Este Blog foi concebido para que sejam publicadas as colunas mensais de nome "Filosofia & Cia", escritas para o Jornal Cultural "Conhece-te a ti mesmo", as colunas mensais "Gestão e Liderança" escritas para a Revista Ideia e a coluna semanal "Falando de Educação", do Jornal Expressão Regional, todas publicações veiculadas na cidade de Conselheiro Lafaiete - MG.
sábado, 19 de dezembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 33 – 19 de Dezembro de 2009
Segundo uma pesquisa realizada em escolas de todo o país, os principais problemas que afligem os educadores são os listados a seguir:
1) Falta de motivação dos alunos
2) Falta de estrutura da escolas
3) Falta de atenção e indisciplina por parte dos alunos
4) Falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos
A partir desta e durante as próximas duas semanas, o espaço desta coluna se dedicará a discutir estes problemas. É importante dizer que não assumiremos lado algum nas análises que serão feitas. Não seremos professores reclamando de alunos e de suas famílias nem tampouco seremos alunos reclamando dos docentes e das suas escolas. A ideia é levantar questões acerca destes assuntos, destacar as prováveis causas e indicar as possíveis soluções para os problemas apresentados.
Iniciamos a jornada na coluna de hoje discutindo o aspecto motivacional. Uma educação de qualidade, onde efetivamente a aprendizagem é alcançada, necessita que a motivação esteja presente em ambos os lados da equação, ou seja, são necessários professor e alunos dispostos a ensinar e aprender, respeitando-se mutuamente.
Infelizmente, não é isto o que se vê na atual educação brasileira. Professores se sentem desmotivados por salários baixos e por falta de estrutura para realizar as suas aulas (isto nos leva ao segundo problema listado no início da coluna: a falta de estrutura ainda existente em muitas escolas, principalmente as públicas). Muitos também se sentem desmotivados pela falta de atenção e pela indisciplina dos alunos (item três de nossa lista) e pela postura do tipo “toma que o filho é teu !” (item quatro da mesma lista) que muitas famílias adotam, negando a sua participação na educação de seus filhos e deixando todo o fardo para ser carregado pela escola e pelos educadores, que, na grande maioria das vezes, não estão preparados para assumir toda esta responsabilidade.
A meu ver, a questão mais importante a ser colocada é se um problema é causa ou conseqüência do outro. Se olharmos com atenção o outro lado da moeda, podemos descobrir que esta falta de motivação dos alunos pode advir justamente da má formação, da falta de preparo e de atualização de muitos professores e das aulas chatas e pouco interessantes que os alunos têm de assistir todos os dias. Num momento em que, do lado de fora dos muros da escola, existem muitas coisas atrativas e prazerosas, o grande desafio passa a ser fazer com que os estudantes gostem das aulas e do ambiente escolar. Devemos nos aproximar dos interesses dos alunos através de atividades lúdicas, de assuntos que lhe são agradáveis, da contextualização das aulas com o mundo exterior e com os acontecimentos do nosso cotidiano.
Também é grave a constatação de que falta uma perspectiva de futuro aos nossos jovens. Muitas vezes, eles acabam concluindo não valer a pena o esforço de ir à escola e se perguntam: Estudar para quê? Será que vale a pena frequentar a sala de aula? Este é um fato lamentável, mas muito real, que deve ser enfrentado por todos nós, educadores. Temos a obrigação de mostrar a estes jovens que os estudos são realmente um bom caminho, talvez o melhor entre aqueles considerados éticos e honestos. Eles devem ter consciência de que a educação pode proporcionar uma real mudança de vida e a possibilidade de se sonhar com um futuro melhor.
Enfim, acredito que ambos os lados, professores e alunos, precisam estar mais motivados para que o país possa avançar na educação de seu povo. E devemos sempre nos lembrar de que “a motivação deve vir sempre de dentro para fora – e não o contrário”.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 32 – 12 de Dezembro de 2009
Discutimos em colunas passadas a questão da fraude envolvendo o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que teve que ser adiado por vazamento de uma prova e, na ocasião, questionamos a segurança dos processos seletivos de vestibulares e concursos públicos em todo o país. Na ocasião, afirmei que, além de ser uma questão de segurança, o fato também abalava a credibilidade das instituições envolvidas.
Pois bem, as provas aconteceram neste último final de semana em todo o Brasil e o Ministério da Educação (MEC) afirmou que, fora pequenos transtornos como questões anuladas e erros na publicação dos gabaritos oficiais, as provas transcorreram com tranqüilidade em todas as cidades, e o ENEM está se consolidando como a grande avaliação do ensino médio do país. Talvez o caso mais grave tenha ocorrido no Rio de Janeiro, onde uma estudante foi atingida por uma bala perdida enquanto fazia a prova.
Mas o fato principal que gostaria de analisar no texto de hoje é a altíssima taxa de abstenção na provas, que foi de mais de 40 %. Para ser mais exato, 40,6% dos inscritos não compareceram para realizar o exame, um recorde absoluto de ausência de estudantes. Mesmo assim, foram contabilizados algo em torno de 2,6 milhões de alunos em salas de aula realizando as provas, o que mostra a força e a importância do ENEM.
Para alguns especialistas, o adiamento do exame foi a causa do alto índice de abstenção, devido à grande distância de quase cinco meses entre o período de inscrição e a aplicação das provas. Nos anos anteriores, a taxa oscilou entre 25 e 30%, mas nunca o período que separa a inscrição da aplicação do exame havia sido tão longo.
Minha opinião é que a principal causa realmente foi a iniciativa de muitas universidades de não mais utilizar a nota do ENEM como resultado para os seus processos de seleção. Muitas instituições importantes como USP, Unicamp, Fundação Getúlio Vargas (FGV) e PUC ficaram impossibilitadas de utilizar a nota por força do seu calendário, diminuindo o estímulo dos alunos para fazer a prova.
Enquanto isso, o Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) ofereceu denúncia contra cinco supostos envolvidos no furto, vazamento e tentativa de venda da prova do ENEM em setembro passado. A denúncia foi feita com base nos crimes de peculato (furto praticado por servidor público), corrupção passiva (exigir vantagem indevida) e violação de sigilo funcional. O crime de peculato tem pena de dois a doze anos de prisão. O de quebra de sigilo, de dois a cinco anos e o de extorsão, de quatro a dez anos.
Será que alguém realmente vai ser punido agora? Vamos aguardar a conclusão do caso, alertando, mais uma vez, que a impunidade passa a todo mundo, principalmente aos corruptos, a impressão de que vivemos em uma sociedade onde não há limites, estimulando a delinqüência e as atitudes desonestas.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 31 – 05 de Dezembro de 2009
Esta foi a pergunta que uma repórter me fez, numa entrevista que falava sobre vestibulares e concursos públicos de forma geral. Utilizando o velho e surrado (mas não por isso, errado ou ultrapassado) ditado popular: “se conselho fosse bom a gente não dava, mas vendia ...”, compilei algumas dicas que considero importantes e publico agora também em nossa coluna. Vamos a elas:
1) Quanto mais vai chegando o dia da concurso ou vestibular, o ritmo de estudos deve ir diminuindo, até a véspera da prova, dia que tiramos para o relaxamento e a tranqüilidade. Sem esta de rever conteúdos ou decorar fórmulas e datas. Não se aprende nada na véspera. O trabalho já deve ter sido realizado ao longo do período de preparação;
2) Quem se prepara para uma prova com dedicação e afinco mas fica nervoso e descontrolado na hora da prova se iguala a quem não se preparou tão bem. Dependendo do grau de ansiedade e nervosismo, se compara a quem não se preparou nem um pouco. Portanto, o equilíbrio emocional é fundamental. Isto reforça o que foi dito no número 1. Divirta-se e relaxe na véspera. Cuide do corpo e da mente, nada de estudos !
3) Na hora da prova, uma visão geral do exame é fundamental. O que é isto ? Folheie rapidamente a prova inteira, tome conhecimento do número de questões e a ordem em que os conteúdos são apresentados. Veja o tema da redação, se for o caso da sua prova, mesmo que não queira fazê-la logo no início da prova. O subconsciente se incumbirá de fixar o tema em sua mente. Quando chegar a hora de dissertar, o assunto não será uma surpresa total para você;
4) A visão geral da prova vai lhe favorecer no controle e na melhor divisão do tempo dispendido em cada fase de sua prova. Ajuda muito para saber que está na hora de mudar de matéria e passar para as questões de uma outra. Quem faz prova de múltipla escolha, aberta e/ou redação deve ficar atento ao tempo gasto em cada uma destas etapas;
5) A ordem de responder as questões é muito importante. Gosto sempre de fazer as questões da matéria que domino primeiro. Isto gera confiança ao ter certeza que acertei as questões e aumenta a auto-estima para o resto da prova. Se por acaso não der tempo de fazer todas as questões, as que ficaram provavelmente são aquelas que teria maior dificuldade em responder. Muito frustrante é deixar de responder, por falta de tempo, a questões de um conteúdo que a gente domina !
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 30 – 28 de Novembro de 2009
O título da coluna desta semana foi tirado do título do relatório da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) apresentado no mês passado, que traça um cenário preocupante da educação em nosso país. Foram detectados muitos problemas, sendo os mais agudos aqueles que se referem à formação básica dos professores e à sua formação continuada, além do problema crônico da baixa remuneração dos docentes brasileiros.
Apesar de os professores representarem o terceiro maior grupo ocupacional do país (8,4%), ficando atrás apenas dos escriturários (15,2%) e dos trabalhadores do setor de serviços (14,9%), sendo maior, inclusive, do que o setor de construção civil (4%), os especialistas destacam que é preciso "elevar o status" do professor no Brasil. Dados da pesquisa indicam que 50% dos alunos que cursam o magistério e que foram entrevistados disseram que não sentem vontade de serem professores. Outro dado importante trata dos salários pagos à categoria, onde 50% dos docentes recebem menos de R$ 720,00 por mês.
O estudo também alerta para um grande descompasso entre a formação teórica e a prática do ensino. Com relação a este aspecto, especialistas afirmam que a formação do docente precisa estabelecer uma espécie de aliança entre o seu conteúdo e um projeto pedagógico, para que o professor tenha condições de entrar em sala de aula. O relatório termina afirmando que a real implementação de um novo piso salarial e a política de formação docente, lançada recentemente, podem ser pontos de partida para uma ampla recuperação da profissão de professor no Brasil.
Paralelamente ao relatório da UNESCO, foi divulgada uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) que revela a importância do papel dos professores.
A conclusão é que alunos de instituições particulares de ensino superior estão mais vinculados aos professores do que à universidade, sendo que a relação aluno-professor é mais valorizada, inclusive, do que instalações luxuosas. De acordo com os dados obtidos, 80% dos entrevistados preferem os professores às instalações físicas como motivação para ingressar ou permanecer em uma faculdade.
O autor da pesquisa acredita que a relação de confiança do aluno com a faculdade é intermediada pelo professor, portanto, o responsável por fortalecer esse laço acaba sendo o professor, pois é ele que passa a maior parte do tempo com o estudante. Isso significa que a capacidade intelectual, principalmente no caso de instituições de ensino, deve ser considerada como primordial.
A conclusão a que chegou a pesquisa foi que a ligação da instituição com o aluno é gerada a partir da convivência com o professor que ensina não só conhecimento, mas também valores para a vida.Tão importante e, ao mesmo tempo, tão desvalorizada. Esta é a profissão de professor no Brasil. Mas as coisas estão mudando. Todos já sabem, inclusive os nossos políticos, que, sem educação de qualidade, o país não consegue competir no mundo globalizado. Só resta então fazer com que as políticas públicas voltadas para a educação sejam mais eficientes. Talvez isto aconteça de uma forma mais lenta do que é realmente necessário, mas com certeza chegaremos lá.
