e precisam acompanhar o ritmo rápido dos dias atuais e dos próprios alunos.

Especialistas são unânimes em destacar que é importante que os professores dominem não só o uso de ferramentas, mas saibam como utilizá-las na transmissão de conteúdos de forma a motivar o aprendizado. Os jovens estão muito avançados no uso do computador e da Internet, eles se comunicam em redes sociais, usam blogs e twitter. Neste cenário, a escola e os docentes precisam acompanhar este processo, utilizando a tecnologia efetivamente para proporcionar a aprendizagem dos conteúdos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 36 – 16 de Janeiro de 2010

Novo piso salarial para os professores: fim dos problemas na escola ?

O Ministério da Educação (MEC) definiu na semana passada o reajuste para o piso salarial dos professores: 7,86%. Com a aplicação deste novo índice sobre os atuais R$ 950,00, professores da rede pública de ensino devem receber a partir de 2010, por uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, pelo menos R$ 1.024,67.

A preocupação agora está em saber se as prefeituras terão ou não dificuldades em arcar com os novos custos, em obediência ao novo piso definido pela lei. Ao ser questionado sobre este assunto, o Ministro da Educação Fernando Haddad afirmou que os estados e municípios terão condições de pagar os novos valores para os professores. Ele listou três fatores como justificativa:

Primeiro, o aporte adicional de R$ 1 bilhão, a serem transferidos pelo governo federal no próximo ano aos cofres de estados e municípios, com o aumento de 36% nos repasses para merenda e transporte escolares. Segundo, o aumento das transferências da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Por fim, estão as boas projeções do Produto Interno Bruto (PIB) para 2010, pois todas elas indicam crescimento de pelo menos 5% na arrecadação.

Apesar desta preocupação geral em relação aos cofres públicos, algumas entidades de classe já se manifestaram dizendo ser este reajuste insuficiente para agradar os atuais e motivar os futuros professores da rede pública.

Sabe-se que uma maior valorização do profissional é fundamental para a melhoria da educação em nosso país. Mas sabe-se também que este ponto é apenas um dentre os muitos outros que se fazem necessários para que possamos melhorar os nossos índices no setor. Investir mais em infra-estrutura das escolas, melhorar os projetos pedagógicos e oferecer treinamento, atualização e capacitação aos docentes também figuram como pontos importantes.

Motivação é realmente algo que vem de dentro. A questão salarial é, obviamente, fundamental para que o professor possa exercer com mais tranqüilidade o seu ofício e, principalmente, não dependa de três ou quatro empregos simultâneos para conseguir o sustento de sua família ao final do mês.

Mas ainda questiona-se muito se apenas aumentar o salário ajudará a resolver o problema. Um professor desmotivado e que não vê graça em ir à escola, entrar em sala de aula e se relacionar com seus alunos, certamente continuará a prestar um mau serviço e sua escola continuará a apresentar os velhos problemas já conhecidos como baixos resultados nas avaliações externas, indisciplina e falta de vontade dos alunos em assistir às aulas oferecidas, fatores que convergem para a não aprendizagem dos estudantes.

Que este reajuste, seja ele suficiente ou não, possa ser o início de uma série de medidas a serem tomadas pelo governo federal, secretarias estaduais, escolas e professores para que neste ano que se inicia possamos obter melhores resultados do que os do ano que findou.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 35 – 02 de Janeiro de 2010

Os principais problemas da educação brasileira – parte III (Final)

Há duas semanas, ainda no ano passado, iniciamos uma análise acerca de uma pesquisa realizada em escolas de todo o país, que divulgou serem os seguintes os principais problemas que afligem os educadores brasileiros:
1) Falta de motivação dos alunos
2) Falta de estrutura da escolas
3) Falta de atenção e indisciplina por parte dos alunos
4) Falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos

Hoje discutiremos o problema da falta de participação das famílias na vida escolar de seus filhos. Iniciamos citando que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) rezam que as escolas têm obrigação de se articular com as famílias e os pais têm direito a ter ciência do processo pedagógico, bem como de participar da definição das propostas educacionais.

Infelizmente, não é isto que vemos acontecer. Muitas escolas não se integram com as famílias de seus alunos (ou simplesmente não as conhecem) e muitos pais (infelizmente, a maioria deles, em determinadas comunidades) não se interessam pelo desenvolvimento escolar de seus filhos, achando que a educação dos mesmos é um assunto que só diz respeito à escola, não se importando se o jovem freqüenta ou não a escola e, se freqüenta, se aprende ou não alguma coisa.

Interessante também notar uma certa incoerência existente: gestores e docentes muitas vezes reclamam da falta de participação dos pais de alunos. Entretanto, não se sentem confortáveis quando são questionados ou criticados por eles. É certo que a maioria dos pais não participa por não conhecer seus direitos e não saber como fazê-lo, mas também existem casos em que esta falta de relacionamento tem como origem o fato de não terem sido bem acolhidos pela escola em tentativas anteriores.

