sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Filosofia & Cia - Ano I - Número 2 - Fevereiro de 2009

De Sócrates à Sociedade da Informação

Um pouco de passado: Como é sabido, Sócrates, o grande filósofo grego do século IV a.C, nada deixou escrito. As notícias que temos de sua vida e de seu pensamento são conhecidas através dos relatos de dois de seus discípulos, Xenofonte e Platão. Sua prática mais famosa, conhecida como método socrático, utilizava um discurso caracterizado pela maiêutica (“o parto das idéias”) e pela ironia, que levava o seu interlocutor a entrar em contradição, tentando depois levá-lo a chegar à conclusão de que o seu conhecimento é limitado. O método socrático é baseada em perguntas, respostas e mais perguntas. Acredito que a expressão “Por que ?” fosse uma das mais utilizadas por Sócrates em suas conversas diárias com seus contemporâneos na antiga Grécia.
De volta ao século XXI: Situação semelhante vivenciamos com as crianças. Os questionamentos ajudam-nas a desvendar o universo, a descobrir as coisas do mundo à sua volta. A partir dos quatro anos de idade elas começam a bombardear os pais com perguntas e mais perguntas utilizando o conhecido “Por que ?”. Interessante notar que as crianças aceitam as respostas apenas durante um certo tempo, principalmente aquelas que contém um certo grau de fantasia, magia ou invenção. A partir do momento que a razão se desenvolve, elas encontram uma maneira de levar adiante seus questionamentos e voltam a perguntar: “Por que ?”. A partir daí, acontece algo um tanto quanto misterioso e muito preocupante, pois quando crescemos deixamos de indagar, paramos de perguntar e não nos preocupamos mais com o “Porquê” das coisas. Nos acomodamos às explicações que nos são oferecidas e nos incomodamos com quem insiste em tentar nos retirar dessa situação.

Reflexão: Convido você, leitor, a refletir sobre este assunto, exemplificando dois casos. O que normalmente acontece na pré-escola ou nos primeiros anos do ensino fundamental com uma criança questionadora, que tudo pergunta e tudo quer saber? Muito provavelmente, para os demais colegas da sala de aula esta criança é considerada “chata”, “mala” ou “CDF”. É rotulada como aquela que atrapalha e interrompe a aula, como se a tal da aula se restringisse a um evento onde apenas uma pessoa tem o direito de falar e todos as outras devem apenas observar, sem direito a dúvidas e interrupções. É taxada como sendo aquela que impede que a aula termine cedo, para todos saiam para o recreio.
Para as professoras, esta criança questionadora é considerada, na maioria das vezes, prejudicial ao bom andamento dos trabalhos, principalmente pela possibilidade de ela as deixarem em uma “saia justa”, fazendo perguntas e questionamentos inteligentes que as obriguem a sairem das explicações padronizadas ou terem que pesquisar o tema com mais profundidade, fato que, lamentavelmente, é considerado por grande parte da classe docente com sendo um grande incoveniente.
O segundo caso também trata das crianças. Não das crianças ditas “normais”, mas aquelas consideradas “superdotadas”. O que normalmente acontece com elas? Em um país desenvolvido, que se preocupa com questões desta natureza, muito provavelmente estariam frequentando escolas especiais onde seriam incentivadas e motivadas a desenvolver seus dons e talentos adquiridos ao nascer. No Brasil existem programas de atendimento a estas crianças, mas são insuficientes e se restringem apenas aos grandes centros urbanos. De uma forma geral, nossos superdotados não são estimulados e perdem todo o seu potencial nos primeiros anos de escola ou não recebem cuidados especiais, passando a desenvolver problemas sérios de relacionamento.
Acredito que ambos os exemplos nos ajudam a entender porque ainda somos considerados “o país do futuro”, um futuro que insiste em nunca se tornar presente! Ainda não vivenciamos na plenitude a Sociedade da Informação e do Conhecimento que já acontece nos países mais ricos e desenvolvidos do mundo. Registramos poucas patentes, não detemos conhecimentos básicos de ciência e tecnologia em muitas áreas importantes e não realizamos pesquisas científicas relevantes. Muitas empresas de grande porte mantêm vagas abertas, com ótimos salários, que simplesmente, não conseguem ser preenchidas por falta de qualificação dos interessados.
Nos tornamos um mercado consumidor de idéias ou produtos que são produzidos fora de nosso país, ou aqui mesmo, por grandes empresas transnacionais cuja origem está sempre localizada na parte de cima da linha do Equador. O problema maior disto tudo é que os lucros destas empresas normalmente são enviados em forma de royalties para suas sedes, saindo divisas de nosso país. Desta forma, não avançamos e nem nos desenvolvemos! Com a abertura dos mercados, pequenas empresas nacionais sucumbem à força e à pressão de grandes grupos mundiais, simplesmente fechando suas portas ou sendo absorvidas pelas mais poderosas. Talvez esta seja a face mais cruel do tão propalado advento da globalização ...
Talvez tudo isto aconteça pela ausência do “Por que” no momento em que ele mais seria necessário ou talvez falte-nos agir mais vezes como Sócrates ! Estou certo de que também falta ao nosso país um olhar mais atento à questão da educação de seu povo. Faltam vontade política e investimentos, justamente em um setor que é a base para o crescimento, desenvolvimento e autonomia de qualquer nação. E este é exatamente o assunto de nossa próxima coluna. Fica combinado assim, nos vemos em Março. Um abraço a todos e até lá.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Filosofia & Cia - Ano I - Número 1 - Janeiro de 2009

O Início da Jornada : QI , QE e Filosofia

Não é novidade para ninguém que um certificado ou diploma, seja ele de nível médio, técnico ou superior, já não é garantia nenhuma de emprego ou de colocação profissional neste mundo globalizado. Hoje em dia, espera-se mais de um candidato a um emprego do que o simples fato de portar um canudo. Espera-se dele um alto QI, muito conhecimento a respeito do trabalho a ser desempenhado e também uma boa dose de QE. Mas o que são afinal estes tais QI e QE ?