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 29 – 21 de Novembro de 2009
Semana passada discorremos aqui na nossa coluna sobre a fraude envolvendo as provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que provocou o seu adiamento e atrapalhou a vida e a programação de muitos estudantes em todo o Brasil. Discutimos a respeito da segurança de concursos, vestibulares e exames, alertando para o fato de que, mais do que um problema sério de segurança, o fato traz à tona uma questão de credibilidade dos processos e das instituições envolvidas. Hoje vou mostrar alguns casos recentes de malandragens, trapaças e fraudes em vestibulares do país.
Começamos com um caso que aconteceu no Rio de Janeiro, mas que também foi detectado na Universidade de Cuiabá em 2008 e na Federal do Maranhão em 2006. Quatro candidatos para o vestibular de medicina da Universidade Gama Filho pagaram R$ 15 mil a uma quadrilha que os instruiu a comprar celulares com peças de plástico (para evitar os detectores de metais) e encaixá-los na palmilha do tênis para consultar o gabarito no banheiro, enviado por SMS. O esquema só foi identificado graças a uma ligação anônima para o disque-denúncia.
A primeira turma de medicina da Universidade Federal do Acre teve 28 de seus 40 alunos aprovados com fraude no vestibular de 2002. A quadrilha inscrevia especialistas que resolviam rapidamente as questões, saiam da sala e passava as respostas para os alunos, que usavam pontos eletrônicos escondidos em roupas e caixas de chiclete. Os “clientes” pagaram até R$ 20 mil pelo serviço. Descobertos, foram expulsos da faculdade. Casos semelhantes aconteceram na Universidade Federal de Rondônia, também em 2002, nas Faculdades Facene/Famene em 2008 e na Universidade Regional de Gurupi, em 2009.
Já na Fuvest, em 2004, um falso candidato colocou sua foto no RG do irmão e começou a fazer a prova no lugar dele, que queria ingressar no curso de medicina. Durante o exame, nervoso, ele chamou a atenção do fiscal, que resolveu conferir assinatura e a foto e só então desmascarou o impostor. Ele acabou preso por estelionato. Outros casos parecidos com ele foram registrados na Universidade Estadual da Paraíba em 2007 e na Faculdade Evangélica de Curitiba no ano de 2008.
Em 2005, um candidato da Universidade Federal da Bahia (UFBA) declarou ser descendente de índios para conseguir uma vaga no sistema de cotas. Segundo o procurador que investigou o caso, ele atestou suas supostas raízes com um documento em nome da Fundação Nacional do Índio que não era assinado por ninguém do órgão, e sim por um índio de uma aldeia do sul da Bahia. Outra menina fez um ensino médio em colégio particular, entregou diploma falsificado de escola pública e foi denunciada pelos próprios colegas. Descobertos, os dois perderam a matrícula. Outro caso bem parecido com este aconteceu na Universidade Federal do Espírito Santo em 2009.
Vivemos em um país onde os maus exemplos, na maioria das vezes, vêm de cima, de grandes empresários, executivos e políticos de uma forma geral. As fraudes no vestibular são apenas uma conseqüência de um desejo, cada vez mais presente nas pessoas de sempre quererem levar vantagem em tudo (teoria que é injustamente chamada de “Lei de Gérson”). A morosidade da justiça e a impunidade que se vê em grande parte dos casos que chegam ao nosso conhecimento através da mídia também ajudam a sustentar esta cultura baseada na falta de ética, falta de amor e de consideração ao próximo.
Por outro lado, de vez em quando nos deparamos com casos de pessoas humildes que devolveram dinheiro achado em malas ou ligaram para o dono de um notebook encontrado em um banco de praça. Estes sim são exemplos a serem seguidos. Ainda que menos numerosos (na verdade deveriam ser o procedimento normal e nem serem publicados como notícia, mas saem nos jornais como um fato fora dos padrões), estes casos nos mostram que ainda vale a pena acreditar nas pessoas, de que vale a pena ser honesto e trabalhar com dignidade para o alcance dos objetivos pessoais.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Filosofia & Cia - Ano I - Número 11 - Novembro de 2009
Um pouco de história: John Locke (1632-1704), inglês, foi um filósofo cuja área de influência é bastante abrangente. Na política, é considerado o pai do liberalismo, assim como o conhecemos hoje, uma filosofia política que preza a autonomia moral e econômica da sociedade civil em oposição à concentração do poder político. Foi autor de dois tratados de governo que inspiraram a monarquia inglesa, a constituição dos Estados Unidos e os ideiais iluministas franceses. Na filosofia, foi autor de uma teoria do conhecimento inovadora, que investigou o modo como a mente capta e traduz o mundo exterior. Na educação, compilou uma série de preceitos sobre aprendizado e desenvolvimento.
Considerado o protagonista do Empirismo (movimento que acredita nas experiências como principais formadoras das ideias, discordando, portanto, da noção de ideias inatas), o fundamentou em sua teoria da tabula rasa (do latim, "folha em branco”), através de seu livro ‘Ensaio acerca do Entendimento Humano’, de 1690. Para Locke, todas as pessoas ao nascer o fazem sem saber de absolutamente nada, completamente sem impressões, sem conhecimento algum. Então, todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido pela experiência, pela tentativa e erro. A ideia de que o homem nasce como se fosse uma "folha em branco", foi muito importante em sua época pois considerava todos os homens como intrinsecamente iguais, dando uma base filosófica para combater o status quo vigente, especialmente em relação à aristocracia e à nobreza.
De volta ao século XXI: Certamente o leitor já ouviu falar nos famosos programas de trainees, uma forma de seleção bastante rigorosa de jovens talentos para trabalhar em grandes empresas. Inicialmente, era uma prática adotada apenas por multinacionais, mas, hoje em dia, praticamente toda empresa média ou grande possui programas similares.
O leitor deve também já ter ouvido ou lido histórias de jovens que iniciaram suas carreiras como trainees e hoje fazem parte da direção ou assumiram a presidência de uma empresa ou grupo. E isto realmente é fato. Por terem ingressado na empresa ainda jovens, recém saídos da universidade, e com todo o gás, conseguiram subrir degrau a degrau, conhecendo bem toda a organização e seus processos administrativos e operacionais, culminando com o posto mais elevado e mais desejado do alto escalão.
Reflexão: Apesar de ser considerada ultrapassada pelas evidências científicas da influência genética no comportamento humano, interesa-nos aqui a teoria da tabula rasa devido a sua ampla aplicação nas organizações do mundo moderno. A esta altura, o leitor deve estar se perguntando: qual a lógica que está por trás destes programas ? A resposta é bastante simples e coerente com o pensamento de Locke. Quando se admite alguém que veio de outra empresa, sua “experiência”, que, na maioria das vezes é importante e positiva para quem o contrata, pode se tornar um ponto negativo em algumas circunstâncias.
Explico: o fato de o trabalhador já ter feito a tarefa de uma outra maneira, pode fazer com que ele, de forma inconsciente, tente reproduzí-la do mesmo jeito que aprendeu ou se acostumou. É uma tendência natural do ser humano, que pode bloquear a criatividade e a inovação, fundamentais para as empresas baseadas em conhecimento dos tempos atuais. Esta experiência anterior, que pode inclusive ser um “vício” (usado no bom sentido da palavra), pode atrapalhar mais do que ajudar, dependendo da situação.
Por outro lado, quando o jovem chega a uma empresa vindo de uma faculdade ou universidade, “sua folha está em branco”, a cabeça está aberta para continuar aprendendo e toda a sua motivação está à serviço de seu primeiro empregador. Desta forma, ele vai despender toda a sua energia no entendimento de como a empresa funciona e, principalmente, pensando no que fazer para que ela torne seus processos mais eficientes e seja mais eficaz nos seus resultados. São também fortemente preparados para enfrentar problemas de relacionamento e outras questões que envolvem relações interpessoais.
Uma outra característica destes programas é que o jovem passa por praticamente todas as áreas da empresa, conhecendo desde o “chão da fábrica” até os processos mais complexos de tomada de decisão gerencial. Esta experiência adquirida se mostrará bastante útil quando, no futuro, ao se tornar gestor da empresa, terá mais facilidade em entender e valorizar o trabalho realizado em cada departamento, conhecendo seus pontos fortes e fracos.
Também é verdade que os trainees muitas vezes são vistos com olhos de “inveja” por parte dos colaboradores mais antigos da empresa. Isto acontece porque são jovens altamente talentosos e capazes, com uma motivação enorme e alta capacidade de aprender e inovar. Também porque todos sabem que, muito provavelmente, alguns daqueles jovens, no futuro, poderão ser os seus chefes. O que muitos consideram uma injustiça, a empresa considera como uma oportunidade, afinal de contas, na sociedade da informação e do conhecimento, o que mais vale não é o tempo de casa, mas o quociente intelectual (QI) e emocional (QE) do colaborador.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 28 – 07 de Novembro de 2009
Uma questão de segurança e de credibilidade ...
Desde o advento da fraude envolvendo o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que teve que ser adiado por vazamento de uma prova, a pergunta que todos os envolvidos na educação do país se fazem é: os processos de exames, concursos e seleções são realmente seguros ? Há poucos dias atrás a imprensa noticiou que provas do ENADE (Exame Nacional de Desempenho do Ensino Superior) estavam sendo transportadas sem o lacre. O MEC retrucou dizendo que estavam sendo transportadas por pessoal autorizado e de absoluta confiança. Dá para acreditar nisso ?
O fato é que, por mais que os organizadores se esforcem para garantir uma concorrência justa, não faltam flagrantes de fraude nos concursos país afora. Existem até quadrilhas especializadas no assunto. E candidatos dispostos a pagar por seus serviços, que incluem colas eletrônicas e falsificação de documentos. Em 2002, uma quadrilha "aprovou" 28 dos 40 alunos de medicina da Universidade Federal do Acre (UFA). Quando a polícia descobriu o esquema, soube que ela atuava havia 18 anos. Isto tudo sem falar nas inúmeras fraudes já detectadas nos sistemas de cotas de várias instituições, como as que aconteceram na UFBA (Universidade Federal da Bahia), em 2006.
Outras universidades também se preocupam com a segurança de seus vestibulares. As Universidades Federais de São Paulo (USP) e do Paraná (UFPR) estão entre as que usam detectores de metal e rastreadores de sinal de celular para evitar a cola. Na Unicamp, quem fizer a segunda fase do vestibular fornecerá sua impressão digital 11 vezes durante o concurso, para compará-las com a digital de quem fizer a matrícula e evitar a ação de laranjas !
O problema é que as medidas de segurança são caras. Estudos mostraram que cerca de 30% do custo de exames e processos de vestibular são gastos com a questão da segurança, antes, durante e depois da realização das provas. Além disso, a tecnologia muda e se aprimora muito rapidamente, exigindo dos fiscais e do pessoal responsável pela segurança uma atenção cada vez maior. Novos métodos de cola e de transmissão de dados são “inventados” a todo instante e estão se sofisticando cada vez mais.
E o mais desanimador de tudo é que a cola eletrônica não tem sido considerada crime pelo Supremo Tribunal Federal, instância máxima da Justiça brasileira. Em dois casos que já julgou, o órgão considerou que ela não é estelionato nem falsidade ideológica. Além da perda de credibilidade nas instituições e nos processos de seleção, o fato proporciona uma chance clara de impunidade para quem trapaceia. E isto é absolutamente lamentável !
sábado, 24 de outubro de 2009
Filosofia & Cia - Ano I - Número 10 - Outubro de 2009
Um pouco de história: Também conhecido como Renatus Cartesius, viveu entre 1596 e 1650 e deixou seu nome na história da Física e da Matemática, sendo uma das figuras-chave da Revolução Científica. Sugeriu a fusão da álgebra com a geometria, fato que gerou a geometria analítica, tendo inventado também o sistema de coordenadas que ficaram conhecidas como coordenadas cartesianas. Porém, seus trabalhos mais revolucionários aconteceram na Filosofia, sendo chamado “o fundador da filosofia moderna”. Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores, podendo-se dizer que boa parte da filosofia escrita a partir de então foi influenciada por ele ou foi uma reação às suas obras. Embora a maior parte de seu trabalho seja consagrado às ciências, o que Descartes mais quis foi conseguir um modo de chegar a verdades concretas. Sua filosofia, exposta principalmente em “O discurso sobre o Método", o mais amplamente lido de todos os seus trabalhos, é a proposta de meios para tal. O seu método para o raciocínio correto é "nunca aceitar qualquer coisa como verdade se essa coisa não pode ser vista clara e distintamente como tal”. Isto implica na rejeição de todas as idéias e opiniões aceitas, a determinação a duvidar até ser convencido do contrário pela evidência dos fatos.
