Sala cheia de alunos justifica baixo aprendizado ?
Sempre gostei muito de ler, principalmente sobre tecnologia e educação, minhas duas paixões. Sempre que leio alguma coisa sobre educação que me chama a atenção e acredito ser de relevância eu procuro guardar e, caso haja oportunidade, uso aqui neste espaço destinado a este tema.
Há algumas semanas atrás li um artigo que falava sobre uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicando que o Brasil está entre os piores no ranking de salas de aula lotadas, apesar de a situação no país ter melhorado de uns tempos para cá. Segundo a edição 2010 do estudo, que analisou a situação educacional de 39 países, incluindo convidados como Brasil e Rússia, as turmas de ensino fundamental no país têm, em média, seis alunos a mais do que os países ricos. Nas classes de 5º a 9º ano das escolas brasileiras há, em média, 30 alunos, enquanto nos demais países analisados, são 24 - Rússia e Eslovênia estão na casa dos 20 estudantes. Em anos iniciais do ensino fundamental (1º a 5º ano), a média é de 25 alunos por sala, sendo de 21 nos demais. Os dados são de 2008 e consideram rede pública e privada.
Pensei então em usar estes números e estas estatísticas todas para chamar a atenção para este fato, que talvez seja um dos problemas do ensino brasileiro: salas de aulas cheias significam condições menos propícias para o aprendizado dos alunos, tendo como conseqüência baixos índices de aproveitamento escolar.
Acontece que esta semana li outra reportagem que me fez pensar melhor sobre o assunto. Por isto resolvi trazê-la também para nossa coluna. É uma matéria sobre um professor de física que ministra aulas para cursos pré-vestibulares em Salvador, Bahia. Ele declara que sempre deu aulas nestes tipos de cursos e normalmente as turmas costumam ter de 250 a 300 alunos. "É praticamente um auditório e na época de revisão para o vestibular, os grupos chegam a ser de 1,2 mil a 1,5 mil pessoas”, diz o professor.
Ao contrário do que se pode imaginar, apesar da quantidade enorme de estudantes e ser a Física uma disciplina tão detestada pelos alunos, o professor Ednaldo Santos, conhecido como Naldo, é amado pelos estudantes, sendo um dos mestres mais homenageados do Orkut, com quase 7 mil membros em uma das comunidades que leva o seu nome. E olha que ele garante que há pelo menos outras cinco dedicadas a ele na rede social.
Perguntado sobre seu sucesso, Naldo diz que tenta deixar as classes mais dinâmicas buscando a participação do aluno, dando exemplos práticos do cotidiano e cantando músicas com a turma, em ritmo de forró e lambada. Para quem também precisa prender a atenção de centenas de jovens diariamente, ele dá as dicas. "Primeiro, é necessário ter muita paciência, depois, gostar do que se faz e, principalmente, ver o aluno como seu, como uma questão pessoal mesmo", explica.
Seu trabalho é recompensado pela completa tietagem dos futuros universitários. Muitos já lhe disseram que passaram a gostar da disciplina depois que o conheceram e houve ainda quem tenha trocado de curso na hora do vestibular por causa do seu ensino. Na comunidade "Professor Naldo (Física)", um dos estudantes até lançou em 2008 a proposta de levá-lo ao Programa do Jô, na Globo. Depois de páginas e páginas de respostas de outros internautas por dois anos, dizendo que tinham enviado e-mails para o programa com o mesmo pedido, houve resultado. A produção entrou em contato com Naldo há algumas semanas, e a aparição na TV vai ser considerada.
Analisando sua trajetória de vida, percebe-se que suas declarações não são da boca para fora não. Quando garoto, planejava estudar Engenharia ou Medicina. Porém, há 32 anos atrás, quando foi chamado para substituir um professor de férias, foi só rabiscar as primeiras fórmulas no quadro negro para o garoto repensar o seu futuro profissional. Hoje, divorciado, ele tem dois filhos e uma noiva. Diz que não está sobrando tempo para nada, pois se dedica inteiramente ao vestibular que está chegando e à revisão que vem fazendo com seus alunos. "Pretendo ir ao programa do Jô sim e até me casar. Quero ver se acho um tempo para isso tudo", ri o professor.
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