segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Filosofia & Cia - Ano I - Número 9 - Setembro de 2009

Nicolau Maquiavel e os seres da “pólis Brasília”

Um pouco de história: Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, Itália, em 1469. Seguindo o espírito renascentista, inovador, desejou superar o medieval e sugeriu separar os interesses do Estado dos dogmas e interesses da Igreja. Passou a sua infância e adolescência em um ambiente conturbado, onde nenhum governante conseguia se manter no poder por um período superior a dois meses, o que explica boa parte de suas idéias. Esmagar ou reduzir à impotência a oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com outros principados constituíam o eixo principal da administração da época. Ao escrever “O Príncipe”, em 1513, Maquiavel expressou a necessidade de um monarca com pulso firme, determinado, que fosse um legítimo rei e que defendesse seu povo. Para ele, o príncipe não devia medir esforços nem hesitar, mesmo que diante da crueldade ou da trapaça, se o que estivesse em jogo fosse a integridade nacional e o bem-estar do seu povo.

De volta ao século XXI: Brasília, Agosto de 2009. Depois de inúmeras denúncas envolvendo atos secretos, corrupção e nepotismo e diante de uma grande pressão de colegas congressitas e do povo em geral pedindo sua renúnica, o presidente do Senado, senador José Sarney decidiu não arredar o pé e fazer conchavos e acordos tentar permancer no poder. Entre as ações que estão sendo vistas está o ataque àqueles que pedem sua saída, usando armas muitas vezes imorais e anti-éticas. Outra defesa consiste em montar uma “tropa de choque” para sua defesa, que é liderada pelos senadores Renan Calheiros(que já ocupou a mesma cadeira hoje ocupada por Sarney e da qual renunciou depois de inúmeros escândalos e denúncias) e Fernando Collor de Mello (o ex-presidente que foi impedido de continuar seu governo depois de um processo de impeachment), contando com o apoio do presidente Lula e de seu partido político. Na mídia, Sarney constantemente se declara inocente e diz ser vítima de perseguição, além de insistir que está sendo mal interpretado em suas palavras e ações.

Reflexão: É incrível constatar como a obra de Maquiavel faz parte não apenas da história da humanidade, mas também da vida cotidiana atual, já que é amplamente aplicável a todos os tempos, inclusive os nossos. A contribuição dele, que é reconhecido como um dos maiores pensadores da história da humanidade, é imensa. Tratou de ensinar, através da sua obra, a políticos e governantes. É possível também perceber que, fingindo ensinar aos governantes, ensinou também ao povo.

Ao escrever “O Príncipe”, criou um "manual da política", que pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes. Talvez resida aí o porquê do fato de o próprio Maquiavel ser, em grande parte das vezes, tão mal interpretado. Certamente ele não era o vilão que as pessoas pensam e o termo “maquiavélico” tem sido constantemente mal usado, em contextos que não condizem com o original. Já ficou comprovado que ele nunca chegou a escrever a sua frase mais famosa, que muito provavelmente o leitor já leu, ouviu, ou até mesmo já falou: "os fins justificam os meios". Ao pronunciar estas palavras, não quis dizer que qualquer atitude é justificada dependendo do seu objetivo. É muito provável que tenha querido dizer que os fins determinam os meios, ou seja, é de acordo com os objetivos que se deve traçar os planos de como atingi-los. O “maquiavelismo” está sempre associado a um procedimento astucioso, velhaco e de caráter traiçoeiro. Estas expressões pejorativas têm sobrevivido ao longo do tempo e não se limitam ao cenário político, se espalhando para as desavenças do cotidiano. Talvez esteja na hora de se fazer justiça ao pensador, difundindo amplamente suas idéias e esclarecendo as pessoas quanto ao real significado de termos tão mal interpretados.

Ah, quase que me esqueço deles: quanto aos nossos políticos, aqueles seres que habitam a “polis Brasília”, e que se dizem injustiçados e mal interpretados, o tempo (e tenho esperança, também o povo brasileiro, ao aprender a dar mais valor ao seu voto) se incumbirá de mostrar-lhes o seu verdadeiro lugar na história. Lugar este que está a anos-luz de distância e muitíssimo abaixo do lugar ocupado por Nicolau Maquiavel. Quem viver, verá. Nos vemos em Outubro. Um abraço a todos e até lá.

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