De volta ao século XXI: Vejamos algumas notícias da semana coletados em um site especializado em inovações tecnológicas: - Criado um revestimento do tipo filme plástico que pode ser aplicado a diversas superfícies e que permite a limpeza do óleo usando apenas água, dispensando até mesmo o sabão! - Nasa afirma que astronautas poderão ser enviados a “buracos gravitacionais”! - Elo perdido da eletrônica permitirá em futuro próximo a criação do “computador que aprende”! Inovação é, pois, o processo que inclui as atividades técnicas, concepção, desenvolvimento, gestão e que resulta na comercialização de novos (ou melhorados) produtos, ou na primeira utilização de novos (ou melhorados) processos. Inovação significa novidade ou renovação. A palavra é derivada do termo latino innovatio, e se refere a uma idéia, método ou objeto que é criado e que pouco se parece com padrões anteriores. Hoje em dia, aceita-se que invenção é uma nova ideia ou um novo produto e a inovação é a melhoria de algo já inventado. Trata-se da não aceitação das coisas como são, ou melhor dizendo, das coisas como estão. É duvidar constantemente que as coisas não podem ser melhoradas ou já atingiram o seu máximo, ou a sua verdade, dentro do processo de criação. É acreditar que paradigmas existem para serem quebrados e que uma nova fase pode se iniciar antes mesmo que a fase anterior tenha teminado completamente.
Reflexão: É muito fácil constatar que o foi dito anteriormente sobre a inovação não acontece apenas com produtos tecnológicos ou é privilégio de países altamente industrializados ou povos desenvolvidos. Vivemos em um mundo que muda constantemente, a alta velocidade, e que demanda de todos um elevado grau de inovação e mudança. Acontece comigo, com você, amigo leitor, com todos nós e também dentro das empresas e organizações que dirigimos ou onde trabalhamos. Neste contexto, inovação pode ser também entendida como “fazer mais com menos recursos”, permitir ganhos de eficiência em processos, quer produtivos, administrativos, financeiros ou na prestação de serviços, sendo o motor de competitividade do mundo moderno. A inovação, quando cria aumentos de competitividade, pode ser considerada um fator fundamental no crescimento econômico de uma sociedade e de um país.
Enfim, podemos dizer que, além de suas fundamentais contribuições para a Geometria e a Ótica, para o entendimento do universo e da mecânica dos corpos, Descartes também deixou como grande legado à humanidade o poder do pensamento e do raciocínio (“cogito, ergo sum”, ou “penso, logo existo”), a dúvida constante, o repúdio à acomodação e uma eterna insatisfação com as verdades do mundo que nos cerca.
Observe se já sentiu a seguinte sensação: você está parado em um semáforo, com carros ao seu lado (funciona também quando de ônibus, parado em uma rodoviária, com outros ônibus ao lado). Quando eles andam pra frente antes de você, a sensação é de que você está andando para trás. É ou não é ? Pois bem, nos dias de hoje acontece exatamente isso, quem não inova fica parado. E quem fica parado, na verdade, anda para trás, pois seu concorrente está se movimentando para a frente ! Nos vemos novamente em Novembro. Um abraço a todos e até lá.
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 27 – 24 de Outubro de 2009
Em 15 de outubro, professores e profissionais da área de educação de São Paulo fizeram uma manifestação em frente à Secretaria Estadual da Educação, na Praça da República, pedindo melhores salários para a categoria. Alguns dos manifestantes usaram na ocasião narizes de palhaço durante o protesto e muitos afirmavam que não há nada para comemorar no dia destinado aos educadores de todo o país.
De outro lado, levantamento divulgado pelo Ministério da Educação aponta que a média salarial dos professores de escolas públicas da educação básica no Brasil cresceu de R$ 994,00 para R$ 1.527,00 entre 2003 e 2008, o que corresponde a um aumento de 53% em cinco anos. O estudo mostra ainda que a diferença entre o salário dos docentes e de outros profissionais com o mesmo nível de formação (ensino superior pelo menos incompleto) tem diminuído. Em 2003, trabalhadores que não eram docentes ganhavam 1,86 vezes melhor do que os educadores. Em 2008, a diferença caiu para 1,53.
Houve muitas reclamações depois da divulgação das informações por parte do MEC e a principal delas é a de que os dados do estudo não batem e os salários divulgados não condizem com a realidade do professor brasileiro.
Entretanto, o MEC admite que as distorções permanecem, pois enquanto um professor de Pernambuco recebeu em 2008 um salário médio de R$ 982,00, no Rio de Janeiro o professor ganha R$ 2.004,00 e no Distrito Federal a média chega a R$ 3.360,00. A média nacional é de R$ 1,527,00, sendo que os valores foram calculados para uma jornada de 40 horas semanais.
Mas Pernambuco não fica sozinho no ranking dos Estados que remuneram os professores de forma inadequada. Das vinte e sete unidades federativas, dezesseis pagam salários abaixo da média nacional. São elas: Rondônia, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Santa Catarina.
Trata-se de uma assunto bastante complexo e bastante sério também pois as disparidades salariais podem pesar na decisão de um jovem sobre seguir ou não a carreira docente. Sabe-se que hoje, uma das maiores dificuldades do magistério é atrair novos talentos e, certamente, a criação de um piso nacional para professores trará novas perspectiva para futuras gerações, que querem uma boa carreira em termos financeiros. Porém, como dinheiro não é tudo na vida, também almejam um bom ambiente de trabalho. E neste caso, além de salários dignos e compatíveis, é necessário que o país assegure à sua população uma educação de qualidade.
sábado, 17 de outubro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 26 – 17 de Outubro de 2009
Assunto recorrente aqui em nossa coluna é o perfil das crianças e jovens que freqüentam as salas de aula dos tempos atuais e a necessidade premente dos educadores modificarem suas atitudes diante dos novos desafios da educação moderna. Vimos chamando a atenção dos professores para a “chatice” que são determinadas aulas e para o fato de que o jovem de hoje, fruto de uma sociedade consumista e imediatista, só se envolve naquilo que realmente gosta. E, infelizmente, constatamos que muitos professores, com suas aulas desatualizadas e ultrapassadas, não dão a estes jovens o prazer que eles tanto desejam. Por este motivo, não se interessam pelas disciplinas e desistem de freqüentar a escola, preferindo o que há do lado de fora dela.
Hoje trazemos alguns casos de sucesso que devem ser examinados com atenção, pois podem servir de estímulo e exemplo para educadores interessados em aumentar o gosto de seus alunos pela leitura. Em 2008, Bela (a protagonista da série Crepúsculo) e Harry Pottter (este todo mundo conhece, dispensa apresentações) passaram a acompanhar cerca de 3,3 milhões de estudantes da rede estadual paulista. Os livros das duas séries passaram a fazer parte das salas de leitura de 4.200 escolas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e de Ensino Médio do estado de São Paulo. O objetivo foi despertar o interesse pela leitura por meio dos maiores sucessos literários destinados ao público adolescente.
Outra experiência, também com Harry Potter, aconteceu nas bibliotecas públicas de Maringá (PR), também no ano passado. Como havia grande dificuldade em atrair alunos para a biblioteca, especialmente após o 5º ano, quando a leitura ganha um peso maior de obrigatoriedade, foi pensado um trabalho com os livros que são um sucesso mundial entre o público jovem. No primeiro encontro foi usado um chapéu seletor, elemento presente no livro, para dividir os alunos em casas. Foram desenvolvidas, a seguir, atividades lúdicas, baseando-nos nas ideias de aula de bruxaria e utilizando a música do filme. Resultado: o projeto foi um sucesso absoluto, passaram-se meses, e os alunos não queriam mais parar !
Isto nos permite concluir, mais uma vez, que é possível fazer o aluno se interessar pelas aulas oferecidas. Basta, para isto, entrar em sintonia com seu mundo, falar a sua linguagem e abordar temas que são do seu universo de interesse. Trabalhar atividades lúdicas também dá muito certo, pois o conteúdo é passado de uma forma mais leve e atraente. Não tenho dúvidas que este é o caminho. Pode ser mais longo, mais árduo, mais trabalhoso, mas ele conduz, sem dúvidas, até o ponto desejado. E o melhor: de uma forma prazerosa, tanto para os estudantes quanto para os professores, pois não há nada mais gratificante para um mestre do que ver seus alunos aprenderem o que está sendo passado e absorverem o que está sendo ensinado, tornando-se verdadeiros cidadãos.
sábado, 10 de outubro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 25 – 10 de Outubro de 2009
As duas notícias mais quentes da semana que passou foram, sem sombras de dúvida, a escolha do Brasil, mais especificamente do Rio de Janeiro, para sediar os jogos olímpicos de 2016 e o vazamento de informações a respeito do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que motivou o cancelamento da prova, prejudicando milhões de estudantes brasileiros.
Primeira notícia: Após conseguir se tornar a sede da Copa do Mundo de 2014, o Rio de Janeiro superou as cidades candidatas concorrentes de Chigaco, Tóquio e Madri e fez história. Pela primeira vez, o continente sul-americano vai promover os Jogos Olímpicos. Em uma entrevista emocionante, o presidente Luis Inácio Lula da Silva disse que o Brasil superou uma das últimas fronteiras para se tornar um país de primeiro mundo, mais respeitado e gozando de mais credibilidade em todo o planeta. E acho que ele não está errado, não. Nosso país vem mostrando muita maturidade em vários setores, com destaque para o econômico, tendo sido uma dos últimos a sentir os efeitos da crise mundial e um dos primeiros a dar sinais de tê-la superado. No plano artístico e cultural, por exemplo, o país, que já era reconhecido principalmente pela dança e música, mostra sua face e seu talento também no cinema, na animação e na literatura.
Segunda notícia: Cerca de quatro milhões de estudantes estavam preparados para a realização do exame ENEM, que fará parte do processo de seleção de dezenas de universidades federais em todo o país, quando surgiu a informação de seu cancelamento. O motivo foi uma suspeita de vazamento da prova, agora investigada e comprovada. Ao todo, até o momento, cinco pessoas foram indiciadas no inquérito, sendo que um grande veículo de comunicação denunciou a tentativa de venda da prova pela bagatela de quinhentos mil reais. Coisa de um país onde a corrupção e a desonestidade são coisas triviais e onde as pessoas comuns chegam ao ponto de se manifestarem dizendo sentirem vergonha de serem honestas. Tudo isto somado a uma das piores distribuições de renda de todo o mundo e um dos piores índices de alfabetização da população nos fazem crer que ainda falta muito para chegar pelo menos ao segundo mundo. Somos subdesenvolvidos mesmo, pertencemos ao terceiro mundo.
