Melhoria do Ensino reduz desigualdades sociais
É preciso melhorar o sistema de ensino no Brasil para que as desigualdades sociais sejam reduzidas e haja mais inclusão social. Esta é a avaliação dos participantes de plenária sobre o tema, na 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que aconteceu em São Paulo no mês de Julho.
Luiz Davidovich, físico e secretário-geral do evento lembrou que os cientistas e a comunidade acadêmica não podem resolver todos os problemas, que, muitas vezes, têm a ver com a adoção de políticas públicas corretas para reduzir a lacuna que existe entre os menos e os mais favorecidos. Segundo ele, “questões de políticas públicas, e que são importantes, extravasam o âmbito da ciência". Um exemplo citado por ele é sobre a assistência educacional às crianças de até 3 anos. Para Davidovich, essa assistência é fundamental para "determinar o horizonte, o futuro dessas crianças." Existem estatísticas, com números levantados em outros países, que mostram que uma intervenção nessa faixa de idade muda o rumo do cidadão, reduzindo a taxa de criminalidade e aumentando a chance de acesso ao ensino superior. "Então, essa é uma questão que independe da ciência e tecnologia", disse.
Por outro lado, ele destaca que é importante a ciência atuar em conjunto com as tecnologias sociais, que procuram estimular novos tipos de empreendimentos. Para ele, é importante que a inovação não ocorra apenas nas empresas clássicas, mas também em novos setores como cooperativas e empreendimentos sociais e populares. "Em outras palavras, procura-se também conceber novos tipos de empresa, com inovação, mas que não participem de um processo de exclusão social e que apresentem perspectivas para um novo modelo de organização social", observa. Nesse aspecto, ele defende mudanças, por exemplo, no ensino de ciências, não da forma como é feito em muitas escolas, apenas com o quadro de giz, mas que permita ao estudante vivenciar as experiências.
Outro problema que acaba se refletindo na inclusão é a falta de uma escola boa e eficiente para todos. Davidovich lembra que, nas comunidades carentes, os pais analfabetos, ao descobrirem que os filhos já leem, ficam satisfeitos e acham que é o suficiente para uma ocupação no mercado de trabalho. "Não basta a criança aprender a ler e ser enviada ao mercado de trabalho. Ela tem de aprender a perguntar, questionar, interrogar a natureza". Davidovich também acredita que é preciso investir mais na formação dos professores. Ele sugeriu que haja um maior envolvimento de todos nessa questão, do Estado e do próprio mundo acadêmico, principalmente nas instituições públicas.
Na plenária sobre o papel da ciência, da tecnologia e da inovação na redução das desigualdades sociais e na inclusão social como consequência da democracia e da cidadania, foi mostrado que a nota mínima para entrar, em uma universidade, no curso de medicina, é 8,3, enquanto para os candidatos à licenciatura de física e matemática, é pouco mais de 3. "Ora, esses serão os professores e educadores das nossas crianças, os formadores das nossas crianças. Entram no vestibular com média 3. Este é um paradoxo que já foi resolvido em outros países", afirmou.
O especialista chegou a comparar esse cenário a um regime separatista como o apartheid, em que há dois grupos: um que é beneficiado com educação de qualidade e outro que recebe uma educação de baixa qualidade. "Se não mudarmos isso, o país não terá um forte protagonismo internacional. Vem de séculos essa realidade, da escravidão, da segregação social e precisa de dez a 20 anos para ser resolvida. Deve ser iniciada logo uma mudança desse quadro, para que, daqui a 20 anos, não tenhamos mais essa segregação".
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