Os E-books não significam apenas uma mudança de mídia ...
Há duas semanas vimos discutindo à respeito dos livros digitais, ou e-books, trazendo ao leitor alguns posicionamentos conflitantes com relação à esta nova tecnologia. Alguns intelectuais são radicais a ponto de acharem que os livros correm o risco de serem "arrastados pela enxurrada" das novas tecnologias e do audiovisual e devem levar a pior na briga pela atenção das pessoas, principalmente dos jovens e crianças.
Outros já acham que ambos podem conviver harmoniosamente e que o fato de as crianças e jovens se interessarem pelos livros digitais não deve ser considerado uma coisa ruim, pelo contrário, pois muitos deles podem passar a tomar gosto pela leitura através da nova mídia, uma vez que não tinham esse hábito no modelo tradicional dos livros feitos de papel.
Dados do Observatório do Livro e da Leitura indicam que pelo menos 3% dos leitores brasileiros são adeptos de mídias digitais. O número corresponde a 4,7 milhões entre os 95 milhões das pessoas que têm o hábito de ler. Segundo a entidade, a tecnologia pode ter um papel importante neste contexto, representando a democratização da leitura. "O livro digital pode trazer uma contribuição formidável para a sociedade na medida em que o livro se torne mais acessível às massas", explicou o diretor do Observatório, Galeno Amorim durante o encerramento do 1º Congresso Internacional do Livro Digital no Brasil, realizado em São Paulo.
Segundo ele, no Brasil 77 milhões de pessoas não têm o hábito de ler livros por razões econômicas e sociais. "É importante ressaltar que o livro digital é uma oportunidade tanto para os ricos quanto para os pobres: se por um lado vamos democratizar o livro para todas as classes, também vamos disponibilizar títulos que não estão mais disponíveis no mercado", afirmou.
O fato é que esta mudança de mídia pode representar muito mais do que simplesmente a alteração da forma de como se lê um livro. Veja só que interessante este exemplo: a Macmillan, uma das cinco maiores editoras de livros didáticos e técnicos dos Estados Unidos, está lançando um software chamado DynamicBooks, que permitirá a professores universitários editar versões digitais de livros didáticos, adaptando-as às necessidades específicas de suas classes, criando uma espécie de Wikipedia dos livros.
Os professores poderão reorganizar ou eliminar capítulos, inserir currículos ou anotações sobre os cursos, nos textos, bem como acrescentar vídeos, imagens e gráficos, e (o que talvez seja mais importante) reescrever e apagar parágrafos, ilustrações ou equações individuais. Professores que já testaram o software DynamicBooks dizem gostar da ideia de realizar sintonia fina em um livro didático, pois sempre existe uma informação aqui e ali que um professor teria redigido de forma diferente.
O assunto não é dos mais fáceis de se lidar, pois até mesmo algumas editoras americanas, que já permitem certo grau de personalização em seus títulos, hesitam em autorizar mudanças em nível de sentença ou parágrafo. Outras editoras se reservavam o direito de "remover qualquer coisa considerada como plágio ou ofensa", e declaram que confiariam nos alunos, pais e outros professores para ajudá-las a monitorar as alterações.
Embora muitas editoras ofereçam livros didáticos em versões específicas para alguns clientes já há anos (o que permite que capítulos sejam reordenados ou conteúdo criado por terceiros inserido em um livro em papel), o DynamicBooks ofereceria aos professores o direito de alterar sentenças e parágrafos individuais sem consultar o autor do original ou a editora responsável. Em agosto, a Macmillan começou a vender 100 títulos abertos ao DynamicBooks, com o detalhe de que as edições eletrônicas alteráveis serão muito mais baratas que os livros didáticos tradicionais em papel.
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