Este é o retrato do Brasil. Muito evoluído, avançado e competente, mas ao mesmo tempo muito atrasado, retrógrado e incompetente. Um país de dimensões continentais com capacidades infinitas e problemas idem. O que mais me preocupa em toda esta história é que a base para todo desenvolvimento e crescimento sustentado passa obrigatoriamente pela educação e é exatamente neste segmento que demonstramos uma de nossas maiores fragilidades. Espero que a Copa do Mundo e as Olimpíadas possam dar maior visibilidade ao nosso país em todo o mundo e também que parte do investimento a ser realizado possa ser revertido para melhorar o nível de educação do nosso povo, afinal de contas, esporte e educação sempre andaram de mãos dadas.
sábado, 3 de outubro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 24 – 03 de Outubro de 2009
Um das mais respeitadas revistas semanais do Brasil publicou matéria de capa há duas semanas atrás sobre um dos maiores desafios da saúde neste novo século, a chamada “globesidade”, ou a epidemia mundial de obesidade mórbida, cujo principal vilão é o nosso muito conhecido e doce, o açúcar. Além de ser o grande promotor da obesidade, a reportagem alerta que o açúcar, em suas várias formas, quando em altos níveis no sangue podem ser associados a quase todas as moléstias degenerativas, do ataque cardíaco ao derrame cerebral e diabetes.
Nos Estados Unidos, nesta cruzada contra o açúcar, a bola da vez já foi eleita: os refrigerantes. Já há um movimento contra o produto e estuda-se a possibilidade de aumentar os seus impostos, de forma a diminuir o seu consumo. Tudo porque uma lata de refrigerante normalmente tem 150 calorias, ou dez colheres de chá de açúcar, índice considerado bastante alto, já que as mesmas 150 calorias correspondem ao limite máximo de consumo diário aconselhado para homens adultos. No caso das mulheres, o consumo diário recomendado é de apenas 100 calorias !
Por aqui, a compra de refrigerantes, refrescos artificiais e outras bebidas com baixo teor nutricional para a merenda escolar com o uso do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) foi proibida por uma resolução do Ministério da Educação. Já para enlatados, doces e alimentos com quantidade elevada de sódio, a aquisição fica restrita a 30% dos valores repassados. Estados e municípios terão até janeiro do ano de 2010 para adaptar seus processos licitatórios a essas exigências, previstas na Resolução número 38, que regulamenta a lei no 11.947 de 2009.
O documento ressalta a importância da adoção de estratégias de educação alimentar e nutricional para assegurar uma comida saudável. Entre essas estratégias, estão a implantação e manutenção de hortas escolares, a inserção do tema alimentação no currículo escolar e a realização de oficinas culinárias experimentais.
A oferta da merenda deve ser planejada para suprir desde 20% das necessidades nutricionais diárias de alunos que recebem uma refeição em período parcial até 70% dessas necessidades, quando os estudantes estiverem matriculados em período integral. Além disso, os cardápios devem ser diferenciados por faixa etária e também para os que necessitam de atenção específica, como os diabéticos.
Trata-se de uma boa medida, mas de nada servirá se a campanha não for estendida aos milhões de lares brasileiros, conscientizando as famílias dos males de certos alimentos e a forma mais saudável de se alimentar. Mais uma vez, escola e família deve se unir em prol da educação de nossas crianças e jovens.
sábado, 26 de setembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 23 – 26 de Setembro de 2009
Você sabe o que é “Ensino Médio Inovador” ?
Trata-se de uma proposta do MEC para a reestruturação curricular do ensino médio. Estabelece uma matriz curricular baseada em quatro eixos do conhecimento: cultura, tecnologia, trabalho e ciência. As disciplinas devem ser dispostas de tal forma que haja um “diálogo” entre elas e os conteúdos devem ser trabalhados “transversalmente”.
A proposta se baseia na premissa de que a escola deve fazer sentido para o aluno, que, por sua vez, deve aprender com ela. Se ninguém aprende, ela não serve para nada. Parte da ideia de que a aula deve ser contextualizada, interdisciplinar e de acordo com a proposta pedagógica da escola.
O Ministério da Educação (MEC) pretende também aumentar a carga horária em 20%, mas este aumento teria como principal característica a escolha das disciplinas a serem estudadas neste tempo extra por parte dos próprios alunos. Além disso, há um esforço grande no sentido de reduzir a lacuna entre prática e teoria. É intenção do MEC sugerir às redes estaduais que adotem, a partir do ano que vem, as diretrizes do Ensino Médio Inovador.
Com estas modificações, os estudantes devem melhorar as notas no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), principalmente no momento atual em que ele passa por alterações significativas. O novo Enem contempla perguntas objetivas em quatro áreas do conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias (incluindo redação); ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias e matemáticas e suas tecnologias. Cada grupo de testes será composto por 45 itens de múltipla escolha, aplicados em dois dias. Tais alterações buscam transformar o exame em um documento passível de análise comparativa no tempo e de avaliação de conteúdo abordado diretamente o currículo do Ensino Médio.
As provas do ENEM estão marcadas para 03 e 04 de outubro e devem mobilizar milhares de estudantes em todo o Brasil. A grande maioria das universidades federais do país aderiu, de alguma forma, ao novo modelo do exame, sendo que boa parte delas usará as notas da prova como primeira etapa de seu processo seletivo.
O ENEM e o Ensino Médio Inovador constituem duas importantes propostas que devem reformar o ensino do país nos próximos anos. Trata-se de uma mudança radical, mas necessária, pois o jovem da atualidade, muito mais “antenado” com o mundo globalizado, tem características próprias e bem diferentes dos jovens do século passado. A escola, pois, não deve ficar presa a metodologias ultrapassadas e o ensino deve se adequar a esta nova realidade, deve se modernizar para se tornar atraente para estes brasileiros do século XXI.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Filosofia & Cia - Ano I - Número 9 - Setembro de 2009
Um pouco de história: Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, Itália, em 1469. Seguindo o espírito renascentista, inovador, desejou superar o medieval e sugeriu separar os interesses do Estado dos dogmas e interesses da Igreja. Passou a sua infância e adolescência em um ambiente conturbado, onde nenhum governante conseguia se manter no poder por um período superior a dois meses, o que explica boa parte de suas idéias. Esmagar ou reduzir à impotência a oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com outros principados constituíam o eixo principal da administração da época. Ao escrever “O Príncipe”, em 1513, Maquiavel expressou a necessidade de um monarca com pulso firme, determinado, que fosse um legítimo rei e que defendesse seu povo. Para ele, o príncipe não devia medir esforços nem hesitar, mesmo que diante da crueldade ou da trapaça, se o que estivesse em jogo fosse a integridade nacional e o bem-estar do seu povo.
De volta ao século XXI: Brasília, Agosto de 2009. Depois de inúmeras denúncas envolvendo atos secretos, corrupção e nepotismo e diante de uma grande pressão de colegas congressitas e do povo em geral pedindo sua renúnica, o presidente do Senado, senador José Sarney decidiu não arredar o pé e fazer conchavos e acordos tentar permancer no poder. Entre as ações que estão sendo vistas está o ataque àqueles que pedem sua saída, usando armas muitas vezes imorais e anti-éticas. Outra defesa consiste em montar uma “tropa de choque” para sua defesa, que é liderada pelos senadores Renan Calheiros(que já ocupou a mesma cadeira hoje ocupada por Sarney e da qual renunciou depois de inúmeros escândalos e denúncias) e Fernando Collor de Mello (o ex-presidente que foi impedido de continuar seu governo depois de um processo de impeachment), contando com o apoio do presidente Lula e de seu partido político. Na mídia, Sarney constantemente se declara inocente e diz ser vítima de perseguição, além de insistir que está sendo mal interpretado em suas palavras e ações.
Reflexão: É incrível constatar como a obra de Maquiavel faz parte não apenas da história da humanidade, mas também da vida cotidiana atual, já que é amplamente aplicável a todos os tempos, inclusive os nossos. A contribuição dele, que é reconhecido como um dos maiores pensadores da história da humanidade, é imensa. Tratou de ensinar, através da sua obra, a políticos e governantes. É possível também perceber que, fingindo ensinar aos governantes, ensinou também ao povo.
Ao escrever “O Príncipe”, criou um "manual da política", que pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes. Talvez resida aí o porquê do fato de o próprio Maquiavel ser, em grande parte das vezes, tão mal interpretado. Certamente ele não era o vilão que as pessoas pensam e o termo “maquiavélico” tem sido constantemente mal usado, em contextos que não condizem com o original. Já ficou comprovado que ele nunca chegou a escrever a sua frase mais famosa, que muito provavelmente o leitor já leu, ouviu, ou até mesmo já falou: "os fins justificam os meios". Ao pronunciar estas palavras, não quis dizer que qualquer atitude é justificada dependendo do seu objetivo. É muito provável que tenha querido dizer que os fins determinam os meios, ou seja, é de acordo com os objetivos que se deve traçar os planos de como atingi-los. O “maquiavelismo” está sempre associado a um procedimento astucioso, velhaco e de caráter traiçoeiro. Estas expressões pejorativas têm sobrevivido ao longo do tempo e não se limitam ao cenário político, se espalhando para as desavenças do cotidiano. Talvez esteja na hora de se fazer justiça ao pensador, difundindo amplamente suas idéias e esclarecendo as pessoas quanto ao real significado de termos tão mal interpretados.
Ah, quase que me esqueço deles: quanto aos nossos políticos, aqueles seres que habitam a “polis Brasília”, e que se dizem injustiçados e mal interpretados, o tempo (e tenho esperança, também o povo brasileiro, ao aprender a dar mais valor ao seu voto) se incumbirá de mostrar-lhes o seu verdadeiro lugar na história. Lugar este que está a anos-luz de distância e muitíssimo abaixo do lugar ocupado por Nicolau Maquiavel. Quem viver, verá. Nos vemos em Outubro. Um abraço a todos e até lá.
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 22 – 19 de Setembro de 2009
Estava lendo há dias atrás uma reportagem sobre o programa “Escolas do Amanhã”, lançado recentemente pela prefeitura do Rio de Janeiro, que promete afastar crianças e jovens de um cotidiano marcado pelo tráfico de drogas e pela violência que cerca a cidade maravilhosa por todos os lados. Abrangendo 73 favelas e 150 escolas, o programa deve beneficiar cerca de 180 mil alunos e tem como um de seus pontos fortes a implementação do turno integral.
É verdade que a ideia da escola integral não é nova, já foi adotada em tempos anteriores por Brizola no mesmo Rio de Janeiro, por Marta Suplicy em São Paulo, além de outras tentativas realizadas com maior ou menor sucesso durante o governo de Fernando Collor de Mello. Os especialistas afirmam que nos modelos anteriores, o que faltou foi um projeto pedagógico que pudesse potencializar os efeitos do período integral.
Em resumo, não basta apenas manter as crianças dentro das salas de aula por algumas horas a mais durante um dia. É preciso que haja qualidade do ensino, com atividades interessantes e prazerosas, de forma a fazer os jovens gostarem do ambiente e ficarem, por livre e espontânea vontade, mais tempo dentro da escola. Por falar nisso, uma pesquisa recente revelou que o estudante brasileiro é um dos que passa menos tempo dentro da escola em todo o mundo. Eis uma boa oportunidade para melhorar este quadro, através da oferta de atividades que podem consumir, de forma agradável e produtiva, o tempo ocioso destes jovens.
A receita utilizada é simples : como os alunos devem ficar dois turnos na escola, várias atividades são planejadas para complementar a sua formação, sempre ligadas, dentro das possibilidades existentes, ao currículo escolar. Assim, aulas de xadrez, música, dança e teatro, além de trabalhos técnicos e manuais, entre vários outros, ocupam as tardes da garotada e fazem muito sucesso, a ponto de diminuir drasticamente a falta à escola e os índices de evasão.
