sábado, 30 de janeiro de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 38 – 30 de Janeiro de 2010

Sobre o sistema escolar de ciclos

Os ciclos escolares são períodos de escolarização que ultrapassam as tradicionais séries anuais, organizados em blocos cuja duração é variável, podendo atingir até mesmo a totalidade de anos prevista para um determinado nível de ensino. A ordenação do tempo escolar se faz em torno de unidades maiores e mais flexíveis, de forma a favorecer o trabalho com clientelas de diferentes procedências e estilos de aprendizagem, procurando assegurar que o professor e a escola não percam de vista as exigências de educação postas para o período.

Interessante notar que, no século passado, as iniciativas de introdução desse regime poderiam ser consideradas como mais apropriadas a países em desenvolvimento. Atualmente, as propostas de ciclos passam também a ser utilizadas por muitos países de primeiro mundo, em que os problemas educacionais aparentemente são menos graves do que os nossos.

Pode-se dizer que os ciclos representam uma tentativa de superar a excessiva fragmentação do currículo que decorre do regime seriado durante o processo de escolarização. As experiências brasileiras são bastante variadas e numerosas e há no país uma expressiva quantidade de iniciativas ainda muito recentes, de sorte que os ciclos ainda não conseguiram se consolidar enquanto estruturas e práticas inovadoras. Apenas em relação aos ciclos de alfabetização parece haver um relativo consenso de que eles são irreversíveis nas redes em que estão instalados há mais tempo, embora estejam ainda longe de ter concretizado um modelo verdadeiramente novo de operar da escola.

Na realidade, ainda existem grandes dúvidas e controvérsias sobre as medidas que devem acompanhar os ciclos, principalmente porque elas abalam o modo de funcionar da escola, forjado há séculos, sem que tenham delineado com relativa clareza como será a nova maneira de se trabalhar a relação ensino-aprendizagem.

Percebe-se, porém, que o grau de satisfação dos atores envolvidos é um elemento determinante no que diz respeito à probabilidade de sucesso de sua implementação. No caso dos ciclos, a adesão apenas parcial ao regime e os questionamentos que se fazem às políticas que buscam implementá-los são compreensíveis e até mesmo esperados, uma vez que trata-se de uma mudança muito mais cultural do que nas formalidades da estrutura da escola.

O grande desafio é exatamente o de fazer surgir o novo em meio a um aparato escolar que tem grande poder de regulação e que funciona a partir de princípios muitas vezes contraditórios. Tudo indica que os ciclos demandarão muito tempo ainda para serem consolidados, já que o tempo de mudar as coisas no papel é, na prática, muito diferente do tempo de transformar corações e mentes e moldar uma nova realidade para a escola.

Recente pesquisa divulgada sobre o sistema escolar de ciclos indica que ele tem desempenho equivalente ao de séries. A conclusão foi tirada a partir da tese de doutorado “Análise do desempenho do ensino fundamental de escolas cicladas e não-cicladas”, da educadora Ivanete Bellucci Pires de Almeida, defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre a qual falaremos com mais detalhes na semana que vem. Um abraço a todos e até lá.

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