Para que a família participe da vida escolar de seus jovens, é necessário que ela tenha informações sobre o processo de ensino e aprendizagem e que seja colocados a par dos objetivos da escola, dos projetos desenvolvidos e que sejam criados momentos em que esta colaboração possa se efetivar. Um relacionamento de qualidade entre escola e família passa por questões muitas vezes simples, mas que em grande parte dos casos são deixados de lado.

São exemplos de atitudes positivas, segundo a revista Gestão Escolar, da Editora Abril, de Agosto de 2009: apresentar a escola e os seus funcionários às famílias; entrevistar os pais dos alunos; assegurar sua participação no projeto político pedagógico da escola; fazer reuniões com pais focadas no processo de ensino; marcar encontros em horários adequados para os pais; dar visibilidade à produção dos educandos; informar a comunidade sobre o andamento da escola; constituir a Associação de Pais e Mestres; incentivar a participação dos pais no Conselho Escolar; disponibilizar espaços para eventos; promover palestras e debates; visitar as famílias dos alunos em casa; promover festas, comemorações, atividades esportivas e culturais, entre outros.

Sabe-se que o “efeito-família” é responsável por 70% do sucesso escolar dos jovens. E podemos constatar isto no horário nobre da TV, quando artistas consagrados vêm dando depoimentos de que acham importante e acompanham a vida escolar de seus filhos. Tudo para incentivar as famílias a se relacionar mais com as escolas. O envolvimento dos adultos, principalmente dos familiares, com a educação, dá às crianças um suporte emocional e efetivo que se reflete em seu melhor desempenho.

Finalmente, citamos que “o papel da escola é ensinar e dos pais é acompanhar e fazer sugestões”. Quem sabe assim, com cada um assumindo seu papel de maneira responsável e cidadã, nosso país consegue a tão sonhada “revolução da educação”, que tanto precisamos.

Filosofia & Cia - Ano I - Número 12 - Dezembro de 2009

Os ’ensaios” de Sir Francis Bacon e os jovens empreendedores brasileiros

Um pouco de história: O inglês Francis Bacon (1561-1626) foi político, filósofo e ensaísta e é considerado o iniciador do Empirismo. Desde cedo, sua educação o orientou para a vida política, na qual exerceu posições elevadas. Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científica, sendo muitas vezes chamado de "fundador da ciência moderna". A produção intelectual de Bacon foi vasta e variada. De modo geral, pode ser dividida em três partes: jurídica, literária e filosófica. Sua obra literária fundamental são os Essays (Ensaios), publicados em 1597,1612 e 1625, cujo tema é familiar e prático. Alguns de seus ditos tornaram-se proverbiais e os “Ensaios” tornaram-se mundialmente famosos.

No ensaio “Da junventude e da Idade”, Bacon escreveu: "Os jovens são mais aptos para inventar do que para julgar, mais aptos para a execução do que para o assessoramento, e mais aptos para novos projetos do que para atividades já estabelecidas. (...) Os jovens, na conduta e na administração dos atos, abraçam mais do que podem segurar, agitam mais do que podem acalmar; voam para o fim sem consideração para com os meios e os graus; perseguem absurdamente alguns princípios com que toparam por acaso; não se importam em inovar, o que provoca transtornos desconhecidos. (...) Os homens maduros fazem objeções demais, demoram-se demais em consultas, arriscam-se muito pouco, arrependem-se cedo demais e raramente levam o empreendimento até o fim, mas se contentam com uma mediocridade de sucesso.”

De volta ao século XXI: O Brasil é campeão no ranking dos países onde os habitantes mais abrem seus próprios negócios. Por isso, é considerado um país de empreendedores, um país cujo povo sempre enxerga uma possibilidade de negócio em todas as coisas, onde as pessoas olham longe e sabem como desenvolver oportunidades. Porém, ao mesmo tempo, o país também é campeão em um outro quesito, pois muitas empresas abrem e fecham depois de pouco tempo de atuação. Em três anos, 56 de cada 100 negócios que são abertos fecham suas portas, sendo que as empresas criadas por pessoas jovens contribuem com mais da metade desta estatística.

Reflexão: Pode-se dizer, genericamente, que empreender é uma tarefa fácil. O difícil é transformar o empreendimento em empresa. E mais difícil ainda é fazer com que ela sobreviva ao longo do tempo, enfrentando os problemas que foram vislumbrados na época do seu planejamento e, principalmente, enfrentando os problemas que não foram visualizados nesta fase. E há ainda os casos (que não são poucos) de empreendimentos que iniciaram as atividades sem sequer um mínimo de planejamento ! O que mais se exige no mundo de hoje, tanto dos jovens empreendedores quanto das pessoas mais maduras, é que eles têm que ser competentes para manter suas empresas. Normalmente, o empreendedor é movido pelo seguinte pensamento: "Gosto de uma coisa, então vou trabalhar com isso". Talvez por isto, os jovens empreendedores, por serem mais ousados e, talvez, menos responsáveis, falham tanto. Na prática, não basta o dono do novo negócio gostar da ideia, tem que saber fazer bem feito e, principalmente, os consumidores e clientes têm que gostar dos produtos e dos serviços oferecidos.