Este é mais um motivo para acreditarmos que atividades esportivas e lúdicas realmente podem ser uma boa saída para frear o crescente desinteresse apresentado pelos estudantes. Desta forma, além de mantê-los dentro da escola, a salvo do trabalho infantil, da violência, da marginalidade e do tráfico de drogas existentes do lado de fora dos muros, os jovens passam a gostar da escola e se dedicar aos estudos, aumentando a possibilidade de termos um futuro mais iluminado, para eles próprios e para o país.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 21 – 12 de Setembro de 2009
Quando o assunto é educação superior, constatamos que ainda existe uma grande diferença entre as instituições de ensino públicas e privadas. A rigor, a qualidade superior do ensino público em relação ao privado se deve ao maior número de cursos de pós-graduação e maior quantidade de mestres e doutores das instituições estaduais e federais, além do regime de dedicação exclusiva de seu corpo docente, o que, a princípio, incentivam a pesquisa científica e a orientação dos alunos, se traduzindo em uma maior qualidade de ensino destas entidades.
Porém, a vantagem das universidades públicas sobre as privadas no indicador de qualidade do governo federal diminuiu 19% em um ano, apontam dados do Ministério da Educação. A nota média das públicas era 27% superior que as particulares em 2007 e caiu para 22% em 2008. Os dados referem-se ao IGC (Índice Geral de Cursos) divulgados na semana passada pelo MEC.
O que poderia ser uma boa notícia, na verdade, é um fato preocupante. Isto porque não foram as instituições privadas que melhoraram seus indicadores, mas as públicas que pioraram os seus índices. A diferença diminuiu porque as instituições privadas mantiveram suas médias (239, em escala até 500) e as públicas tiveram um recuo (de 304 para 292).
Dentro das públicas, o maior recuo ocorreu nas universidades estaduais, cuja média caiu 9%. Os dados não consideram USP e Unicamp, que decidiram não participar da avaliação. Nas federais, a queda foi de apenas 1%.
Parece que o problema está mesmo nas universidades estaduais. Os novos dados mostram também que o número de universidades reprovadas subiu de um para cinco (aquelas que obtiveram notas 1 e 2 no IGC). Estão nesta lista as universidades estaduais de Goiás, Alagoas, Roraima, Piauí e a de Ciências da Saúde de Alagoas.
Alguns dirigentes das instituições estaduais já se manifestaram, se dizendo preocupados com os indicadores apresentados. As explicações que surgiram vão desde a existência de universidades novas (em processo de crescimento e que ainda trabalham para melhorar a titulação dos docentes), passam pela hipótese de ser o controle nas estaduais menos rigoroso (pois o processo está principalmente nas mãos dos Conselhos Estaduais de Educação, e não nas do MEC) e terminam com uma justificativa preocupante, que é a possibilidade de, em alguns estados, estar havendo uma maior interferência política na gestão universitária.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 20 – 05 de Setembro de 2009
Quem acompanha o noticiário nacional em qualquer meio de comunicação já está acostumado a uma triste realidade: ver a todo momento notícias envolvendo fraudes, superfaturamentos, desvios de verbas públicas, corrupção, etc, etc, etc ... Hoje vamos falar de mais uma, no setor da educação.
Uma fiscalização realizada pelo Ministério da Educação (MEC) revelou que escolas técnicas financiadas com dinheiro público, que deveriam atender alunos gratuitamente, viraram prédios vazios e faculdades privadas ou até edifícios nunca construídos.
Entre os anos de 1999 a 2007, noventa e oito entidades, principalmente fundações e sindicatos, receberam do governo R$ 257 milhões de reais, o que seria suficiente para erguer cinquenta escolas federais. O MEC constatou que apenas a Fundação Iochpe, que atua nos estados de São Paulo e no Rio Grande do Sul cumpriu tudo o que foi contratado.
Outras vinte instituições abriram vagas gratuitas, mas não na quantidade acordada. Nove delas já existiam antes dos repasses. As demais entidades tiveram irregularidades que, diz o órgão, vão do não oferecimento dos cursos à cobrança de mensalidade de 100% dos alunos.
O MEC fez auditoria e reconheceu que faltou fiscalização. Das escolas que receberam verbas, além das trinta escolas federalizadas, cinco passarão para Estados, onze estão sob a gestão do “Sistema S” (Senai, Senar, Senac e Senat) e uma escola decidiu devolver o dinheiro. Para outra foi aberto processo de tomada de contas. Há ainda negociações em curso com outras escolas. As vinte que têm cursos gratuitos em número menor estão redefinindo suas metas com a União.
Fraudar verbas destinadas à educação é impedir que mais brasileiros tenham acesso ao ensino e que a qualidade da educação melhore. É obstruir a construção de escolas, a montagem de laboratórios e bibliotecas, é impossibilitar uma melhor remuneração dos professores. É impedir que o país avance e se torne um lugar melhor para todos.
Qualquer tipo de fraude deve ser evitada e combatida através de mecanismos mais eficientes de fiscalização e melhores práticas de gestão. É preciso ter a consciência de que investimentos em fiscalização e em gestão são altamente recomendáveis, pois o dinheiro usado para este fim impede, muitas vezes, as sangrias que temos presenciado nos jornais, o que, ao final das contas é um bom negócio.
Todas as fraudes são detestáveis e casos de polícia, porém, para um país que deseja ser de primeiro mundo, fraudes na saúde e educação de seu povo são inadmissíveis !
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 19 – 29 de Agosto de 2009
O Senado aprovou há alguns meses atrás dois projetos que abrangem o sistema prisional. O primeiro deles, que atinge principalmente as visitas e os agentes penitenciários, torna crime a entrada de aparelhos celulares em penitenciárias. A lei passa a prever pena de detenção de três meses a um ano a quem ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
O outro projeto, objeto da nossa coluna desta semana, torna obrigatória a oferta de cursos profissionalizantes e destinados à formação no ensino fundamental e no ensino médio aos presos. Os presídios passarão a ser obrigados a exigir cursos nas modalidades de educação de jovens e adultos ou de educação à distância, a fim de conceder formação de educação básica ou profissionalizante para os detentos.
O projeto, de autoria do deputado Paulo Rocha (PT-PA) e sob relatoria de Romeu Tuma (PTB-SP), determina que esses cursos e programas deverão ser integrados ao sistema federal ou estadual de ensino, com objetivo de conduzir à qualificação para o trabalho ou a alguma habilitação técnica, em consonância com as normas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Em seu relatório, Tuma afirma que o projeto contribuirá para o aperfeiçoamento da Lei de Execuções Penal, por definir de forma inequívoca a obrigação do Estado e os direitos e deveres dos presos, relacionados à assistência educacional a ser prestada nos estabelecimentos penais.
Todos conhecemos as dificuldades da justiça e do sistema prisional brasileiro. Existem problemas relacionados à falta de presídios, falta de dinheiro, excesso de presos por unidade, morosidade da justiça em julgar os casos, impunidade generalizada, corrupção de delegados e agentes penitenciários, regalias dadas a presos importantes ou àqueles que têm dinheiro a pagar por elas. O crime praticado a partir de dentro dos presídios, principalmente através de telefones celulares, motivo do primeiro projeto citado, é um dos mais graves e que exige medidas mais imediatas e eficazes.
Será que, mesmo diante de todos estes problemas, será possível atender a lei que determina a oferta de cursos aos detentos? Haveria condições estruturais, ambientais e de recursos humanos para tal? Seria realmente ótimo se o que está escrito na lei pudesse realmente se tornar realidade. Temos a possibilidade inicial de algumas unidades modelo conseguirem cumprir a lei. Tudo depende dos sistemas estadual e federal de ensino e também das direções dos presídios e dos administrações dos governos estaduais e federal, responsáveis pela infra estrutura e pelos orçamentos dos complexos penitenciários.
Estas são boas ideias. Boas ideias são o primeiro passo. Mas apenas boas ideias não bastam. É preciso implementá-las de forma competente, eficaz e responsável, conforme a lei. Vamos acompanhar e torcer para que esta seja uma lei que “pegue”. Coisas de Brasil !
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 18 – 22 de Agosto de 2009
Há duas semanas atrás, discutimos aqui na coluna a respeito de qual seria a melhor escola para crianças e jovens portadores de algum tipo de deficiência, uma escola considerada “normal” ou uma escola do tipo “especial”. Hoje trago alguns números que refletem a realidade das pessoas portadoras de necessidades especiais com relação ao nível superior.
Segundo a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), no Mapa das Ações Afirmativas do Laboratório de Políticas Públicas, há 19 instituições públicas de ensino superior no país (de um total de 249) que adotam algum tipo de ação afirmativa beneficiando deficientes. Há pelo menos três anos, algumas instituições de grande porte seguem um sistema de reserva de quotas para deficientes. São as universidades estaduais do Rio de Janeiro, de Goiás e do Rio Grande do Sul, além da federal do Maranhão. Em todas elas, um estudo constatou que o percentual de deficientes beneficiados foi sempre inferior a 1% do total das vagas ou matrículas.
Mesmo na universidade que há mais tempo reserva vagas para deficientes, a UERGS (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul), que adota uma reserva de 10%, são poucos os que, na prática, se beneficiam do sistema. Eles somam apenas 12, ou 0,5% do total de 2.410 estudantes. Apenas 20 deficientes se candidataram a uma das 64 vagas destinadas a eles no último exame, ou seja, havia mais vagas reservadas do que candidatos aptos a elas.
Enquanto isso, o Congresso Nacional debate a aprovação de cotas de 10% das vagas em todas as universidades públicas para deficientes. Porém, a realidade das que já adotam esse sistema mostra que a inclusão dessa população no ensino superior é mais complexa do que o simples estabelecimento de um percentual em lei. O que a experiência dessas universidades mostra é que o principal filtro não está no vestibular. A inclusão passa antes por um esforço na educação básica, o que é evidenciado também pelo Censo Escolar do MEC (Ministério da Educação). Em 2007, o levantamento identificou apenas 16 mil deficientes no ensino médio, de um total de 8 milhões de estudantes, nesse nível de ensino.
Um dos desafios a serem vencidos quando o aluno consegue ingressar em uma universidade pública é a questão da acessibilidade a prédios e instalações no campus. Outro desafio é dar condições para que eles concluam o curso, pois a evasão destes estudantes é bastante alta, acima da média normal das instituições, o que faz com que o percentual de concluintes nesse grupo ainda seja muito baixo. Outro problema detectado é que grande parte deles não conseguem integralizar o curso no tempo mínimo permitido. Algumas universidades estão desenvolvendo projetos de acompanhamento de cada aluno deficiente, trabalhando diretamente com as unidades acadêmicas a que eles estão vinculados, numa tentativa de minimizar os problemas encontrados e dar reais condições de aprendizagem a este grupo de alunos.
sábado, 15 de agosto de 2009
Filosofia & Cia - Ano I - Número 8 - Agosto de 2009
Um pouco de história: No período de transição da Idade Média para a Idade Moderna, o pensamento nascente defendia a liberação da criatividade e da vontade do ser humano, em oposição ao pensamento escolástico, segundo o qual todas as questões terrenas deviam subordinar-se à religião. O antropocentrismo, predomínio do humano sobre o transcendente, era o eixo desta nova filosofia, que seria posteriormente conhecida como Humanismo. Embora fosse profundamente cristão, o filósofo holandês Erasmo de Roterdã (1469-1536) entrou para a história justamente por se opor ao domínio da Igreja sobre a educação, a cultura e a ciência. Era necessária uma boa dose de ousadia para ir contra a influência religiosa que dominava sua época, e era justamente a ousadia que fazia parte das atitudes que um número crescente de intelectuais começava a enaltecer naquele período de profundas transformações.
De volta ao século XXI: O Ministério da Educação (MEC) divulgou nas últimas semanas medidas que devem mudar radicalmente a educação em nosso país. Primeiro anunciou o fim do Vestibular, nos moldes que conhecemos hoje, que será substituído pelo ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Depois, anunciou um projeto piloto a ser realizado em 100 escolas estaduais a partir do ano que vem, cujo objetivo é acabar com o currículo escolar fragmentado e terminar com a divisão do saber em disciplinas, trabalhadas de forma isolada e sem nenhum contexto com a realidade do mundo.
