Ainda sobre o sistema escolar de ciclos
Semana passada falamos um pouco sobre os ciclos escolares, que são períodos de escolarização que ultrapassam as tradicionais séries anuais e que favorecem o trabalho com alunos de diferentes estilos de aprendizagem. Afirmamos que os ciclos representam uma tentativa de superar a excessiva fragmentação do currículo que decorre do regime seriado durante o processo de escolarização, mas que ainda não têm a sua estrutura e sua prática plenamente consolidadas.
Hoje mostraremos uma pesquisa que foi divulgada recentemente exatamente sobre o sistema escolar de ciclos e que indica que este sistema tem desempenho equivalente ao de séries. A conclusão foi tirada a partir da tese de doutorado “Análise do desempenho do ensino fundamental de escolas cicladas e não-cicladas”, da educadora Ivanete Bellucci Pires de Almeida, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A pesquisadora analisou 110 unidades escolares públicas de Campinas (SP), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ), a partir de dados de proficiência média em leitura e matemática, trabalho pedagógico do professor e nível socioeconômico. Foram cruzados dados de aplicações de testes de leitura e matemática em 12.678 alunos do ensino fundamental dos três pólos, sendo 10.201 de escolas que adotam os ciclos e 2.477 que utilizam as séries.
A pesquisa envolveu também 416 professores e teve as informações cruzadas por meio de um modelo matemático que facilitou a identificação de escolas eficientes e não eficientes, ao mesmo tempo em que permitiu trabalhar com múltiplos recursos e possibilitou melhores resultados para o estudo.
A análise dos dados revelou uma realidade bastante interessante, pois o desempenho dos alunos é altamente influenciado por três características dos professores avaliados: a participação ativa do educador na concepção do projeto pedagógico da escola; a manutenção do professor na escola por mais de três anos; e a experiência de mais de três anos do educador em uma determinada série. Resumindo, entre aquelas que se apresentaram eficientes, o professor é participante e entende que seu trabalho deve fazer diferença na escola. Isto nos permite concluir que quanto mais tempo o professor passar em uma determinada série, maior será a oportunidade de se aprimorar, refletindo no desempenho das crianças.
Outra conclusão muito importante é que a eficiência das escolas independe do nível socioeconômico médio. Algumas escolas consideradas eficientes estão em lugares periféricos de seus municípios, informação que nos permite dizer que é possível, mesmo na periferia, com condições adversas, fazer um trabalho significativo com os alunos e desenvolver um trabalho que faz diferença na vida dos educandos. A própria pesquisador acredita que há necessidade de se investigar profundamente os elementos que conduzem essas unidades à eficiência para que sejam aplicados em outras escolas.
Por fim, é necessário compreender o verdadeiro sentido de um sistema de ciclos, de forma a não deturpar os conceitos e transformar a ideia em uma outra forma de manutenção da fragmentação do conhecimento, ao invés de um pensamento que vai de encontro a uma construção de saberes articulados. Também podemos constatar, mais uma vez, ser o professor o fiel desta balança. Novamente, o aspecto humano é que faz toda a diferença. Nos lugares onde existe uma participação ativa e verdadeiramente comprometida do educador, os resultados acabam surgindo de forma exuberante.
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