segunda-feira, 22 de junho de 2009

Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 9 – 20 de Junho de 2009

Sobre a obsolescência de nossa prática escolar

Há poucos dias atrás dei um depoimento sobre a inevitável obsolescência que todos nós, professores, enfrentamos em nossa prática escolar e fui mal interpretado. Resolvi retomar o tema para refletirmos juntos sobre este assunto aqui em nossa coluna. Duas questões fundamentais me chamaram a atenção na referida passagem: I) Por que ficamos obsoletos com tamanha rapidez em nossa prática pedagógica ?; e II) Por que relutamos em aceitar esta situação ?

Com relação ao primeiro questionamento, acredito que a estonteante velocidade em que o mundo atual se modifica e se reinventa seja a resposta mais provável. Os jovens de hoje têm muitas outras atividades que concorrem com a escola, como por exemplo, internet, TV, vídeo-games, computador, paqueras, esportes, música, etc. Se não trabalharmos no sentido de fazermos com que eles gostem do ambiente escolar e se interessem pelos ensinamentos que oferecemos, o resultado se torna muito frustrante para todos. E, neste ambiente, as metodologias que usamos para ensinar se tornam ponto chave na solução ou minimização do problema.

Há não muito tempo atrás, quem saia da universidade dominava em grande parte os conhecimentos necessários à prática profissional e já tinha quase que assegurado um emprego no mercado de trabalho. Este cenário se alterou drasticamente nos últimos tempos e ouso dizer que, hoje em dia, um curso superior apenas dá aos formados conhecimentos básicos ao exercício profissional (quando se consegue uma vaga no mundo do trabalho! ), sendo o restante adquirido com a prática e através de formação continuada, ou seja, cursos de especialização, aperfeiçoamento e muito estudo individual.

O mundo moderno nos indica algumas estratégias interessantes que podem ser usadas em sala de aula e que nos possibilitam algum sucesso, já comprovado, na árdua tarefa de ensinar. Vamos fazer um pequeno exercício e verificar se as usamos em nosso dia-a-dia escolar. Realizamos trabalhos interdisciplinares com nossos colegas professores de outras matérias? Envolvemos os alunos com projetos em sala de aula ou ainda somos adeptos da tradicional metodologia do “cuspe e giz”? Motivamos nossos alunos com atividades lúdicas e prazerosas ou ainda usamos o tradicional “ditar e copiar”? Trazemos situações interessantes do cotidiano para dentro da sala de aula, de forma a contextualizar nossos ensinamentos? Usamos a tecnologia da informação como nossa aliada na educação de nossos alunos? Nos preocupamos com a formação integral de nossos alunos ou apenas em ensinar o conteúdo de nossa disciplina? Acompanhamos teorias científicas mais modernas e as colocamos em prática de alguma forma? O vestibular tradicional, da forma como conhecemos hoje, está prestes a morrer. Estamos preparados para ensinar nossos jovens de outra forma, de um modo que não privilegie a memorização de conteúdos e sim o raciocínio ?

Existem outras tantas questões a serem colocadas, mas podemos parar por aqui. Se você que agora lê esta matéria é professor e respondeu NÃO a pelo menos uma das perguntas anteriores, saiba que muito possivelmente está defasado em relação às suas práticas escolares. E isto nos remete à segunda questão: por que relutamos tanto em aceitar este fato? Esta pergunta é bem mais complexa que a primeira e a melhor resposta para ela talvez se baseie na angústia que todos nós sentimos por não dominarmos todos os conteúdos da nossa própria área de atuação, por não conseguirmos acompanhar a urgência do mundo moderno e também por concluirmos que as nossas aulas de ontem já não podem ser repetidas da mesma forma hoje, pois alguma coisa no mundo já mudou neste pequeno espaço de tempo.

Estarmos defasados em nossas práticas pedagógicas não é nenhum crime, não é vergonhoso e nem humilhante, tampouco descredencia as pessoas ligadas à educação. Muito pelo contrário, torna-se imprescindível percebermos que isto acontece (e cada vez mais rápido e de forma cada vez mais brutal) com cada um de nós, que temos o nobre papel de ensinar, transmitir conhecimentos e, principalmente, formar pessoas para a vida, cidadãos verdadeiros. Entretanto, também estou certo de que aceitar esta situação e, principalmente, sair de uma possível zona de conforto e se movimentar para evitar que a obsolescência aconteça (ou pelo menos, tentar minimizar os seus efeitos) já é um bom primeiro passo para se tentar reverter este quadro.

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