Reflexão: Vamos começar nossa reflexão pelo fim da fragmentação do currículo, que é uma atitude louvável, embora complexa e de difícil implementação. O saber é único e as disciplinas não são conhecimentos isolados. Muito pelo contrário, a Química “conversa” o tempo todo com a Física, assim como a História está “intimamente ligada” ao Português. Mas não basta acabar com as disciplinas, ou agrupá-las em grandes grupos, como por exemplo, línguas, raciocínio lógico, humanidades e saúde. Os professores devem ser treinados e capacitados a esta nova realidade, pois estão muito acostumados a atuar de forma isolada, sem interagir com outros professores e outras matérias, pois é assim que aprenderam em sua época de estudantes e é assim que praticam no seu dia-a-dia escolar. A partir de agora, deverão transmitir seu conteúdo de forma integrada, trabalhando em equipe com outros docentes. O conceito de projetos e a interdisciplinaridade ganham muita força com esta nova ideia.
Quanto ao fim anunciado do velho e tradicional Vestibular, o novo ENEM, como está sendo chamada a prova que o irá substituir na grande maioria das faculdades e universidades do país, é uma prova que valoriza muito mais o raciocínio, a comparação, o poder de síntese, de análise e a observação do aluno. Tudo muito diferente das provas que acontecem hoje em dia, onde o estudante precisa decorar um grande volume de informações, privilegiando mais o processo de memorização de fórmulas, datas, nomes e fatos históricos, o que acarreta uma carga de estresse muito elevada para nossos jovens. Trata-se de uma excelente medida, que tende a modificar toda a educação no país, pois os ensinos fundamental e médio fluem muito em função do acesso ao nível superior e, mudando o estilo do processo seletivo, a tendência é uma revisão geral, de cima para baixo, das estratégias de ensino.
Diferentemente de Erasmo, cuja ousadia maior foi lutar contra o domínio da Igreja sobre a educação, nos dias atuais, a grande ousadia do MEC é mexer em um processo tradicional e enraizado, mas que, a olhos vistos, já não é adequado a nossa realidade. Estas medidas ousadas e corajosas são muito necessárias e tendem a causar uma grande revolução na educação do Brasil. Como, infelizmente, não é raro ver em nosso país ótimas ideias se transformarem em grandes fracassos, resta-nos torcer para que sejam bem implementadas e que possam fazer surtir os efeitos tão desejados por todos nós. Nos vemos em Setembro. Um abraço a todos e até lá.
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 17 – 15 de Agosto de 2009
Uma palavra. Doze letras. Criatividade. Na Sociedade da Informação e do Conhecimento em que vivemos, talvez nada seja mais importante do que a criatividade, que já se tornou imprescindível em muitas atividades. Junto da inovação, com a qual anda de mãos dadas, vem fazendo toda a diferença entre o sucesso e o fracasso de pessoas e organizações. Com as escolas, obviamente, não é diferente, pois o fenômeno é o mesmo e acontece de forma global.
De modo geral, em todas as atividades humanas existem muitas opções para se realizar uma tarefa. Algumas maneiras são mais atraentes que outras. Algumas dão mais certo do que outras. Mas uma coisa é certa: é necessário cada vez mais ser criativo para vencer os obstáculos atuais.
Se em tudo é necessário criatividade, imagine então em um ambiente de sala de aula, ilhada em um mundo cheio de atrativos, todos localizados do lado de fora da escola! O professor, além de instrutor e transmissor do conhecimento, precisa ser amigo e conselheiro. Mas são tantas turmas, tantos alunos, tantos pais, tantos problemas, tantas dificuldades. Os conteúdos precisam ser planejados, desenvolvidos e trabalhados. Todos e tudo em volta exigindo do professor muito de sua atenção e sua capacidade.
Como dar conta disso tudo? Segundo nos contam alguns professores da rede pública, muitas vezes a escola não oferece sequer o álcool para o mimeógrafo (sim, é verdade, ele ainda existe!), as folhas para uma resenha, os recursos tecnológicos, etc. Quem sabe se usarmos ela, a criatividade? Para se planejar e realizar uma aula criativa talvez não seja necessário tirar dinheiro do próprio bolso, como parece que alguns fazem. Claro que tendo dinheiro fica tudo muito mais fácil, mas nem sempre (diria até, na grande maioria das vezes) esta não é a realidade. Mas sabendo usar a criatividade pode-se tentar competir com os atrativos que estão ao alcance dos jovens fora da escola. Desse jeito, há alguma possibilidade de os alunos despertarem o interesse pelo estudo. E certamente os professores se sentirão mais recompensados e valorizados.
Ao se substituir a velha pedagogia tradicional, as aulas tradicionais de “cuspe e giz”, os ditados e os escritos no quadro verde da sala, por atividades mais próximas da vivência diária dos alunos, aumenta-se consideravelmente a chance de se ter um maior interesse dos alunos. Talvez uma boa dica seja saber incentivar e estimular os alunos, criando aulas diferentes e divertidas. Usar jogos educativos e atividades lúdicas é uma ótima ideia. Outras são introduzir cada novo conteúdo de forma diferente, mudar a disposição das cadeiras ou trocar de ambiente dar uma aula, como no pátio da escola, por exemplo.
Sugeriria também explorar vídeos e filmes, instigar e provocar a curiosidade sobre os conteúdos a serem dados, levar jornais e revistas para sala de aula e debater sobre o tema escolhido por cada um. Procurar realizar diversos trabalhos em pequenos grupos ou grupos sucessivos para que os alunos possam trocar experiências, pedir sugestões a eles no momento de preparar as aulas, de forma que suas opiniões possam ser valorizadas também nos parece boas práticas.
Uma palavra. Doze letras. Interessante. É assim que deve ser uma boa aula. Que tal tentar?
Colaborou com esta coluna Daniela Lidiane Gonçalves, terapeuta ocupacional.
sábado, 8 de agosto de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 16 – 08 de Agosto de 2009
Escola Especial ? Escola Comum ? Qual a melhor opção quando uma criança necessita de cuidados especiais por ser portadora de alguma deficiência ? Esta polêmica vem ganhando novos capítulos nos últimos dias e, pelo que parece, ainda está longe de um desenlace final.
Um parecer do CNE (Conselho Nacional de Educação), mas que ainda não foi homologado pelo MEC (Ministério da Educação), indica como obrigatória a matrícula de alunos com deficiências em escolas comuns. O documento não tem força de lei, mas, caso seja realmente homologado, servirá para orientar o MEC e os Sistemas de Educação na interpretação da legislação já em vigor no país, inclusive no caso de distribuição de recursos do FUNDEB (Fundo de Financiamento da Educação Básica).
O parecer reforça a posição da Secretaria de Educação Especial do MEC que, apoiada por algumas entidades, entende ser dever dos pais e do governo garantir matrícula de crianças deficientes em escolas comuns. Os atendimentos especiais seriam realizados de forma complementar, no contraturno, e não substituiriam os da rede regular.
As entidades do setor têm opiniões diversas acerca do assunto. A Federação Nacional das APAEs divulgou na semana passada nota de repúdio ao parecer, dizendo que ele extrapola a legislação em vigor, que as escolas públicas ainda não estão preparadas para receber todos os alunos com deficiência e que, no fundo, o objetivo da medida seria o de extinguir as escolas especiais. A Federação se declara a favor da inclusão, mas considera que não se pode tornar a medida obrigatória do dia para a noite. Segundo ela, nem todas as famílias concordam e há casos de deficientes intelectuais severos que, se incluídos na escola comum, seriam prejudicados em seu desenvolvimento.
Por outro lado, em resposta, a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down fez abaixo-assinado de apoio à resolução. Um de seus argumentos é que, sob o pretexto de que as escolas públicas não estão preparadas, a matrícula em escolas especiais reforça a segregação e adia o processo de inclusão dos deficientes em classes regulares. O órgão considera que há muito a avançar no atendimento na rede pública, mas o cenário está melhorando e cabe à sociedade cobrar mais do poder público. Segundo a entidade, o parecer apenas reforça um direito inquestionável, que está na Constituição e na convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
A polêmica ressuscitou no país a discussão sobre os limites da inclusão e está opondo entidades de defesa de pessoas com deficiência. O mais importante de tudo isto, a meu ver, é que os questionamentos estão surgindo e sendo discutidos, primeiro passo para que soluções sejam encontradas. Resta-nos cobrar do governo que medidas efetivas sejam tomadas, de forma a garantir às pessoas que portam algum tipo de deficiência um atendimento digno e um ensino compatível com as suas limitações.
sábado, 1 de agosto de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 15 – 01 de Agosto de 2009
Terminado o prazo de inscrições para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), foram contabilizados 4.576.126 (quatro milhões, quinhentos e setenta e seis mil, cento e vinte e seis) estudantes inscritos para a prova, que irá substituir, total ou parcialmente, o vestibular, em cerca de 40 universidades federais. O número pode variar um pouco devido a uma parcela de alunos oriundos de escolas particulares que se inscreveram e que, por algum motivo, não pagaram a taxa na rede bancária. Os alunos das escolas públicas ficaram isentos do pagamento.
Apesar do grande número de inscritos, o número ficou abaixo da expectativa do MEC (Ministério da Educação), que fazia contas com algo em torno de 6 milhões de interessados em fazer as provas, que têm a previsão de serem realizadas nos dias 3 e 4 de outubro, em 1619 municípios em todo o Brasil. A prova do ENEM também é obrigatória para todos que desejam concorrer a bolsas de estudo em faculdades e universidades particulares através do Programa Universidade para Todos (PROUNI), do governo federal.
Como houve alteração da metodologia de seleção e, a partir de agora, as provas terão a duração de dois dias, ao invés de apenas um, como era na maneira tradicional, um problema foi detectado: estudantes religiosos que guardam o sábado e não podem realizar as provas neste dia.
A solução para a questão chegou através de um comunicado do INEP (órgão do MEC responsável pelo Enem), informando que dará a estes estudantes religiosos a oportunidade de fazerem as provas no próprio sábado, apenas depois do pôr do sol. A medida deve beneficiar principalmente vestibulandos adventistas e judeus. No dia do exame, todos os inscritos entrarão no local de prova juntos, até as 12:55 h. Os candidatos que solicitarem o horário especial esperarão em uma sala separada, sem acesso a livros ou meios eletrônicos durante a espera.
Mesmo com estas medidas, a comunidade judaica apontou novos problemas. De acordo com as normas da religião, os judeus não podem andar de carro, pegar ônibus ou metrô, carregar objetos ou escrever, entre outras proibições, do pôr do sol de sexta ao pôr do sol de sábado. Desta forma, os estudantes não poderão carregar nada, nenhum documento e nenhuma comida para o local da prova, já que têm que esperar esse tempo todo. Outro problema é que a comunidade comemora, entre os dias 2 a 8 de outubro, um feriado religioso (Sucot), que também impõe restrições às atividades, o que inviabiliza a prova tanto no sábado quanto no domingo.
sábado, 25 de julho de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 14 – 25 de Julho de 2009
Dentre as 55 universidades federais do país, 26 optaram por utilizar a prova do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), como parte do processo de seleção para ingresso no curso superior em 2010. Outras 7 descartaram o uso da nota do exame e 22 ainda estão em fase final de decisão. O próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, considerou o resultado como “surpreendente", se mostrando satisfeito com a adesão das universidades federais ao novo modelo.
Das universidades que já confirmaram o uso do novo Enem, 14 decidiram abolir a prova do vestibular e trocá-la pelo novo exame. Outras 6 instituições de ensino optaram por eliminar apenas a primeira fase do vestibular. Nesses casos, o vestibulando será classificado para a segunda fase do processo seletivo de cada universidade a partir de seu desempenho na prova do MEC. Há ainda 3 federais que decidiram usar o Enem como um percentual da nota de sua seleção. Outras 3 confirmaram o uso do ENEM, mas ainda não divulgaram a maneira de aplicá-lo.