Uma boa prática talvez seja aliar o dinamismo, a ousadia e a vontade dos mais jovens com a experiência, a calma e a maturidade dos mais velhos em um mesmo negócio. Como diria ainda Sir Francis Bacon: “Não há dúvida de que é bom forçar o emprego de ambos, porque as virtudes de qualquer um deles poderão corrigir os defeitos dos dois”. Desejo a todos um 2010 melhor que 2009, com muitas realizações pessoais e profissionais. Nos vemos em Janeiro. Um abraço a todos e até lá.

Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 34 – 26 de Dezembro de 2009

Os principais problemas da educação brasileira – parte II

Na semana passada, iniciamos uma análise acerca de uma pesquisa realizada em escolas de todo o país, que divulgou serem os seguintes os principais problemas que afligem os educadores brasileiros:
1) Falta de motivação dos alunos
2) Falta de estrutura da escolas
3) Falta de atenção e indisciplina por parte dos alunos
4) Falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos

Hoje discutiremos dois graves problemas: a preocupante falta de atenção dos estudantes e a muito mais preocupante indisciplina de nossas crianças e jovens, que tem chegado a níveis impensados e absurdos. Constatamos desde simples brigas e desentendimentos entre jovens ou turmas de jovens até fatos da maior gravidade como agressões, ameaças e tentativas de seqüestro de familiares, professores, coordenadores e diretores. Algumas das conseqüências destes fatos são o assustador aumento do número de afastamentos e licenças de docentes e o ambiente de constante pressão e medo que muitas vezes ronda as escolas e as comunidades onde elas se inserem.

Uma excelente matéria sobre o assunto foi publicada pela Revista Nova Escola, da Editora Abril, em Outubro deste ano, que trata exatamente do problema da indisciplina no ambiente escolar. Na referida reportagem, o autor constata que os conflitos nunca deixarão de existir na vida em sociedade, inclusive nas escolas. Trata-se, segundo ele, de uma manifestação natural de crianças e jovens, que pode e deve ser controlada. Deixa claro também que a formação moral dos educandos deve ser realizada pela família e pela escola. Este é um outro tema bastante delicado, que será abordado em nossa próxima coluna, semana que vem.

Em um determinado ponto, a matéria cita que “as relações entre crianças e adultos devem ser baseadas na cooperação e no entendimento do que é ou não moralmente aceito e por quê”. Isto nos permite concluir ser a indisciplina muito mais um reflexo dos problemas enfrentados pelo sistema educacional. A indisciplina é sintoma, e não causa ...

Foram listadas como possíveis causas da indisciplina escolar as regras impostas (e não combinadas com os alunos); a falta de autoridade do professor (faz sentido, pois se a aula está um tédio, o aluno vai procurar algo mais interessante para fazer, o que muitas vezes é confundido como indisciplina); a incompetência (o que se espera da escola é o conhecimento. É isto que faz o aluno respeitar o ambiente à sua volta) e a didática inadequada (se o assunto não diz nada ao aluno e a estratégia de ensino é equivocada, não adianta exigir que os alunos cumpram suas tarefas e seus deveres).

Realmente podemos verificar que as estratégias usadas hoje em dia para lidar com a indisciplina têm sido absolutamente desastrosas. Se repreensão funcionasse, não seria tão difícil lidar com a indisciplina em sala de aula. Alguns problemas de comportamento podem ser um jeito de as crianças mostrarem que “uma regra é desnecessária ou que não está funcionando a contento”.

Voltando à reportagem, foram sugeridas possíveis soluções para a questão da indisciplina. Entre elas estão: distinguir as regras morais das convencionais, definí-las, discutí-las e negociá-las; equilibrar de maneira justa a reação a um problema; conquistar a autoridade com o saber e o respeito ao aluno; ter como objetivo construir um ambiente cooperativo, onde o aluno tenha voz, onde todos se respeitam e são respeitados; agir na hora certa e sempre manter a calma; ficar sempre alerta porque a indisciplina nunca acaba e ainda incentivar e respeitar a autonomia do aluno, de forma a torná-lo mais apto a tomar decisões responsáveis.

É evidente que se trata de um assunto polêmico e complexo e que não há solução mágica e fácil. Considera-se, entretanto, que é essencial trabalhar como conteúdos de ensino as questões relacionadas à moral e ao convívio social e criar um ambiente de cooperação, onde o respeito ao outro, seja ele um colega de sala, um funcionário, professor ou gestor da escola esteja constantemente presente.