Vamos definir estes termos para uma boa compreensão do assunto e para podermos continuar com o nosso raciocínio. De maneira simples e bem humorada, podemos dizer que o QE é o irmão mais novo do bom, velho e já bastante conhecido QI .

QI é a sigla que representa o Quociente de Inteligência de uma pessoa, que pode ser definido como “a medida obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas (inteligência) de um sujeito, em comparação ao seu grupo etário” (Wikipédia, 2008). O teste de QI não indica exatamente quanto uma pessoa conhece de um assunto ou área do conhecimento, mas mede um conjunto de habilidades que correlacionam fortemente aptidões acadêmicas e produção intelectual. Deve-se, porém, atentar-se para o fato de existirem pessoas com poucos anos de estudo e com um QI considerado alto, mas este não é o assunto a ser tratado neste momento. O que importa agora é entender que um alto QI está diretamente relacionado com uma (possível) maior capacidade de aprendizagem e, consequentemente, um conhecimento mais aprofundado de um assunto específico ou de uma área do conhecimento.

Importante também salientar que há algum tempo (e talvez não seja tanto tempo assim!) o fato de uma pessoa possuir um diploma de um curso superior, por exemplo, era sinal de que ele tinha grandes e profundos conhecimentos sobre um assunto ou uma área do conhecimento. E isto já bastava para que ele fosse contratado por uma grande empresa!

Hoje os tempos são outros. Além de provas de conhecimentos específicos, relativos à área a que pleiteia o cargo, um candidato a um emprego necessita realizar uma bateria de outros testes, entre eles, testes psicológicos e dinâmicas de grupo, além de passar por entrevistas individuais com gerentes e outros profissionais especializados. Isto tudo para “tentar perceber” o QE do candidato.

QE é a sigla que representa o quociente emocional de uma pessoa. Envolve o conceito de inteligência emocional proposta por Daniel Goleman e que pode ser vizualizada nas inteligências intra-pessoal e inter-pessoal, propostas por Howard Gardner. Trocando em miúdos, o quociente emocional de uma pessoa diz respeito às suas características pessoais e a forma de relacionamento com outras pessoas e a comunidade que a cerca. O QE não pode ser medido por testes similares ao teste de QI, mas pode-se tentar percebê-lo através de entrevistas e, principalmente, através de atividades e dinâmicas onde se reproduz um ambiente cotidiano ou o ambiente de uma empresa, por exemplo, para se captar características intrínsecas da personalidade de uma pessoa.

Podemos então, finalmente, retornar ao início desta coluna, fazendo a seguinte pergunta: que diabos a filosofia tem a ver com tudo isto? A resposta é: tudo a ver! A partir do momento em que são cada vez mais exigidos das pessoas (candidatos a vagas de emprego, funcionários e chefes de forma geral) atributos comportamentais positivos como trabalho em equipe, trabalho sob pressão, pontualidade, simpatia, bom humor, empatia, entre vários outros, um maior conhecimento de seu ego, o discernimento de seu papel na sociedade e o espírito crítico a respeito das coisas e das pessoas farão a diferença a favor ou contra esta pessoa.

O objetivo desta coluna mensal em um Jornal de Filosofia é justamente trazer à tona pensamentos de filósofos e estudiosos, muitos deles nascidos há centenas de anos atrás e mostrar como, em sua grande maioria, são aplicáveis ao mundo de hoje e às relações que mantemos com nossos semelhantes. A idéia é falar sobre educação, carreira, emprego, liderança, relacionamentos entre colegas de uma mesma empresa e o quase sempre conturbado relacionamento entre chefes e empregados, sempre à luz de filósofos e pensadores consagrados. Por isto, desde que recebi esta incumbência de meu amigo xará MPR (a quem agradeço publicamente o convite e a confiança) dei o nome a esta coluna de Filosofia & Cia.

Então fica combinado, nos encontraremos a cada mês, a partir do próximo, até o final do ano de 2009, tentando tornar este objetivo uma realidade. Conto com vocês, leitores, nesta jornada que agora se inicia, enviando críticas e sugestões de como melhorar este cantinho do jornal, assim como sugerindo temas a serem abordados na coluna.

Até a próxima e um abraço a todos.

Marcelo Alvim Jorge
malvim.sigma@gmail.com

Coluna "Filosofia & Cia" do Jornal Cultural "Conhece-te a ti mesmo"

A partir de agora você pode acompanhar, aqui no Blog, a coluna "Filosofia & Cia", que é publicada mensalmente no Jornal Cultural "Conhece-te a ti mesmo", em Conselheiro Lafaiete.