De acordo com a proposta do MEC, a prova do novo Enem será realizada em dois dias e terá 200 testes de múltipla escolha, quando serão avaliadas as áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias (incluindo redação), ciências humanas e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, além de matemática e suas tecnologias.
As inscrições para participar do ENEM 2010 terminaram no último domingo, dia 19 de julho, e teve algo em torno de 4 milhões de candidatos inscritos. No momento em que se inscreveu, o estudante teve o direito de optar por cinco cursos e instituições e, de acordo com a nota, simular a posição no curso pretendido, em comparação com as notas dos demais concorrentes. No sistema unificado, os pesos das provas podem ser diferentes, caso a instituição queira.
A proposta do MEC prevê a aplicação do novo Enem nos dias 3 e 4 outubro e a divulgação das provas em 4 de dezembro. O resultado final, com a correção das redações, está sendo esperado para 8 de janeiro do próximo ano.
Resumindo a situação das principais universidades próximas a Lafaiete, Congonhas e Ouro Branco, temos:
1) UFV (Universidade Federal de Viçosa): Vai combinar o ENEM com a nota do vestibular tradicional e vai adotá-lo também para as vagas remanescentes.
2) UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rey): Parte das vagas serão usadas no sistema unificado. O ENEM poderá ser usado no primeiro dia de provas e servirá também para as vagas ociosas.
3) UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora): Quem fizer o ENEM poderá utilizar a nota na primeira fase. As outras duas fases continuam obrigatórias.
4) UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto): Vai substituir a primeira fase do Vestibular pelo ENEM.
5) UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais): não vai usar o novo ENEM. O Vestibular continua em sua forma tradicional.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 13 – 18 de Julho de 2009
Vimos sempre falando em nossa coluna sobre os problemas que envolvem a educação do nosso país, trazendo fatos e números que constatam que o Brasil precisa de medidas fortes e eficazes para o setor. Vimos apontando também possíveis caminhos para uma melhoria nos rumos da educação, sendo que alguns deles passam, sem dúvida, por uma maior qualidade na formação dos professores e por uma maior valorização da classe docente. Hoje trago mais uma má notícia que causa perplexidade e tristeza a quem vive e trabalha no ambiente educacional.
O Ministério da Educação (MEC) está supervisionando 49 cursos superiores de pedagogia e 11 cursos da modalidade Normal que apresentaram conceitos insatisfatórios no último Exame Nacional de Avaliação do Desempenho de Estudante (Enade). Uma comissão de supervisão visitou as instituições para verificar aspectos como o projeto pedagógico, a infra-estrutura e a composição do corpo docente. Foi divulgado recentemente que, destes 60 cursos sob sua supervisão, 17 deles estão em fase de extinção da oferta, o que dá um percentual de quase 30 %. Isto mesmo, mais de um quarto destas entidades de ensino, não poderão realizar vestibulares e receber novos alunos para os cursos da área da Educação !
Segundo o MEC, eles não atenderam às condições mínimas exigidas pela comissão de especialistas que avaliou as instituições. De acordo com o ministério, em 12 destes 17 cursos, o pedido de encerramento da oferta foi solicitado pelas próprias instituições, possivelmente, em minha opinião, porque eles não estavam tendo a procura esperada e/ou não estavam dando o retorno financeiro desejado, pois grande parte delas são de caráter particular. Os outros 5 cursos do grupo dos 17 estão sob processo administrativo pelo não cumprimento de antigas determinações do MEC ou porque apresentaram condições insatisfatórias de qualidade do ensino oferecido.
As demais instituições, que não tiveram que encerrar a oferta, assinarão um termo de saneamento de deficiências pelo qual se comprometem a melhorar os aspectos que foram mal avaliados pela comissão, cumprindo as recomendações determinadas pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, necessárias para que continuem em funcionamento.
A primeira conclusão a que podemos chegar é realmente a falta de qualidade dos cursos Normal e Pedagogia em todo o país, formando profissionais que estão aquém das necessidades básicas do setor, o que certamente faz com que nossos índices piorem, ao invés de melhorarem. Neste ponto realmente é necessária uma maior rigidez no controle destes cursos, fechando-os se necessário, de forma a privilegiar os que permanecem e buscam a qualidade de seu ensino.
A segunda conclusão é que é necessária uma urgente revisão da política de remuneração da classe dos docentes, de forma a incentivar nossos jovens a se interessarem novamente pelo ofício de professor. O que vemos atualmente é uma possível vocação ser prejudicada e deixada de lado pelo aspecto financeiro não compensador da profissão. Antigamente, a pessoa sentia orgulho em ser professor, pois além de ter reconhecimento e grande credibilidade, os profissionais gozavam de melhores condições de trabalho e de vida. Hoje em dia, os salários são, em muitos casos, tão baixos que os docentes são obrigados a ter vários empregos em várias escolas diferentes, para chegar a um patamar satisfatório de remuneração. Trabalhando tento, muitas vezes falta tempo para planejar e preparar boas aulas, o que pode refletir na qualidade do ensino oferecido aos alunos.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Filosofia & Cia - Ano I - Número 7 - Julho de 2009
Um pouco de história: Numa época em que a Igreja ainda buscava em Santo Agostinho grande parte de sua sustentação doutrinária, São Tomás de Aquino (1224-1274) formulou um amplo sistema filosófico que conciliava a fé cristã com o pensamento grego de Aristóteles. Não se tratava apenas de adotar princípios opostos aos dos agostinianos, que se inspiravam no idealismo de Platão (corrente chamada, por este motivo, de neoplatonismo), mas cultivar o princípio aristotélico de que cabe à razão ordenar e classificar o mundo para entendê-lo. O pensamento de Aristóteles respondia melhor aos “novos tempos” do que o neoplatonismo e a ideia do tomismo (como é chamada a filosofia inaugurada por Tomás de Aquino) era de levar para dentro da Igreja um pensamento que não concebia um Deus criador nem a vida após a morte.
De volta ao século XXI: Estamo comemorando em 2009 o bicentenário de nascimento de Charles Darwin, o pai da teoria da evolução das espécies. As ideias revolucionárias do naturalista inglês são os pilares da biologia e da genética e estão presentes em muitas áreas da ciência moderna. Sem a teoria da evolução, a moderna biologia, incluindo a medicina e a biotecnologia, simplesmente não faria sentido. Os cinco pilares do Darwinismo são a evolução dos seres vivos (o mundo não foi criado por ninguém, nem é imutável, e que os organismos estão em um lento e constante processo de mutação); o ancestral comum (cada grupo de organismos descende de um ancestral comum e todos os grupos remetem a uma única origem da vida na Terra, a ameba original); a multiplicação das espécies (elas tendem a se diferenciar, criando novas espécies); o gradualismo (as populações se diferenciam gradualmente, de geração em geração) e a seleção natural (os seres vivos sofrem mutações genéticas e podem passá-las a seus descendentes, que têm sua herança genética posta à prova pelas condições ambientais em que vivem).
Apesar de plenamente aceito e celebrado como um ponto de partida para um grau de conhecimento sem precedência sobre os seres vivos, o evolucionismo de Darwin vem sendo deixado de lado em algumas escolas, que preferem ensinar às crianças e aos jovens, nas aulas de ciências, a teoria do criacionismo. Trata-se da explicação bíblica para a origem da vida, cuja ideia básica é a de que Deus criou tudo, desde o homem, a mulher, os animais, as plantas, há 6.000 anos. Como explicar esta atitude, caro leitor, principalmente se destacarmos que este fato não vem acontecendo apenas em países pobres, ignorantes e subdesenvolvidos, mas nos EUA, na Inglaterra e em outros países campeões na produção científica ? Como entender que apenas um em cada dois americanos ou um em cada quatro ingleses acreditam que o homem é produto de milhões de anos de evolução ?
Reflexão: A explicação certamente tem conotação religiosa e passa pelo fato de que a descoberta dos mecanismos da evolução enfraqueceu o único bom argumento disponível para a existência de Deus. A biologia desmentiu a natureza especial do homem e o relegou à posição de um “mero descendente do mundo animal”. Impacto semelhante só é comparável com a descoberta por Copérnico que a Terra não era o centro do universo. Talvez estes tenham sido os dois mais fortes golpes contra a auto-estima da humanidade. Infelizmente, a teoria da evolução é percebida por alguns como uma arma projetada para destruir a religião, a moral e o potencial dos seres humanos. Ciência e religião já andaram de mãos dadas pela maior parte da história humana, mas Darwin foi, seguramente, um dos responsável por esta separação. Tudo bem que suas teorias causam mal-estar em muita gente, mas difícil de aceitar são os casos em que o darwinismo é considerado um inimigo a ser combatido.
Manda o bom senso que não se misturem ciência e religião. A primeira se preocupa com os mistérios do mundo físico, enquanto a segunda, os mistérios do mundo espiritual. Porém, elas não necessariamente se eliminam, vide o fato de que Darwin era religioso e chegou a se preparar para ser pastor da Igreja Anglicana. Elaborar uma teoria que ia contra os dogmas da Bíblia era para ele motivo de enorme angústia. Darwin nunca declarou que a Bíblia estava errada e manteve sua fé religiosa até os últimos anos de sua vida.
É claro que em sua fé, os criacionistas têm o pleno direito de acreditar que Deus criou o mundo e tudo o que existe nele, mas coisa bem diferente é impor esta maneira de enxergar a natureza às crianças em idade escolar, renegando fatos já plenamente comprovados pela ciência. Esta atitude nega às crianças os fundamentos da razão, substituindo-os pelo pensamento sobrenatural. Não há problemas também no fato de que o criacionismo seja dado nas aulas de religião, mas ensiná-lo na aula de ciências é um ato que pode trazer graves consequências, pois ele não é adequado para ser ensinado em aulas de biologia para explicar a origem das espécies, pois faz com que os jovens desde cedo confundam crença e superstição com razão e ciência.
P.S: A coluna deste mês se valeu de informações publicadas na Revista Veja do mês de Fevereiro de 2009
sábado, 11 de julho de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 12 – 11 de Julho de 2009
Existe uma parábola que conta a história de um sujeito que dormiu por 30 anos, ainda no século XX, e acordou no século XXI. Estranhou tantas novidades e ficou impressionado com o mundo de hoje: muita tecnologia, construções, equipamentos, carros. Tudo para ele era novidade, após o seu duradouro sono. Apenas se sentiu confortável quando entrou numa escola, ao reparar que lá, nada havia mudado, tudo continuava como 30 anos atrás.
Como se pode reparar, não sou bom contador de histórias ou parábolas, mas tomei coragem de narrar esta para concluir que trata-se de uma grande verdade. A escola foi uma das entidades que menos mudou ao longo do tempo, não acompanhando, nem de longe, a evolução da sociedade em que vivemos. Como conseqüência, os alunos reclamam cada vez mais de falta de vontade em ir à escola e falta de interesse em assistir as aulas. Aí surge a inevitável pergunta: o que podemos fazer para mudar este quadro? Como tornar nossas aulas mais atraentes e passar o conteúdo necessário de maneira agradável aos estudantes?
Talvez uma das respostas a esta questão seja a contextualização das nossas aulas. Trazer assuntos do cotidiano para dentro da sala de aula tem-se mostrado uma boa estratégia para prender a atenção dos jovens e fazê-los se interessar pela aula, ou pelo menos, permanecer dentro da sala e prestar atenção nas palavras do professor e naquilo que está acontecendo dentro do ambiente da classe.
Tomemos como exemplo a grande notícia do momento: a morte do rei do pop, Michael Jackson. Desde semana passada, quando veio a público que o cantor norte-americano partiu para outro palco, não se fala em outra coisa. De manhã, de tarde e de noite, todos os programas, de fim noticioso ou não, falam sobre este assunto, que ainda vai render muito mais. Primeiro, a morte, depois o enterro e o show. A partir de agora vamos assistir a briga pela herança, a guarda dos filhos e outras tantas notícias e fofocas que virão a respeito do mais genial, misterioso e bizarro artista dos últimos tempos.
