segunda-feira, 18 de maio de 2009

Filosofia & Cia - Ano I - Número 5 - Maio de 2009

Santo Agostinho e o novo papel do líder nas organizações

Um pouco de história: Santo Agostinho foi o mais influente pensador ocidental dos primeiros séculos da Idade Média (476-1453). A ele se deveu a criação de uma filosofia que, pela primeira vez, deu suporte racional ao cristianismo. Através de seu pensamento, a crença ganhou substância doutrinária para orientar a educação e, à medida que a Igreja se tornava a instituição mais poderosa do Ocidente, sua filosofia, condicionada à fé religiosa e à ética cristã, definia a cultura de seu tempo. Em algumas de suas obras apresenta a doutrina do mestre interior. A ideia é que o mestre não ensina sozinho, mas depende também do outro e, sobretudo, de uma verdade comum aos dois. Assim, o professor (ou o líder, dependendo do contexto) mostra o caminho e o aluno (ou o subordinado) o adota. Assim, o saber brota em seu interior. Esta é a teoria de que “a pessoa que ensina não transmite, mas desperta”.

De volta ao século XXI: No cenário turbulento em que vivemos, a espiritualidade desponta como um caminho para uma relação mais saudável entre os funcionários e as empresas em que atuam, considerando o trabalho como parte de algo que transcende os aspectos materiais e contempla, também, as dimensões psíquicas, sociais e espirituais. As pessoas estão buscando, cada vez mais, alguma coisa que diminua a tormenta do cotidiano e as impeça de serem tragadas pelo mundo do trabalho. Muitos líderes se mostram mais preocupados em servir a seus funcionários do que em dar ordens. Seu maior propósito é ajudar sua equipe a se desenvolver, alinhando suas necessidades e valores aos da empresa. Esta é a teoria do líder servidor, cada vez mais valorizada e adotada em todo o mundo.

Reflexão: Em sua opinião, caro leitor, por que empresas e líderes passaram a agir desta forma ? Na minha opinião, é para compensar a pressão, cada vez maior, que vem sendo colocada sobre os funcionários. Quem acredita que está na empresa só para receber o pagamento no fim do mês, cedo ou tarde, acaba sucumbindo ao cotidiano e à mesmice de suas tarefas rotineiras. O fim, normalmente, é uma alta dose de estresse e depressão. Por outro lado, quando estão conscientes do seu papel na empresa e na sociedade, gostam do que fazem e acreditam nos valores da organização, os profissionais se sentem muito mais felizes e motivados. E quem acredita que há mais coisas nesta vida, além de um contracheque no final do mês, tem mais chances de ser uma pessoa melhor e trabalhar com mais disposição e eficiência. Como conseqüência de tudo isto, vem a produtividade, a criatividade e a inovação.

Certamente cada um de vocês poderá me dizer que conhece pessoas que não agem desta forma. São denominados chefes, mas possivelmente não devem ser bons líderes. E, realmente, muitos executivos ainda acham que, pelo fato de estarem no comando, seus funcionários é que têm de servi-los. Mas isso já não funciona bem nos dias atuais. As empresas precisam contar com o coração, a mente e o espírito dos seus colaboradores. E só se consegue isso quando o líder deixa de lado o desejo do poder e passa a servir, em vez de ser servido. Com essa filosofia, o líder e seu time normalmente conseguem superar metas previstas, conseguindo excelentes resultados.

Este modelo não é novo, mas só agora vem ganhando força, como um reflexo do crescente movimento de espiritualidade nas organizações. Essa corrente é uma resposta à alarmante crise existencial que assola o universo corporativo. Muitos profissionais já não querem mais atuar numa empresa que tem valores tão diferentes dos seus. Não estão mais dispostos a abrir mão da vida pessoal e precisam ver sentido naquilo que fazem. E, neste cenário, cabe ao novo líder o papel de incentivar o desenvolvimento espiritual de sua equipe. As empresas vencedoras sabem que a inovação e a ambição vêm do coração. Se o colaborador não trabalha com o coração, não é competitivo como deveria ser. E a empresa muitas vezes paga um alto preço por isto, perdendo mercado para suas concorrentes.

Trata-se de uma teoria um tanto quanto óbvia e muito singela, a ponto de Santo Agostinho a considerar normal, se vivesse em nossos tempos. Mas é essa a postura que vai garantir a competitividade das empresas nos próximos anos. E, quem não perceber sua importância, corre o risco de ficar fora do mercado. Nos vemos em Junho, quando estaremos comemorando a centésima edição deste Jornal. Até lá e um abraço a todos.

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