sábado, 31 de julho de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 60 – 24 de Julho de 2010

A distância existente entre a Educação Básica e a Universidade

Há muito se discute que as faculdades e universidades brasileiras vêm perdendo qualidade ao longo do tempo e os jovens formados por estas instituições não atendem às expectativas do mercado e estão longe do mínimo necessário ao exercício das diversas profissões por eles escolhidas. É sabido também que uma das explicações clássicas para o problema, segundo o ponto de vista de quem trabalha no ensino superior, é a fraca educação básica que é oferecida às nossas crianças e adolescentes, que faz com que o jovem esteja bastante despreparado e sem conhecimento ao terminar o nível médio. Na minha opinião, este argumento traz o problema de volta ao ensino superior, que não têm formado de maneira adequada os diversos profissionais, principalmente os da educação, muitos deles, justamente, professores da educação básica de nosso país.

Neste mês de julho, o futuro das universidades e da pós-graduação brasileiras foi debatido durante a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em São Paulo. Com relação ao assunto exposto acima, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Carlos Alberto Aragão afirmou que as instituições de ensino superior do país precisam começar a lidar mais com o que ele chamou de "pré-universidade".

Na avaliação de Aragão, "os problemas da universidade começam no ensino fundamental", que não consegue ensinar bem às crianças as duas linguagens mais importantes para o desenvolvimento científico: matemática e português. "Nós precisamos de professores bem formados, qualificados e cujos salários sejam dignos. A universidade tem o papel de contribuir para formar bons professores", defendeu.

Aragão também criticou o fato de o estudante precisar escolher precocemente, ao final do ensino médio, a carreira que pretende seguir. Ele propôs que os cursos de graduação ofereçam, nos dois primeiros anos, uma formação mais básica para que após esse período o estudante possa escolher que área pretende seguir. "Assim ele fará uma escolha madura que terá depois de dois anos na universidade", disse.

Nesta questão, acredito que ele tenha razão. O desafio é a organização de cursos superiores de graduação que possam promover esta formação um tanto quanto genérica, para só depois entrar na parte específica de cada curso, de acordo com a escolha do estudante. Como ficaria a questão do curso a ser escolhido? O aluno optaria por áreas do conhecimento, como saúde, humanidades, letras ou ciências exatas, para depois optar por um curso em especial? Como seria a seleção destes estudantes? São questões importantes a serem debatidas, sabendo-se de antemão que, qualquer que seja a solução a ser adotada, irá modificar radicalmente toda a sistemática de acesso ao ensino superior existente hoje em dia. Mas, com toda certeza, estas modificações seriam para melhor.

Os participantes do debate criticaram também a "compartimentalização" das instituições de ensino superior em departamentos fechados que não interagem na produção de conhecimento. "É uma coisa altamente prejudicial, que vai na contramão da história. A tendência moderna é a multidisciplinaridade e a organização em torno de temas. É pensar muito mais o problema em vez do rótulo", afirmou Aragão.

Já o professor Luiz Bevilacqua, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defendeu que a universidade precisa de mais "coragem, criatividade e ousadia" para romper com os modelos antigos, sem necessidade de copiar "o resto do mundo". Talvez seja exatamente através de coragem, criatividade e ousadia que se descortine o caminho a ser seguido para revolucionar a educação do Brasil.

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