segunda-feira, 12 de julho de 2010

Coluna “Falando de Educação” - Ano II – Número 51 – 15 de Maio de 2010

Protestando e tentando nadar contra a correnteza ...

Alunos do ensino médio que estudam para prestar vestibular já vêm acompanhando desde o ano passado uma novela chamada Novo ENEM. Os seus principais capítulos envolveram, primeiramente, o lançamento desta nova ideia por parte do governo federal, que indicou a possibilidade de as universidades particulares e, principalmente, as grandes universidades federais, adotarem as notas do novo exame (novo não no sentido de ser lançado recentemente, mas novo na ideia de se privilegiar nas provas mais o raciocínio do que a memorização) no processo de seleção de seus novos alunos.

Em seguida, no segundo capítulo, as principais universidades do país tiveram um prazo para decidirem se iriam ou não aderir ao programa. Algumas optaram por não aderir, como foi o caso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); outras aderiram completamente ao programa, usando a nota do exame com critério de classificação para a aceitação dos estudantes; e a grande maioria, optou por considerar as notas obtidas pelos candidatos apenas na fase inicial dos exames, a fase eliminatória, mantendo a fase classificatória exatamente como a tradição de cada uma destas universidades.

O terceiro capítulo da novela deu-se em função do vazamento das provas e suspeita de fraude no exame, o que provocou o cancelamento e adiamento dos testes. Este lamentável fato atrapalhou a programação de grandes faculdades e universidades, que não tiveram outra alternativa senão o cancelamento da adesão ao programa, visto que, a época da nova prova do Novo ENEM coincidiria com a época das provas classificatórias programadas por estas instituições. Como conseqüência da saída das grandes instituições, muitos estudantes simplesmente desistiram de realizar as provas, o que provocou baixa presença de candidatos e números pífios para um exame que prometera revolucionar a entrada de alunos nos cursos superiores de todo o país.
Em 5 de maio passado, o Conselho Universitário da UFMG decidiu, por 32 votos a 18, que substituirá a primeira etapa do Vestibular 2011 pelo Enem em todos os seus cursos. As provas do ENEM têm datas programadas de realização nos dias 6 e 7 de novembro, segundo o Ministério da Educação (MEC).

Esta decisão motivou um movimento por parte de estudantes de cursos preparatórios para o vestibular, que protestaram, na semana passada, no campus da Pampulha, contra a adoção do ENEM no vestibular da UFMG. De acordo com a assessoria da universidade, seis representantes do movimento se reuniram com o reitor Clélio Campolina para tratar do assunto. Ainda segundo a assessoria, o processo de adesão ao Enem já era discutido e estudado dentro da universidade desde o ano passado, sendo que a medida é definitiva. Considera também que a decisão se tornou inevitável e coerente em função da política de avaliação para ingresso no ensino superior nas universidades federais, que privilegia a utilização do Enem.

Em entrevista concedida durante a manifestação, uma estudante afirmou: "Estudamos durante cinco meses esperando um tipo de prova e agora vamos fazer outra com um estilo completamente diferente, outros enfoques e outro modelo".

Considerando que o saber é universal e o conhecimento é único, acredito não existir esta coisa de “estilos” ou “modelos”. Se o conteúdo foi estudado e realmente aprendido, não importa o tipo de prova. Pelo contrário, para quem estuda de verdade e se prepara pra valer, a prova do ENEM é muito melhor do que o Vestibular tradicional. Mas para quem tem apenas o dom de “decorar” a matéria e o uso de fórmulas, “memorizar” datas, nomes e fatos, realmente a medida é motivo de preocupação. Eles realmente vão ter problemas, pois trata-se de um teste mais inteligente, que privilegia os mais inteligentes. O protesto é livre, mas acho que estão perdendo o seu tempo, pois poderiam estar estudando e se preparando melhor. Estão, na verdade, nadando (e se cansando, desnecessariamente) contra a correnteza.

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