E a mídia já notou que todos, quase sem exceção, se interessam pelo assunto: os fãs, os apenas admiradores e até mesmo os mais jovens, que o conheciam pouco ou mesmo não o conheciam, agora tomam contato com o criador do passo mais criativo da dança pop, o “moon-walk”.
Será que podemos “aproveitar” este interesse dos nossos pelo assunto para diversificarmos nossas aulas ? Vejamos: para os professores de inglês, as letras originais e para os de português, as traduções de suas mais belas canções são ótimas ideias para se trabalhar dentro da classe. Professores de história, filosofia e sociologia têm um rico filão de discussão a respeito da história recente americana, com o papel do negro na sociedade daquele país e também a questão do negro, do preconceito e do racismo na história e na sociedade brasileira. Ciências, química e biologia, entre outras, podem ser trabalhadas tocando em assuntos como o corpo humano, pigmentação e doenças da pele (como o vitiligo, que o cantor dizia ter), cirurgias plásticas, remédios, dependência química, etc. Até a física talvez tenha lugar quando passamos a analisar os movimentos do dançarino no palco, seus malabarismos, rodopios e os passos que o tornaram famoso.
A adoção de novas metodologias do processo de ensino é, sem dúvida, uma questão que envolve criatividade e inovação por parte de escolas e professores. Assim com este, outros fatos e acontecimentos podem ser trabalhados em sala, de forma a tornar as aulas mais atraentes e agradáveis para os nossos alunos.
sábado, 4 de julho de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 11 – 04 de Julho de 2009
Semana passada falamos aqui em nossa coluna sobre um artigo publicado pela revista britânica “The Economist”, que traçava um panorama da situação da educação no Brasil e afirmava que a má qualidade das escolas é o que freia o desenvolvimento do país. Hoje trazemos mais alguns números sobre a educação brasileira, obtidos desta vez a partir de um relatório da UNICEF, fundo das Nações Unidas para a Infância.
Segundo o estudo chamado “Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 - O Direito de Aprender”, o Brasil registrou avanços importantes na educação nos últimos 15 anos, apontando que os grandes investimentos feitos na área desde a década de 90 permitiram ampliar o número de matrículas nas escolas do país. Cerca de 27 milhões de estudantes estão nas salas de aula, o que corresponde a 97,6% das crianças entre 7 e 14 anos. Houve também uma grande redução do analfabetismo, em consequência do aumento da taxa de escolarização, sendo que a menor taxa de analfabetismo ficou com o grupo de 15 a 17 anos, apenas 1,7%.
Mas o Unicef também chama a atenção para o fato de que a parcela ainda fora da escola (2,4%) representa 680 mil brasileiros nessa faixa etária, o que ainda é muita gente. Segundo o documento, as desigualdades presentes na sociedade ainda têm um importante reflexo no ensino brasileiro, alertando ainda que são os grupos mais vulneráveis da população que enfrentam dificuldades para ter acesso à educação e concluir os estudos. Segundo os dados divulgados, do total de crianças que não frequentam a escola, 450 mil são negras e pardas e a maioria vive nas regiões Norte e Nordeste.
Com o acesso à escola quase universalizado, o desafio para o país, de acordo com o fundo, é garantir educação de qualidade e, principalmente, reduzir as desigualdades. Mesmo dentro da sala de aula, o aluno pode estar privado do direito à educação, pois a questão do direito de aprender não é só acesso, mas a permanência, a aprendizagem e a conclusão dos estudos na idade certa.
Os altos índices de repetência e abandono escolar são um aspecto importante que precisa ser enfrentado. A reprovação tem forte impacto na adequação idade-série, ou seja, o aluno cursar a série indicada para a sua idade. Segundo o relatório, apesar de passar em média dez anos na escola, os estudantes brasileiros completam com sucesso pouco mais de sete séries. Segundo o Censo Escolar de 2006, a quantidade de concluintes do ensino fundamental corresponde a 53,7% das matrículas na 1ª série deste nível no mesmo ano. No ensino médio, a proporção entre matriculados na 1ª série e os concluintes é ainda menor: 50,9%.
O Unicef destaca que a ampliação da obrigatoriedade do ensino é fundamental para garantir a todos o acesso à educação. Hoje apenas o ensino fundamental (dos 7 aos 14 anos) é obrigatório. O fundo recomenda que a educação infantil (para crianças de 4 e 5 anos) e o ensino médio (dos 15 aos 17 anos) também sejam incluídos. Nas nações desenvolvidas, a escolaridade obrigatória varia de 10 a 12 anos e engloba o ensino médio. Em países como a Alemanha, a Bélgica e a Holanda, a escolarização obrigatória chega a 13 anos.
"Em conjunto com uma educação de qualidade, cujo pilar é a valorização do trabalho do professor, a permanência na escola por mais tempo garante aos estudantes uma aprendizagem mais ampla e consciente, o que coloca esses países nos lugares mais altos dos rankings dos exames internacionais", diz o documento.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 10 – 27 de Junho de 2009
Há algumas semanas atrás, assistimos a um encontro histórico dos representantes do “BRIC”. Trata-se de uma sigla “inventada” por um economista americano para designar países emergentes (no caso, Brasil, Rússia, Índia e China) que despontam, na opinião dos especialistas, como potências do século XXI e passarão a ter um papel fundamental no mundo pós-crise financeira que estamos vivenciando.
Não há dúvidas de que o Brasil passa por grandes avanços, devido a grandes investimentos e progressos em setores como política e economia, mas em termos de educação, o país está bem abaixo de muitos outros países em desenvolvimento e de todos os demais países emergentes que compõem a sigla. Embora os índices brasileiros apresentem alguma melhoria no setor, são ainda sofríveis e a evolução se dá de forma bastante vagarosa, inadmissível para um país que deseja um melhor lugar no cenário internacional.
Um artigo mais recente da revista britânica “The Economist” traça um panorama da situação da educação no Brasil e afirma que a má qualidade das escolas, talvez mais do que qualquer outra coisa, é o que freia o desenvolvimento do país. A publicação baseia seus argumentos citando os maus resultados do Brasil no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), órgão da ONU.
A revista compara a situação do Brasil à da Coreia do Sul, que vem apresentando bons resultados no PISA, afirmando que até a década de 1970 o país era praticamente tão próspero quanto o nosso, mas, ajudada por seu sistema escolar superior, saltou à frente e agora tem uma renda per capita cerca de quatro vezes maior que a brasileira. Para a revista, entre os principais motivos para a má qualidade da educação no país está o fato de muitos professores faltarem por diversas vezes às aulas e os altos índices de repetência, que estimulam a evasão escolar.
Na opinião da Economist, o governo precisa investir mais na educação básica. Assim como a Índia, afirma a revista, o Brasil gasta muito com suas universidades ao invés de se preocupar mais com a alfabetização das crianças. A publicação afirma ainda que o Brasil precisa de professores mais qualificados, pois muitos têm três ou quatro empregos diferentes e reclamam que as condições de trabalho são intimidadoras e os salários muito baixos.
Finalmente, a publicação defende que a receita para melhorar a educação no país seria continuar reformando o sistema escolar, enfrentar os sindicatos dos professores e gastar mais em educação básica. Termina a matéria dizendo que: "A conquista do mundo - mesmo a amigável e sem confrontos que o Brasil busca - não virá para um País onde 45% dos chefes de famílias pobres têm menos de um ano de escolaridade".
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Coluna “Falando de Educação” - Ano I – Número 9 – 20 de Junho de 2009
Há poucos dias atrás dei um depoimento sobre a inevitável obsolescência que todos nós, professores, enfrentamos em nossa prática escolar e fui mal interpretado. Resolvi retomar o tema para refletirmos juntos sobre este assunto aqui em nossa coluna. Duas questões fundamentais me chamaram a atenção na referida passagem: I) Por que ficamos obsoletos com tamanha rapidez em nossa prática pedagógica ?; e II) Por que relutamos em aceitar esta situação ?
Com relação ao primeiro questionamento, acredito que a estonteante velocidade em que o mundo atual se modifica e se reinventa seja a resposta mais provável. Os jovens de hoje têm muitas outras atividades que concorrem com a escola, como por exemplo, internet, TV, vídeo-games, computador, paqueras, esportes, música, etc. Se não trabalharmos no sentido de fazermos com que eles gostem do ambiente escolar e se interessem pelos ensinamentos que oferecemos, o resultado se torna muito frustrante para todos. E, neste ambiente, as metodologias que usamos para ensinar se tornam ponto chave na solução ou minimização do problema.
Há não muito tempo atrás, quem saia da universidade dominava em grande parte os conhecimentos necessários à prática profissional e já tinha quase que assegurado um emprego no mercado de trabalho. Este cenário se alterou drasticamente nos últimos tempos e ouso dizer que, hoje em dia, um curso superior apenas dá aos formados conhecimentos básicos ao exercício profissional (quando se consegue uma vaga no mundo do trabalho! ), sendo o restante adquirido com a prática e através de formação continuada, ou seja, cursos de especialização, aperfeiçoamento e muito estudo individual.
O mundo moderno nos indica algumas estratégias interessantes que podem ser usadas em sala de aula e que nos possibilitam algum sucesso, já comprovado, na árdua tarefa de ensinar. Vamos fazer um pequeno exercício e verificar se as usamos em nosso dia-a-dia escolar. Realizamos trabalhos interdisciplinares com nossos colegas professores de outras matérias? Envolvemos os alunos com projetos em sala de aula ou ainda somos adeptos da tradicional metodologia do “cuspe e giz”? Motivamos nossos alunos com atividades lúdicas e prazerosas ou ainda usamos o tradicional “ditar e copiar”? Trazemos situações interessantes do cotidiano para dentro da sala de aula, de forma a contextualizar nossos ensinamentos? Usamos a tecnologia da informação como nossa aliada na educação de nossos alunos? Nos preocupamos com a formação integral de nossos alunos ou apenas em ensinar o conteúdo de nossa disciplina? Acompanhamos teorias científicas mais modernas e as colocamos em prática de alguma forma? O vestibular tradicional, da forma como conhecemos hoje, está prestes a morrer. Estamos preparados para ensinar nossos jovens de outra forma, de um modo que não privilegie a memorização de conteúdos e sim o raciocínio ?
Existem outras tantas questões a serem colocadas, mas podemos parar por aqui. Se você que agora lê esta matéria é professor e respondeu NÃO a pelo menos uma das perguntas anteriores, saiba que muito possivelmente está defasado em relação às suas práticas escolares. E isto nos remete à segunda questão: por que relutamos tanto em aceitar este fato? Esta pergunta é bem mais complexa que a primeira e a melhor resposta para ela talvez se baseie na angústia que todos nós sentimos por não dominarmos todos os conteúdos da nossa própria área de atuação, por não conseguirmos acompanhar a urgência do mundo moderno e também por concluirmos que as nossas aulas de ontem já não podem ser repetidas da mesma forma hoje, pois alguma coisa no mundo já mudou neste pequeno espaço de tempo.
Estarmos defasados em nossas práticas pedagógicas não é nenhum crime, não é vergonhoso e nem humilhante, tampouco descredencia as pessoas ligadas à educação. Muito pelo contrário, torna-se imprescindível percebermos que isto acontece (e cada vez mais rápido e de forma cada vez mais brutal) com cada um de nós, que temos o nobre papel de ensinar, transmitir conhecimentos e, principalmente, formar pessoas para a vida, cidadãos verdadeiros. Entretanto, também estou certo de que aceitar esta situação e, principalmente, sair de uma possível zona de conforto e se movimentar para evitar que a obsolescência aconteça (ou pelo menos, tentar minimizar os seus efeitos) já é um bom primeiro passo para se tentar reverter este quadro.