A carga excessiva de conhecimentos do Ensino Médio no Brasil
Semana passada discutimos aqui em nossa coluna sobre a distância existente entre a Educação Básica e a Universidade, destacando alguns posicionamentos do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Carlos Alberto Aragão, que afirmou que as instituições de ensino superior do país precisam começar a lidar mais com o que ele chamou de "pré-universidade". Segundo ele, os problemas da universidade começam no ensino fundamental, que não consegue ensinar bem às crianças as duas linguagens mais importantes para o desenvolvimento científico do país: matemática e português.
Na ocasião, Aragão também criticou o fato de o estudante precisar escolher precocemente, ao final do ensino médio, a carreira que pretende seguir. Ele propôs que os cursos de graduação ofereçam, nos dois primeiros anos, uma formação mais básica para que após esse período o estudante possa escolher que área pretende seguir, pois, desta forma, ele fará uma escolha madura que terá depois de dois anos na universidade. Destacamos, na coluna, que o grande desafio seria a organização de cursos superiores de graduação que possam promover esta formação um tanto quanto genérica, para só depois entrar na parte específica de cada curso, de acordo com a escolha do estudante.
Esta semana, toco em outro grande problema que aflige o ensino do brasileiro, que é a carga excessiva de conteúdo do ensino médio. Li uma vez que o Brasil se destaca como o país que mais exige de seu jovem durante o ensino médio conhecimentos que, na grande parte das vezes, não serão “úteis” no futuro, na profissão que escolher. Falando de outra forma: o ensino médio brasileiro, de modo geral, exige do estudante uma carga de conhecimentos imensa de Física, Química e Biologia, seja qual for a profissão a ser escolhida por ele. Desta forma, um aluno que vai prestar vestibular para Direito, por exemplo, terá que estudar todo o conteúdo destas disciplinas, da mesma forma que um aluno disposto a fazer vestibular para Engenharia ou Medicina. Até nos países mais desenvolvidos, como nos EUA e na Europa, os alunos do ensino médio não são bombardeados com tamanha carga de estudos.
Uma possível saída para o problema seria fazer com que, durante os dois primeiros anos do ensino médio, os alunos estudassem apenas o básico de cada uma destas disciplinas, ou seja, aquilo que necessitam saber, independente da carreira ou profissão a ser escolhida. Após este perídio, um tanto mais maduros, de acordo com suas escolhas, estudariam a “parte mais profunda e específica”, por assim dizer, das disciplinas que são mais importantes para sua futura profissão.
Me lembro muito bem das aulas de Física que assistia quando fazia o ensino médio. Gostava da parte de ótica, quando aprendi coisas importantes sobre reflexão, refração, espelhos côncavos e convexos. Foram lições que guardei para a vida toda, muito úteis quando olho no espelhos retrovisores de meu carro. Entretanto, nunca precisei calcular a distância focal do espelho a partir do foco e do vértice, por exemplo.
Devo ser capaz de, até hoje, tanto tempo depois, desenhar uma tabela periódica dos elementos químicos, com um percentual de erro que não chega a 10%. Isto porque fui obrigado a decorar elemento por elemento, toda a tabela criada pelo russo Dmitri Ivanovich Mendeleev (nunca esqueci o nome deste cara, mas nunca foi necessário usar este conhecimento até o dia de hoje !). Na época, não era fornecida a tabela periódica no final da prova do vestibular e o jeito era decorar tudo mesmo. Minha estratégia era fazer frases com os elementos de cada coluna, de forma a ficar mais fácil a memorização. A primeira coluna, por exemplo, tinha a seguinte frase: “Hoje Lili só pode roubar cenouras frescas”. Isto correspondia aos elementos Hidrogênio = hoje / Lítio = Lili / Sódio = só / Potássio = pode / Rubídio = roubar / Césio = Cenouras / Frâncio = Frescas. Tem base isto ?
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